“Quando João, no cárcere, ouviu falar das obras de Cristo, mandou que seus discípulos fossem perguntar: ‘Você é aquele que estava para vir ou devemos esperar outro?’. Então Jesus lhes respondeu: ‘Voltem e anunciem a João o que estão ouvindo e vendo: os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e aos pobres está sendo pregado o evangelho” (Mateus 11:4–6).
Encarcerado, João Batista enviou seus seguidores para se certificar de que Jesus era o Messias esperado pelo povo de Israel. Na sua resposta, Jesus cita os quatro milagres messiânicos, ou seja, as obras que, segundo os ensinos dos mestres da lei, somente o Messias enviado por Deus poderia realizar, baseadas nos anúncios proféticos de Isaías (35:5–7), como a cura de um cego de nascença (Jo 9), a cura de um leproso (Lc 5:15), a cura de um mudo (Mt 12:22–37) e a ressurreição de um morto (Jo 11:1–44).
No texto que abre esta pastoral, maravilhamo-nos com o anúncio dos milagres realizados por Jesus e, numa primeira leitura, deixamos de observar alguns aspectos importantes que o texto bíblico nos traz, como o fato de João ter seus próprios discípulos, pessoas que o seguiam e ouviam seus ensinamentos sobre o Reino de Deus. Tais seguidores eram convidados a se arrepender de seus pecados e a mudar a forma de viver. O texto nos informa que João Batista encontrava-se encarcerado e, mesmo na prisão, ouvia falar das obras de Jesus, ou seja, havia muita repercussão sobre os feitos de Jesus entre as pessoas pobres e sofridas, como nos revela o texto bíblico.
Neste tempo de quaresma, de preparação para a Páscoa, somos convidados a muitas reflexões. No texto apresentado, observamos inicialmente apenas os diálogos entre João, seus discípulos e Jesus, mas, ao trazê-lo para nossa reflexão, percebemos que ele nos revela muito mais a respeito desses personagens.
O primeiro ponto que podemos observar é a esperança renovada de João Batista, que, mesmo na adversidade da prisão, ao ouvir sobre as obras de Jesus faz imediatamente uma relação direta e prática entre aquelas obras e a anunciada vinda do Messias, a ponto de enviar a Jesus uma pergunta também prática e objetiva: “Você é aquele que estava para vir ou devemos esperar outro?”. E quantos de nós projetamos de forma diferente essa mesma pergunta a Deus diante das adversidades e dos desafios da nossa vida cotidiana? “Deus, meu problema vai ser resolvido ou não? Vou ser curado ou não? Vou ser promovido ou não? Nossa igreja vai crescer ou não?” São sempre perguntas carregadas de certezas, nas quais projetamos nossas próprias dúvidas e incapacidades e nos esquecemos de observar o que Jesus já tem realizado à nossa volta.
O segundo ponto a ser observado é a ordem de Jesus diante de tal questionamento: “Voltem e anunciem a João o que estão ouvindo e vendo”. Jesus não responde diretamente aos discípulos de João Batista se era ou não Aquele que estava por vir, mas ordena que eles apenas anunciem aquilo de que foram testemunhas, e que João interprete e decida diante daqueles depoimentos quem era Jesus. Muitas das respostas de Deus para as nossas vidas não vêm seguidas de um grande “sim” ou de um grande “não” escrito no céu, mas somos convidados a observar todo o cuidado d’Ele em torno de nós. Às vezes precisamos enxergar e ouvir os testemunhos de outras pessoas para que se revelem compreensões de Deus que já estão dentro de nós, pois frequentemente estamos presos a tantas adversidades e desafios pessoais que isso nos tem impedido de vivenciar as experiências da ação de Deus à nossa volta e em nossa própria vida.
A mensagem enviada a João Batista de que “os cegos veem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e aos pobres está sendo pregado o evangelho” estava revelando milagres que eram próprios do Messias aguardado pelo povo, de forma que não deveria haver mais dúvidas sobre o cumprimento das profecias em Jesus. No entanto, o que ocorria era o contrário: sempre havia uma busca para desacreditar Jesus, questioná-lo sobre a lei e seu cumprimento e, principalmente, não reconhecer as obras realizadas, pois eles se recusavam a crer que Jesus era o Messias. Em nossa vida, não somos tão diferentes. Como já foi dito, nossas dúvidas, nossas incertezas e a ausência de proximidade espiritual nos impedem de crer e de reconhecer que Deus já está presente em nossas vidas. Alimentamos de tal forma nossa religiosidade que nossa prepotência e arrogância nos têm cegado, assim como ocorria com os religiosos daquela época (Jo 9:35–41), impedindo-nos de ver e de experimentar a real transformação que Deus tem realizado à nossa volta, em nossa comunidade e em nossa própria vida. Que a partilha dos testemunhos e das experiências vivenciadas em nossas comunidades possam fortalecer a nossa fé, na esperança e na confiança em Jesus.
Quando a dúvida vier, vá ao seu espelho e veja refletido um dos maiores milagres que Deus tem realizado no mundo. “Estou certo de que aquele que começou boa obra em vocês há de completá-la até o Dia de Cristo Jesus” (Fp 1:6).
Deus nos abençoe e nos fortaleça para Sua missão!
Seminarista Paulo Roberto L. Almeida Junior