O que você pensaria de uma grande família cujos irmãos entrassem numa luta fratricida, buscando cada um a primazia para si? O que você pensaria de um povo que professasse a fé num único Deus e isso ao invés de uni-lo os separa? O que você pensaria de um grupo de religiosos que se tratassem com o amável título de “irmãos”, mas vivem desconfiados uns dos outros? O que dizer de um povo que afirma crer na ação de um Espírito Santo que veio para unir (Jo 17.21), mas que justamente “Ele” é o grande ponto de polêmica?
Obviamente estamos falando de um grupo que afirma ter no Brasil mais de 25 milhões de seguidores, está presente nas rádios, TVs, e hoje já se dissemina por todas as classes sociais de A a D.
Era de se esperar que esse povo tivesse uma identidade mais ou menos clara e uniforme, que apresentasse concordância em pontos importantes, que se tratasse com amor e respeito, que falassem a mesma língua… Mas o que vemos é algo completamente diferente. Essa fina estirpe que recebeu do Senhor o título de “nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus”, apresenta características tão díspares, sentimentos tão heterogêneos, disposições tão contrárias, que fico pensando se Deus não desceu do céu, e a exemplo da Torre de Babel, não veio confundir-nos até que tomássemos consciência da loucura que tomou conta da Igreja hoje.
Faço esse triste diagnóstico a partir das constatações que relaciono abaixo:
• Há algo profundamente errado quando convivemos com uma classe de crentes que se acham “superiores” por
terem passado por uma experiência chamada de “batismo no (ou com) o Espírito”, e uma classe de crentes “inferiores” porque não alcançaram ou não buscam esse mesmo tipo de experiência.
• Há algo profundamente errado quando alguns cultuam a Deus no sétimo dia da semana e lutam ardorosamente contra os que cultuam a Deus no dia seguinte, considerando-os anátemas.
• Algo não está bem quando alguns batizam os seus membros “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, mas não aceitam os fiéis batizados “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” em outro grupo, porque o outro grupo o fez de modo diferente.
• Causa perplexidade quando participantes de um grupo do Corpo tentam de todas as formas arrancar fiéis de outro grupo que também é parte integrante desse mesmo Corpo.
• Há algo profundamente errado quando o germe da divisão produz a cada dia mais igrejas que proclamam ser as “únicas” e “verdadeiras” igrejas.
• Há algo profundamente errado quando pastores, bispos e apóstolos afirmam ter recebido “novas” revelações de Deus, revelações essas que o Senhor ocultou de todos seus discípulos e apóstolos, mas resolveu torná-las públicas agora a estes servos.
• Há algo profundamente errado quando alguns crentes são tomados de um estranho orgulho de estarem fora “do” mundo e ostentam essa separação como prova de santidade, enquanto Cristo nos separou “para” uma ação no mundo.
• Há algo profundamente errado quando o mais importante é a “adesão” a um grupo, e não conversão a Cristo, e sair por aí dizendo que é “evangélico” independentemente de sua ética de vida.
Fico me perguntando como viver a Unidade desejada por Cristo em sua Oração Sacerdotal (João capítulo 17), se a Ceia nos separa, se o Batismo nos separa, se aquele que veio trazer a Unidade, o Espírito Santo, nos separa?
Que Deus tenha misericórdia desse povo!
Pr. Daniel Rocha