Pare de ferir as pessoas

José e Seus Irmãos”, por Avi Ezra

Há uma máxi­ma uti­li­za­da no cam­po da cura d’alma que afir­ma que “uma pes­soa feri­da ine­vi­ta­vel­men­te vai ferir outras pes­so­as”. Quem conhe­ce um pou­co de psi­co­lo­gia sabe que essa área do conhe­ci­men­to que envol­ve a saú­de huma­na asse­gu­ra que pes­so­as trau­ma­ti­za­das tam­bém são pro­pen­sas a pro­mo­ver trau­mas. Por­tan­to, seja no cam­po da espi­ri­tu­a­li­da­de ou das emo­ções, pode­mos con­cluir que quem está enfer­mo pre­ci­sa de cura para não enfer­mar quem está à sua volta.

Uma pas­sa­gem bíbli­ca que ilus­tra mui­to bem essa con­di­ção huma­na é a his­tó­ria de José do Egi­to. O livro de Gêne­sis nos reve­la que Jacó tinha uma cla­ra pre­fe­rên­cia por seu filho José, em detri­men­to de seus outros filhos. Esse ambi­en­te fami­li­ar gerou mágo­as e feri­das nos irmãos de José. Estes, sem saber como lidar com a ira, a rai­va e a inve­ja que viven­ci­a­vam, trans­for­ma­ram esses sen­ti­men­tos num pla­no ardi­lo­so e trá­gi­co para se livrar de José.

Den­tre tan­tos male­fí­ci­os que a fal­ta de cura da mágoa e das feri­das psi­co­es­pi­ri­tu­ais pode gerar está a ceguei­ra da razão. Os 12 irmãos de José tinham um obje­ti­vo cla­ro: atin­gir seu irmão para ferir seu pai em res­pos­ta às feri­das de que eles mes­mos foram víti­mas. Con­tu­do, não se tra­tou ape­nas de um sus­to ou de uma brin­ca­dei­ra de mau gos­to entre irmãos. José aca­bou sen­do de fato ven­di­do como escra­vo. Per­ce­ba a des­pro­por­ção na ati­tu­de dos irmãos, pois quem está feri­do sem­pre bus­ca­rá extra­va­sar sua dor geran­do uma dor ain­da mai­or no outro.

Eis então que, mui­tos anos depois da exe­cu­ção daque­le tene­bro­so pla­no, os irmãos de José esta­vam dian­te dele, pedin­do socor­ro. A his­tó­ria nos dá uma cla­ra sen­sa­ção de que há um con­fli­to inter­no em José. Seus irmãos não o reco­nhe­ce­ram e José não se reve­lou a eles. Esta­ria ele pen­san­do em como se vin­gar de seus irmãos? Afi­nal, José havia sido tre­men­da­men­te feri­do por eles e essa era a sua chan­ce de dar con­ti­nui­da­de ao ciclo de dores, mágo­as e feridas.

Con­tu­do, como bem sabe­mos, entre idas e vin­das José se reve­lou a seus irmãos, per­do­ou-os e aco­lheu sua famí­lia e seu povo, aben­ço­an­do-os com as melho­res ter­ras do Egi­to. Ao que pare­ce, em algum momen­to de sua tra­je­tó­ria José deci­diu abrir mão da dor gera­da por seus irmãos, per­mi­tiu que o Senhor curas­se suas feri­das e seguiu em frente.

Gos­to de pen­sar que, sozi­nho, numa madru­ga­da fria e úmi­da no cala­bou­ço da pri­são loca­li­za­da na peri­fe­ria de cida­de, José deu um pas­so de fé e sus­sur­rou para Deus: “Senhor, eu sei que estás comi­go, sei que Tu não me aban­do­nas e, por isso, Te peço: sara minhas feri­das! Não que­ro mais que esse sen­ti­men­to de ódio e vin­gan­ça que tenho por meus irmãos con­ti­nue a me cor­ro­er. Tem mise­ri­cór­dia de mim!”. Uma das expres­sões mais cons­tan­tes na his­tó­ria de José, a qual se repe­te diver­sas vezes nos capí­tu­los que rela­tam sua vida no livro de Gêne­sis, é: “O Senhor era com ele”!

Meu con­vi­te, caro(a) leitor(a), é que você abra mão da sua dor, das suas mágo­as, e per­mi­ta que o Senhor cure suas feri­das. Tal­vez você nem per­ce­ba, mas suas feri­das aber­tas o(a) levam, mes­mo que incons­ci­en­te­men­te, a ferir outras pessoas.

Há uma fra­se que sin­te­ti­za mui­to bem isso: “A fal­ta de per­dão e a vin­gan­ça são o mes­mo que tomar um copo de vene­no dese­jan­do que o outro mor­ra enve­ne­na­do”. A úni­ca for­ma de parar de ferir as pes­so­as é reco­nhe­cer e olhar para suas pró­pri­as feri­das e dei­xar que o Senhor as cure.

Do ami­go e pastor,

Pr Tiago Valentim

Tia­go Valentin

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