O Salmo 23 é possivelmente um dos textos bíblicos mais populares entre os cristãos e, quem sabe, entre os não cristãos. Isso se deve principalmente à analogia que o pastor de ovelhas Davi faz entre o seu Deus e a sua própria ocupação. No belo salmo, Davi associa a pessoa do Criador à figura de um pastor e se vê no lugar de uma ovelha. A ovelha está reconhecendo que tem um pastor e que Ele é o seu Senhor. Essa brilhante e inspirada comparação faz com que nós nos vejamos no texto e alimentemos nossa fé no cuidado e na soberania do Senhor sobre nós.
A analogia do salmista também nos revela algumas coisas sobre o relacionamento do pastorzinho de ovelhas com o seu Senhor. Ao se ver como uma ovelha, Davi reconhece que é indefeso. Afinal, ovelhas não têm garras nem mecanismos de defesa; ovelhas também são sujas e incapazes de se limpar sozinhas; ovelhas são desorientadas e precisam o tempo todo de alguém que lhes indique o caminho.
Mas Davi não poderia ter pensado em outra metáfora para explicar sua relação com o Senhor? Talvez sim. Ele poderia ter dito ”O Senhor é o meu general”, e aí ele seria um soldado com armas e força para guerrear; ou “O Senhor é o meu rei”, e então ele seria Seu súdito, com autoridade e prestígio. Contudo, o diferencial de ser uma ovelha é que há uma única pessoa que se importa com ela: o seu pastor. Deus, que é o nosso Pastor, importa-se com nossas vidas. O pastor defende suas ovelhas do mal e do perigo, livrando-as e advertindo-as; o pastor cuida das ovelhas e faz de tudo para preservá-las limpas; o pastor guia suas ovelhas a águas tranquilas. Por isso, podemos afirmar, com toda a certeza, que o Senhor é o nosso Pastor, pois Ele é o nosso defensor; é Ele quem nos livra das ciladas de Satanás e nos afasta dos abismos do pecado; é o Senhor quem nos purifica e nos lava de todo pecado, deixando-nos mais alvos do que a neve; é o Senhor quem trilha nossos caminhos e anda sempre ao nosso lado. Todos nós, ovelhas, precisamos de um Pastor gracioso, misericordioso e zeloso. Todos nós precisamos dos cuidados do nosso Senhor.
Para nós, pastores evangélicos, humanos e limitados que somos, não existe nada melhor e mais alentador do que saber que, na verdade, somos copastores de um Pastor infalível e supremo, que conhece todas as Suas ovelhas e não abre mão de nenhuma delas. Especialmente neste tempo de pandemia, quando não podemos estar no “pasto” cuidando de perto do nosso rebanho, somos desafiados a crer ainda mais no cuidado e na provisão do nosso Pastor. O fato é que, neste momento, mais do que nunca, todos nós nos vemos como ovelhas indefesas e limitadas que precisam do olhar e do carinho do nosso Divino Pastor.
Não só na pandemia, mas em todo o tempo, todos nós precisamos do nosso Pastor. Caso contrário, o nosso Salmo 23 seria este, conforme interpretado pelo escritor e pastor estadunidense Max Lucado, em seu livro Aliviando a Bagagem:
“Eu sou o meu próprio pastor; estou sempre em necessidade.
Eu cambaleio de shopping em shopping, de psiquiatra em psiquiatra, buscando alívio, mas nunca o encontro.
Eu me arrasto pelo vale da sombra da morte e caio em pedaços.
Eu temo qualquer coisa, desde pesticidas a fio elétrico, e estou começando a agir como minha mãe. Vou às reuniões semanais do grupo e me acho cercado de inimigos. Vou para casa e até meu peixe dourado me faz carranca.
Unjo a minha cabeça com uma dose extra de Tilenol. E o aquário do meu peixinho transborda.
Certamente que a miséria e o infortúnio me seguirão e eu viverei em autodesconfiança pelo resto da minha vida solitária”.
Graças a Deus, temos o verdadeiro Salmo 23 e um Pastor pra chamar de nosso!
Do amigo e pastor,
Tiago Valentin