Há duas décadas não havia tanta facilidade para se comer um lanche rápido, ou um “fast food”, como se fala hoje.Hoje os tempos são outros.Todo mundo tem pressa, tem atividades que não podem esperar.Por isso espalhou-se pelo país casas que prometem fazer um lanche rápido, em poucos segundos.Eles são extremamente macios para não ter de mastigar muito.Eles são leves para que a pessoa logo após comê-lo possa sair rapidamente e continuar seus afazeres.Se não alimentam bem, pelo menos “enganam” a fome, e o cliente sai satisfeito.
Não por acaso, essa mesma expressão cultural adentrou a vida da igreja.É o McCrente.Ele também tem pressa.Pressa em receber as bênçãos, pressa em ser atendido nas orações, pressa em alcançar as facilidades do Reino.Para o McCrente, buscar a maturidade não é uma prioridade.A palavra-chave é “desfrutar”.Desfrutar imediatamente o gozo espiritual.Afinal, ele tem direitos, ele é filho do Rei.Ele conhece algumas promessas bíblicas e as reivindica em sua vida, às vezes sem se dar conta que muitas vezes não está vivenciando as premissas básicas do evangelho.Gastar tempo com Deus? Buscar na Palavra o direcionamento para a vida e aguardar no Senhor a Sua vontade? Não! Aguardar pacientemente o tempo do Senhor, o “kairós” de Deus para sua vida? Também não.
No passado os cristãos, diante de uma situação de profunda dúvida ou agonia, passavam longos períodos em oração, em contrição, buscando ouvir a voz de Deus, meditando na Palavra, procurando descobrir a boa, perfeita e agradável vontade do Senhor.Hoje, esse processo é rejeitado — todo o tempo gasto nessa angustiosa busca da vontade divina pode ser obtido em alguma forma de revelação que não deixe margem à dúvidas.
Os cristãos dos primeiros séculos, diante de algum pecado que tenazmente os assediavam, reconheciam suas fraquezas e procuravam com grande luta submeter-se a uma disciplina diária para que o pecado não alcançasse vantagem sobre eles.Hoje, não.Em primeiro lugar, não se admite mais a culpa como “sua” — deve ser culpa de “algum espírito”.Ele também não está disposto ao sacrifício da autodisciplina, pois já que a culpa não é sua, basta a ele “ordenar” aos espíritos para que saiam.
O McCrente não aceita também a provação, nem o seu caráter purificador.Da mesma forma ele tem dificuldades em lidar com a frustração e por isso não aceita eventuais derrotas na vida — ele só quer as vitórias.Fico pensando como Deus vai forjar um caráter firme em alguém que não aceita aprender com pequenas derrotas hoje para que possa obter vitórias amanhã.
O McCrente normalmente comporta-se como uma criança mimada.Ele quer tudo fácil e na hora.Deus concede a bênção, mas ele não está disposto a arcar com os custos dessa bênção.É como o povo hebreu quando recebeu o relatório dos espias — “lá tem heteu, jebuseu, cananeu…e somos como gafanhotos perto deles”.O povo ficou desesperado, e a chorar, e a reclamar.Quer a bênção, mas não quer expulsar com luta os inimigos que querem se apoderar dela.
O McCrente não gosta do silêncio, da meditação, da contemplação.Isso é visto como algo dispensável, ou até mesmo “inútil” na vida cristã.Por outro lado, ele se empolga com tudo que é aparatoso, grandioso.Ele necessita disso.Obviamente ele não está interessado em comida substancial, mas algo que seja facilmente digerível.Como sua fé é superficial ele não suporta o silêncio divino, aquele silêncio que o Senhor tanto fez aos salmistas, para eles desenvolverem a paciência e a certeza que mesmo na noite fria e escura Deus estava com eles.
No passado o “crer” era o que dava sentido à vida cristã — “o justo viverá pela fé”.Bastava-lhes crer na Palavra, crer nas promessas, crer na presença divina caminhando junto a eles.Na cultura do McCrente, não é o crer que está no centro, mas o “sentir”.É necessário sentir, buscar sensações cada vez mais fortes.Nem é preciso dizer o quanto isso se afasta da simplicidade da fé na Palavra.
Da mesma forma que quem só como refeições rápidas pode acabar adoecendo, e até mesmo morrendo, nós crentes precisamos nos dar conta dessa visão superficial que tomou conta da Igreja de Cristo.Que Deus nos livre dessa cultura.
Pr.Daniel Rocha