O dia que o Diabo pregou.

Arre­da, Sata­nás! Tu és para mim pedra de tro­pe­ço, por­que não cogi­tas das coi­sas de Deus, e sim das dos homens. (Mateus 16.23)

E se fos­se con­ce­di­da ao dia­bo a opor­tu­ni­da­de de subir ao púl­pi­to e pre­gar um ser­mão? Sobre o que ver­sa­ria a sua men­sa­gem? Obvi­a­men­te ele não fala­ria que esta­ria fun­dan­do uma nova “igre­ja” com o seu nome para arre­ba­nhar gen­te, pois ele pode ser estú­pi­do, mas não ao pon­to de afu­gen­tar as pes­so­as que ele dese­ja se apro­xi­mar. É mais prá­ti­co entrar na sea­ra dos fiéis e pre­gar um “Deus” que não exis­te, expor um simu­la­cro do Eter­no e um Jesus que vai além das Escri­tu­ras. Com isso ele seme­a­ria o joio em meio ao tri­go, por saber mui­to bem que a men­ti­ra mais des­tru­ti­va é aque­la que mais se pare­ce com a verdade.

Que tex­to bíbli­co ele usa­ria? Com cer­te­za fugi­ria do tre­men­do dra­ma huma­no exis­ten­te no livro de Jó, tam­bém nada teria a dizer sobre o amor deli­ca­do pre­sen­te em Can­ta­res de Salo­mão, se cala­ria dian­te do rea­lis­mo exis­ten­ci­al de Ecle­si­as­tes, mas pin­ça­ria algum rela­to sobre um per­so­na­gem herói­co da bíblia, muda­ria a pro­pos­ta ori­gi­nal do tex­to, e trans­po­ria pura e sim­ples­men­te para os dias atu­ais, pas­san­do por cima das mais ele­men­ta­res regras da boa her­me­nêu­ti­ca bíblica.

Creio que sua men­sa­gem ver­sa­ria sobre as neces­si­da­des do homem que pre­ci­sam ser supri­das. Sim, o dia­bo está mui­to inte­res­sa­do em “suprir”, em ofe­re­cer uma solu­ção, em apre­sen­tar um ata­lho, em todas aque­las situ­a­ções que a peda­go­gia divi­na pre­ten­de nos ensi­nar, seja pela soli­dão, ou pelo deser­to, pela dis­ci­pli­na, e até mes­mo pela dor.

Então, um ser­mão “dia­bó­li­co” seria mais ou menos assim:

Carís­si­mos irmãos (arghhh):

Vocês pre­ci­sam parar de pedir e come­çar a deter­mi­nar as coi­sas para Deus. Encur­ra­lem o Eter­no con­tra a pare­de, e exi­jam a par­te que lhes cabe no Reino.

Não acei­tem mais a doen­ça em suas vidas. Você não nas­ceu são? Você não nas­ceu per­fei­to? Pois então não acei­te nada, mes­mo aque­las enfer­mi­da­des que são con­tin­gen­tes da situ­a­ção huma­na, e revol­te-se con­tra Deus quan­do elas che­ga­rem. Se Pau­lo acei­tou com resig­na­ção aque­le “espi­nho na car­ne”, faça Deus saber que com você não será assim.

Os títu­los são mui­to impor­tan­tes para que o mun­do reco­nhe­ça vocês. Quem pode ser algu­ma coi­sa na vida sen­do cha­ma­do de ser­vo? Ten­te o títu­lo de mis­si­o­ná­rio ou evan­ge­lis­ta para come­çar, depois pas­se para pas­tor, mas não fique mui­to tem­po, pois já exis­tem mui­tos por aí. Se na sua deno­mi­na­ção você não con­se­guir subir, fun­de a sua pró­pria e peça para ungi-lo “após­to­lo”. Isso é irre­sis­tí­vel e logo have­rá uma mul­ti­dão de pes­so­as que­ren­do tocar nes­se homem de Deus. O povo gos­ta dis­so. Se for casa­do, con­ce­da à sua espo­sa a hon­ra de ser “bis­pa”, mes­mo que ela não fale coi­sa com coi­sa. O impor­tan­te é que per­ce­bam que a sua famí­lia é ungida.

Tam­bém é hora de come­çar a exi­gir o melhor. Nada de pedir uma casi­nha sim­ples para morar ou um car­ro usa­do. Vá a uma con­ces­si­o­ná­ria, esco­lha o mode­lo que mais lhe agra­da, dê sete vol­tas em tor­no dele e deter­mi­ne que será seu. Vamos dei­xar de pen­sar peque­no. Se Davi dizia que não anda­va “à pro­cu­ra de gran­des coi­sas, nem de coi­sas mara­vi­lho­sas demais” para si (Sl 131.1), isso era pen­sa­men­to dele, mas com você não será assim.

Dis­se­ram que eu vim pre­gar um “outro evan­ge­lho” (Gl 1.8). Na ver­da­de estou pen­san­do no bem-estar de vocês, eu que­ro o melhor para cada um. Eu só dese­jo lhes ofe­re­cer uma qua­li­da­de de vida sem gran­des pro­va­ções. Eu não tenho cul­pa se Jesus não acei­tou as pro­pos­tas que lhe fiz. Que mal há em pedir que pedras sejam trans­for­ma­das em pães? Afi­nal, há tan­ta gen­te famin­ta no mun­do… Que mal há em ofe­re­cer os rei­nos e a gló­ria des­te mun­do para alguém? Eu vim para faci­li­tar, sou prag­má­ti­co. Se eu pos­so resol­ver as coi­sas de for­ma rápi­da, com um sim­ples ritu­al ou com uma ofer­ta, por­que demorar?

Jesus no ini­cio pre­ga­va às mul­ti­dões, mas depois Ele come­çou a fazer duros dis­cur­sos (Jo 6.60) e não sou­be segu­rar aque­la gen­te toda. Eu jamais per­mi­ti­ria eles irem embo­ra, por­que eu dou o que eles dese­jam: que­rem pros­pe­ri­da­de, saú­de o tem­po todo e que o céu aqui na ter­ra? Eu lhes dou.

Ago­ra, para ter­mi­nar, uma dica aos que gos­tam de pre­gar de for­ma inci­si­va como eu: ao subir ao púl­pi­to, não é pre­ci­so ter uma men­sa­gem pre­pa­ra­da, pois eu darei uma a vocês. Gri­tem mui­to, ges­ti­cu­lem, apon­tem o dedo, ame­a­cem, pro­fe­ti­zem algu­ma coi­sa e digam ao povo que você pisa na minha cabe­ça. Se alguém ousar des­mas­ca­rá-lo, ameace‑o, expo­nha a pes­soa à fren­te de todos e diga que ela pos­sui um espí­ri­to malig­no. Fun­ci­o­na sem­pre, e nun­ca mais irão ques­ti­o­ná-lo. Quem tem ouvi­dos para me ouvir, ouça”.

Bem, tal­vez você já tenha escu­ta­do pre­ga­ções assim em algum lugar, mas não sabia de onde vinha a ins­pi­ra­ção. Ago­ra você sabe. O dia­bo detes­ta her­me­nêu­ti­ca que é a inter­pre­ta­ção cor­re­ta dos tex­tos: ele detur­pou a ordem que Deus deu no Éden, e fez uma hor­rí­vel exe­ge­se do Sal­mo 91 ao ten­tar Jesus no deser­to. Cer­ta vez alguém afir­mou com pro­pri­e­da­de que “as pala­vras de Deus mal inter­pre­ta­das são pala­vras do dia­bo”. Con­cor­do plenamente!

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

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