No Dia da Independência, celebramos a dependência

Há exa­tos dois anos, escre­vi uma pas­to­ral inti­tu­la­da “Menos ide­o­lo­gia e mais teo­lo­gia”, ten­do como pano de fun­do o con­tex­to da inde­pen­dên­cia do Bra­sil e se era pos­sí­vel cele­brar nos­sa nação.

No tex­to de 2019, rela­tei que mui­tos ana­lis­tas econô­mi­cos cons­ta­ta­vam que está­va­mos enfren­tan­do mais uma reces­são econô­mi­ca, com milhões de pes­so­as desem­pre­ga­das e a desi­gual­da­de soci­al cada dia mais acen­tu­a­da. Outro fenô­me­no pre­sen­te àque­la altu­ra era a pola­ri­za­ção polí­ti­ca, gera­do­ra de um cli­ma de cons­tan­te ten­são entre as pes­so­as e os mais dife­ren­tes grupos.

Des­ta­quei que a con­sequên­cia natu­ral daque­la pola­ri­za­ção eram os extre­mis­mos. Num cená­rio de pola­ri­za­ção gene­ra­li­za­da, as pes­so­as, para defen­der sua ide­o­lo­gia e seu pon­to de vis­ta, par­tem para a agres­são, a des­mo­ra­li­za­ção, a men­ti­ra, e rom­pem rela­ci­o­na­men­tos e laços por cau­sa de um ideá­rio que jul­gam ser supe­ri­or aos outros.

Pas­sa­dos dois anos, vejo que esse cená­rio não é mais o mes­mo. Na ver­da­de, ele se agra­vou, inclu­si­ve e espe­ci­al­men­te por con­ta da pan­de­mia que esta­mos atra­ves­san­do. O qua­dro pan­dê­mi­co poten­ci­a­li­zou a pola­ri­za­ção ide­o­ló­gi­co-par­ti­dá­ria, e assis­ti­mos de manei­ra estar­re­ce­do­ra os gover­nan­tes poli­ti­zan­do o vírus, as mor­tes e a vaci­na. Esse qua­dro soci­al, polí­ti­co e econô­mi­co acen­tu­ou as desi­gual­da­des: quem era rico ficou mais rico e quem era pobre empo­bre­ceu ain­da mais.

Infe­liz­men­te, a meu ver, assim como em 2019, não tere­mos mui­to o que cele­brar nes­te dia 7 de setem­bro, pois nos­sa nação ago­ni­za, sofre e pade­ce. Vive­mos tem­pos difí­ceis no Bra­sil, onde mui­tos dos nos­sos gover­nan­tes, boa par­te da impren­sa, o mer­ca­do finan­cei­ro e a soci­e­da­de de manei­ra geral vivem com base em nar­ra­ti­vas tra­ves­ti­das de ver­da­de, que mani­pu­lam e indu­zem espe­ci­al­men­te os mais sim­ples, os mais des­fa­vo­re­ci­dos, os que mais pre­ci­sam de jus­ti­ça, trans­for­man­do o povo, ou gran­de par­te dele, em mas­sa de mano­bra a ser­vi­ço de inte­res­ses escusos.

Assim, tam­bém como em 2019, fico me per­gun­tan­do a res­pei­to do papel da Igre­ja nis­so tudo, pois ela deve­ria ser o fiel da balan­ça. A Igre­ja e os que a com­põem deve­ri­am, por con­ta dos valo­res e prin­cí­pi­os que pre­gam, indig­nar-se, enver­go­nhar-se, e nun­ca ser coni­ven­te com qual­quer ideá­rio que aten­te con­tra a demo­cra­cia, a jus­ti­ça, a paz e a alegria.

Con­tu­do, con­ti­nuo cren­do que, a des­pei­to das suas limi­ta­ções e de seus equí­vo­cos, a Igre­ja, isto é, nós deve­mos e pode­mos fazer a dife­ren­ça. Pri­mei­ro, oran­do inces­san­te­men­te por nos­so país, em espe­ci­al por nos­sas auto­ri­da­des; segun­do, per­mi­tin­do que dia a dia o Senhor mol­de nos­so cará­ter, e que essa mudan­ça seja tes­te­mu­nha­da por nos­sas ati­tu­des e pala­vras, para que outras pes­so­as tam­bém sejam trans­for­ma­das pelo poder da cruz. Assim, quem sabe, tere­mos moti­vos para fes­te­jar o Dia da Inde­pen­dên­cia no ano que vem. Nes­te 7 de setem­bro de 2021, o que pode­mos cele­brar é o fato de que, ape­sar de todo esse cená­rio catas­tró­fi­co, nos­sa depen­dên­cia e con­fi­an­ça estão no Senhor, que nun­ca nos desam­pa­ra, nun­ca nos mani­pu­la, nun­ca nos explo­ra e sem­pre nos sus­ten­ta, liber­ta e abençoa.

Do ami­go e pastor,

Pr Tiago Valentim

Tia­go Valentin

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