Um dos maiores perigos que enfrentamos como cristãos é o bombardeio de relativismos que sofremos o tempo todo. Num único dia, são inúmeras as ideias, propostas e convites que tentam nos levar a fazer escolhas que contrariam nossos valores e nossa fé. Essa relativização se dá de maneira muito sutil, quase imperceptível, por meio dos chamados sofismas, que são meias verdades, ou mentiras disfarçadas de verdade.
A Bíblia nos apresenta um episódio clássico de sofisma. No capítulo 16 de Atos dos Apóstolos, nos versículos 16 a 21, encontra-se o relato da cura de uma jovem adivinhadora. Tratava-se de uma menina possessa por um demônio que adivinhava coisas presentes ou futuras. Essa menina era dominada e explorada por senhores que lucravam com o seu “dom”. Quando Paulo e seus companheiros de viajem foram encontrar-se com outros irmãos para orar, essa jovem os encontrou no meio do caminho e declarou: “Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo” (Atos 16:17). E eu lhe pergunto: a jovem falou alguma inverdade? Claro que não. De fato, aqueles homens faziam e eram exatamente o que ela dizia. Contudo, quem falava não era a jovem, mas um demônio por meio dela. Pois é, um lobo com pele de cordeiro anunciando uma suposta verdade. Contudo, as palavras não condiziam com a essência de quem falava. Uma frase a princípio legítima e carregada de carisma, mas sem nenhum caráter.
Outro exemplo é o que costumamos ouvir no nosso dia a dia: “O importante é ser feliz, realizado, e fazer o que se quer, independentemente do que os outros pensam”. A princípio, esse discurso parece bem atraente e razoável, mas há nele um profundo sentimento de individualismo e de egoísmo, pois, se a sua felicidade pressupõe a infelicidade de outra pessoa, algo de muito errado está acontecendo. A aparência da proposta é agradável, mas sua essência é pecaminosa.
Jesus já havia nos alertado a esse respeito: “Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas, interiormente, são lobos devoradores” (Mt 7:15). Sim, Jesus já previa que viriam dias em que lobos se vestiriam de cordeiros, ou seja, pessoas com más intenções, usadas pelo Diabo, se disfarçariam para trazer contenda, divisão e destruição.
O que mais vemos por aí é gente com muito carisma, mas pouco ou nenhum caráter. Pessoas que têm um discurso atraente, falam bonito, têm boas ideias, são simpáticas, sedutoras, carismáticas e até têm uma pregação pró-Reino de Deus. Mas tudo isso não passa de máscaras para esconder suas verdadeiras intenções: a exploração das pessoas, a ganância pelo poder e o desejo incontrolável de reconhecimento e ostentação. Precisamos estar alertas em relação a essas pessoas que rondam a nossa vida. Elas estão no trabalho, na faculdade e, infelizmente, podem estar na família e até dentro da igreja. Essas pessoas, com muito carisma, mas sem caráter, tentam, por meio de sofismas, relativizar nossa caminhada.
Mais uma vez, podemos contar com a Bíblia, que nos dá pelo menos dois princípios básicos para lidarmos com tais pessoas e situações. Primeiro: quais são os frutos que essa pessoa gera? (Mt 7:16) Segundo, o que não é de Deus não resiste ao tempo (At 5:38,39).
Que o Senhor nos dê a graça de agir com as pessoas sempre com clemência, mas também nos dê astúcia para nos livrarmos de todo engano e de todos os sofismas que tentem nos abalar.
Do amigo e pastor,
Tiago Valentin