Já repararam que há orações que parece que Deus ainda não respondeu, e que estão pendentes, em algum lugar do céu, aguardando solução? Já perceberam que há certos pedidos que fazemos ao Senhor, pedidos esses tão sinceros, tão justificáveis, que ficamos pasmos porque Deus ainda não nos concedeu?
Sim, eu sempre tive essa sensação e ficava esperando ansiosamente a resposta que desejava. Confesso que às vezes me sentia como o menino do “Esqueceram de Mim”. Mas estava enganado. Deus sempre nos dá uma resposta. Mas, é bom que se diga: à Sua maneira!
E o que isso, exatamente, significa? Significa que pode haver um propósito do Senhor naquelas respostas que nos parecem paradoxalmente contraditórias com aquilo que insistentemente intercedemos.
Quantas vezes pedimos à Deus mais paciência, serenidade, uma capacidade de suportar melhor as provações – e o que recebemos? Uma dificuldade inesperada ou uma acidente, que nos deixa inertes numa cama por semanas, ou ainda um longo período sem recursos financeiros.
Porventura Deus não nos ouviu naquilo que pedimos? Com certeza, sim, e justamente por isso, Ele nos dá a oportunidade única de desenvolver a serenidade em meio à tempestade. Ou seja, a resposta veio através do infortúnio.
Quantas vezes, como cristãos, oramos a Deus por maior poder, pedimos que os demônios se nos submetam, pedimos que de nossas mãos fluam virtude para curar, e o que percebemos, com profunda decepção, é que na comunidade onde servimos, somos subitamente relegados a um segundo plano, ou então, somos chamados a uma tarefa que não queríamos fazer, ou ainda, uma desavença eclode justamente com quem mais amamos.
Como interpretar tal situação, como uma possível resposta dos céus às nossas orações e aos nossos desejos mais profundos? Deus quer primeiro nos provar, Ele quer ver se você é digno, se você sustenta seus propósitos em meio à humilhação, ao vazio e à falta de sentido das coisas. Foi o que aconteceu com o rei Ezequias: “Deus o desamparou para prová-lo e fazê-lo conhecer tudo o que lhe estava no coração” (2Cr 32.31).
O apóstolo Paulo confessa aos gálatas que “pregou o evangelho a primeira vez por causa de uma enfermidade física” (Gl 4.13), e não porque ele estava transbordante de saúde e nem de espiritualidade. E constantemente lhe sobrevinham lutas sem fim, “temores por dentro e tremores por fora”. Vejam quantas debilidades em meio a um desejo muito grande em servir ao Rei. É como se o Senhor perguntasse:
1) Queres me servir à despeito de?
2) És capaz de passar por humilhações e não ter nada para se apoiar?
3) Amas-me mesmo se você não for exaltado perante os homens?
4) Aceitas caminhar sozinho e de mãos vazias?
Quando pedimos a Deus poder, Ele quer que primeiro nos esvaziemos. O Senhor não concede poder para quem está cheio de si mesmo, cheio de certezas, cheio de convicções. Não podemos nunca esquecer que “o poder se aperfeiçoa na fraqueza”. Sim, o Senhor quer nos dar poder, mas esse poder só pode nascer quando morremos para nós mesmos.
Quantas vezes, como cristãos, pedimos ao Senhor paz e harmonia em nosso lar, pedimos a conversão de nossos filhos, a transformação do cônjuge.… Será que não estamos orando corretamente? Não estamos jejuando o suficiente? Ou Deus esqueceu-se de nossa causa? Mas a Bíblia nos dá certeza que Ele já nos ouviu: “desde o primeiro dia em que aplicaste o coração a compreender e a humilhar-te perante o teu Deus, foram ouvidas as tuas palavras” (Dn 10.12).
Talvez precisemos desviar o nosso olhar daqueles que esperamos grandes mudanças, e focar os olhos em nossa vida. Normalmente insistimos para que Deus mude o mundo, mas nos recusamos a mudar pequenos hábitos em nós. Pedimos a Deus para curar um vício do marido que já dura toda uma vida, mas não estamos dispostos mudar posturas problemáticas tão arraigadas em nós. Talvez o Senhor esteja nos dizendo: “Filho, o mais importante não é a obra que eu quero fazer através de você, mas aquela que estou fazendo em você!”.
Antes de mudar ao outro, o Senhor quer mudar a nós. Há filhos que ao chegarem em casa nunca encontram um sorriso ou uma palavra de elogio da mãe crente que tanto orou por eles naquele dia.
Possivelmente até estejamos orando errado. Por isso, nossa oração sempre deveria começar assim: “Senhor, diante de toda problemática que estou enfrentando, comece a mudança em mim, e que eu seja capaz de perceber a Tua resposta no dia a dia de minha vida, principalmente quando essas respostas vêm de uma forma que não me agrado delas. Amém”.
Pr. Daniel Rocha