Talvez você, assim como eu, tenha estabelecido diálogos ou, quem sabe, discussões sobre política com diversas pessoas no mês passado. Entre os muitos absurdos que ouvi, um dos que mais me chocaram foi a ideia que se expressou em diferentes formatos de que o Brasil não tem mais jeito e que, portanto, votar não resolveria nada. Triste pensamento!
Compreendo a frustração, a decepção e o desencanto de muitas pessoas com a política, ou com o sistema político. É fato que estava e está difícil esperar avanços significativos. Contudo, para nós cristãos, não deveria ser tão difícil assim acreditar que as coisas podem melhorar e que de fato podemos, sim, viver num país mais justo, igualitário e pacífico.
Digo isso porque nós cristãos cremos em algo ainda mais complexo, que é o Reino de Deus. Particularmente, acho muito raso para os cristãos ficarem discutindo se é a ideologia de esquerda ou a de direta que vai melhorar o Brasil, ou se a solução está no capitalismo ou no socialismo. Até porque quem entra nessas discussões em geral nem sabe exatamente do que está falando; é gente que usa “fascismo” e “leninismo” como se fosse vírgula.
Com base na pregação do único homem que não nos frustra com Suas promessas, que é Jesus, nós cristãos somos desafiados a crer em algo que os analistas políticos classificariam como utopia. O Evangelho nos anuncia e nos proporciona uma salvação integral, transformadora e irreversível, um sentimento, uma convicção, um modo de viver e encarar a vida que nos colocam no céu antes de irmos para lá. Nas palavras do apóstolo Paulo, um Reino de plena paz, justiça e alegria (Rm 14:17). Sim, uma utopia que nos impõe um requisito indispensável para crer que será possível: a fé.
A solução para o Brasil não é necessariamente um governo dirigido por evangélicos – e muito menos uma teocracia. A resposta, na verdade, está no comprometimento de homens e mulheres em pregar e praticar os valores do Reino de Deus. Ao anunciarmos e vivenciarmos individualmente e comunitariamente esse padrão de relações pessoais e institucionais, promovemos inevitavelmente um ambiente mais justo, igualitário e pacífico.
Pior do que a corrupção do sistema político é a omissão da Igreja. Devemos exercer nossa cidadania na hora do voto, mas também diariamente. Na perspectiva do Evangelho, nós cristãos, antes de sermos cidadãos brasileiros, somos cidadãos do Reino de Deus. Se queremos contribuir efetivamente para mudar o Brasil, não podemos depositar toda nossa esperança no sistema político nem projetar nossas expectativas para as eleições de daqui a dois ou quatro anos. Precisamos sim começar a viver e praticar hoje o que Jesus nos ensinou. Por mais utópico que possa parecer, é nisso que nós acreditamos: num Reino de paz, justiça e alegria sinalizado e consolidado dia a dia por nós cristãos.
Se você não crê nisso, certamente ainda não recebeu o Evangelho de verdade ou não crê nele com a fé necessária.
Do amigo e pastor,
Rev. Tiago Valentin