Em busca da sabedoria perdida

Sabe­do­ria se mede, não pela quan­ti­da­de de situ­a­ções vivi­das, mas o que se fez com essas expe­ri­ên­ci­as no decor­rer da vida. Mui­ta gen­te pas­sa lite­ral­men­te pela vida, e não apren­deu nada, não viu nada, não se aper­ce­beu de nada.

Como diz o psi­qui­a­tra Augus­to Cury: “Há jovens que são velhos, pois são enges­sa­dos e rígi­dos inte­lec­tu­al­men­te. Há velhos que são jovens, pois são livres e estão sem­pre dis­pos­tos a apren­der”. Sim, há jovens que pas­sam pela vida como velhos can­sa­dos e sem­pre enfas­ti­a­dos, fecha­dos em si mes­mos, infe­li­zes não se sabe exa­ta­men­te com o que, e mui­to pou­co aber­tos a apren­der. E há velhos que man­têm a jovi­a­li­da­de, o lam­pe­jo no ros­to e a men­te aber­ta para rece­ber o novo a cada manhã.

Creio que essa dife­ren­ça de pos­tu­ra está no dese­jo de apren­der, na male­a­bi­li­da­de da alma, no per­mi­tir-se errar. Só quem se colo­ca na posi­ção de um eter­no dis­cí­pu­lo pode cres­cer. Sábio não é alguém que che­gou a algum lugar, mas que reco­nhe­ce ser um caminhante.

Infe­liz­men­te vive­mos uma gera­ção de cris­tãos que pou­co refle­tem, que não exa­mi­nam deti­da­men­te as coi­sas, que bus­cam res­pos­tas padro­ni­za­das, e vivem atrás de faci­li­da­des para suas vidas. Não é difí­cil ouvir alguém oran­do: “Senhor, me faci­li­ta isso, Senhor, me faci­li­ta aqui­lo”. Che­ga a ser engra­ça­do: agi­mos sem refle­tir, não bus­ca­mos con­se­lhos, nos mete­mos em con­fu­são, e depois espe­ra­mos que Deus que­bre as leis natu­rais, pare a rota­ção da Ter­ra e segu­re o sol, só para tirar-nos da con­fu­são em que nos mete­mos. Deus se tor­na, então, o nos­so gran­de “que­bra­dor-de-galhos”, que é bus­ca­do somen­te “a pos­te­ri­o­ri” para resol­ver o problema.

Fre­quen­te­men­te sou abor­da­do com per­gun­tas e ques­ti­o­na­men­tos. Se eu per­ce­bo que o inter­lo­cu­tor dese­ja ape­nas uma “res­pos­ta fácil” e não um enten­di­men­to mai­or, despeço‑o com algum ver­sí­cu­lo bíbli­co. Se eu fos­se padre tal­vez dis­ses­se: “reza um pai-nos­so e três ave-maria”. Não adi­an­ta­ria me apro­fun­dar, pois não é isso que ele está bus­can­do. Mas se per­ce­bo uma pes­soa seden­ta, que­ren­do encon­trar algo mais do que uma res­pos­ta, então eu pos­so dizer: “sen­te-se aqui, meu irmão, vamos con­ver­sar”. Pare­ce-me que a mai­o­ria das pes­so­as não bus­ca sabe­do­ria, mas somen­te solu­ções indo­lo­res para seus dile­mas. Não que­rem saber da cau­sa da “dor de cabe­ça”, só estão inte­res­sa­das na aspi­ri­na que ali­via a dor momentaneamente.

Não se pode sepa­rar vida espi­ri­tu­al da vida exis­ten­ci­al. Mui­tas vezes ima­gi­na-se que espi­ri­tu­a­li­da­de se resu­me em ir à igre­ja, orar, e can­tar… e dei­xa-se a “exis­tên­cia” de lado. Temos, então, um cris­tão que pode ter um cora­ção­zi­nho bom, mas quan­do ele age na vida, é um desas­tra­do! Vida cris­tã não é só ter o con­cei­to cer­to, mas bus­car a exis­tên­cia correta.

Sabe­do­ria não é quan­ti­da­de de diplo­mas, não são cur­sos rea­li­za­dos. A sabe­do­ria tem sua base naqui­lo que rece­be­mos de Deus. É aque­le enten­di­men­to que agu­ça a sen­si­bi­li­da­de. Ter sabe­do­ria é ser sen­sí­vel: sen­si­bi­li­da­de do mun­do inte­ri­or e aber­tu­ra exte­ri­or. Ter sabe­do­ria é abrir a alma e todos os sen­ti­dos, é ter per­cep­ção do que acon­te­ce den­tro de si e à sua vol­ta. Quem tem sabe­do­ria jamais será um ali­e­na­do de si mes­mo, do mun­do e das coi­sas do seu tempo.

Sabe­do­ria é uma qua­li­da­de divi­na, da qual o homem pode par­ti­ci­par medi­an­te a ilu­mi­na­ção que o Espí­ri­to San­to traz. Sabe­do­ria é dis­cer­ni­men­to que vem do Alto, é aber­tu­ra dos olhos, da men­te e da intui­ção; é a capa­ci­da­de de viver bem, de resol­ver pro­ble­mas, de enten­der o outro.

O livro de Pro­vér­bi­os, falan­do acer­ca da Sabe­do­ria, afir­ma: “o que me acha, acha a vida e alcan­ça o favor do Senhor”, mas logo em segui­da faz uma adver­tên­cia: “Mas o que peca con­tra mim, vio­len­ta a pró­pria alma. Todos os que me abor­re­cem amam a mor­te” (Pv 8.35–36).

Por­tan­to, “Se alguém neces­si­ta de sabe­do­ria, peça‑a a Deus, que a todos dá libe­ral­men­te, e ser-lhe‑á con­ce­di­da “ (Tg 1.5). Sim, Senhor, nós que­re­mos. Dá-nos des­sa Sabedoria!

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

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