Deus Se revela em graça

Se esta obra é de homens, não triun­fa­rá. Mas se é de Deus, não a com­ba­tais, pois esta­reis com­ba­ten­do o pró­prio Deus” (Atos 5:38–39).

O Pro­fe­ta Eli­as e a Viú­va de Sarep­ta”, por Ber­nar­do Stroz­zi (c. 1640)

Queri­dos e ama­dos irmãos, como é bom poder ver a ale­gria e a mise­ri­cór­dia de Deus agin­do em favor de Seus filhos! Como é bom con­ti­nu­ar ven­do Deus se mani­fes­tar no meio de Seu povo com poder! Ele con­ti­nua sen­do bom, Ele con­ti­nua sen­do Deus. Con­tu­do, con­fes­so que tenho me assus­ta­do bas­tan­te quan­do vejo em mui­tos alta­res decla­ra­ções, pro­fe­ci­as, deter­mi­na­ções etc. Isso, ao meu modo de ler e com­pre­en­der a Pala­vra de Deus, con­tra­ria a sobe­ra­nia e a von­ta­de do Pai. São modis­mos, bana­li­za­ção e detur­pa­ção des­sas pala­vras que se pres­tam mui­to mais para aten­der o nos­so que­rer e as nos­sas expec­ta­ti­vas. Mas, quan­do a ben­ção não che­ga, há um sen­ti­men­to de dor e frus­tra­ção mui­to gran­de. E o mais assus­ta­dor é que mui­tos líde­res evan­gé­li­cos, das mais diver­sas igre­jas e deno­mi­na­ções, estão ade­rin­do a isso. Daí eu estar me repor­tan­do ao tex­to de Atos dos Após­to­los para esta pro­pos­ta de reflexão.

Nos­sas mai­o­res angús­ti­as estão, espe­ci­al­men­te, em que­rer­mos ser o que não somos. Tra­ze­mos ao lon­go de nos­sa exis­tên­cia mar­cas que mui­tas vezes nos machu­cam e nos fazem sofrer. O gran­de desa­fio pare­ce ser trans­for­mar a dor em cri­a­ção e não per­pe­tu­ar o sofri­men­to, pois trans­for­mar nos­sa dor em mágoa petri­fi­ca­da é mor­tí­fe­ro; entre­tan­to, quan­do acei­ta­mos que mui­tos dos nos­sos sofri­men­tos não serão extir­pa­dos, e sim trans­for­ma­dos, alcan­ça­mos cura para a alma e paz para o espírito!

Mui­tas pes­so­as podem decla­rar o que qui­se­rem, mas a res­pos­ta cer­ta vem dos lábi­os de Deus. Veja­mos: havia mui­tas viú­vas em Isra­el nos dias do pro­fe­ta Eli­as, mas somen­te uma delas, a de Sarep­ta, rece­beu a ben­ção de Deus (1 Rs 17). A ênfa­se des­se tex­to é: “A viú­va de Sarep­ta creu e obe­de­ceu”! Obser­vem que essa expe­ri­ên­cia era somen­te dela; den­tre tan­tas viú­vas, ela foi a escolhida.

Assim como nes­te caso, mui­tas expe­ri­ên­ci­as são indi­vi­du­ais. É ape­nas nos­sa a expe­ri­ên­cia da pro­va­ção ou do mila­gre, da dor ou da cura. É como no dita­do popu­lar: “Aqui­lo que eu tiver que pas­sar somen­te eu pas­sa­rei”. Não pode­mos fazer da ben­ção que nos alcan­çou uma lei uni­ver­sal. Mui­tos são cura­dos no cor­po, outros pre­ci­sam mor­rer no cor­po para ser cura­dos no espí­ri­to. Por­tan­to, glo­ri­fi­car a mise­ri­cór­dia de Deus sobre nos­sa pre­ci­o­sa vida é reco­nhe­cer a gra­ça de Deus em nós.

Mas não faça des­ta his­tó­ria a úni­ca a ser con­ta­da. Deus tem desíg­ni­os dife­ren­tes para cada um. Eu me angus­tio pelo fato de mui­ta coi­sa ruim acon­te­cer em razão da mas­si­fi­ca­ção de tes­te­mu­nhos, decla­ra­ções e pro­fe­ci­as, sem­pre repe­ti­dos. Depois de um tem­po, a mas­si­fi­ca­ção des­sas decla­ra­ções as tor­na secas, acon­te­cem no auto­má­ti­co, sem alma, pura emoção.

Mui­tas vezes a von­ta­de que tenho é de ficar bem qui­e­ti­nho, dar gra­ças, apren­der e expe­ri­men­tar a pala­vra, tes­te­mu­nhar o amor de Deus, que está expres­so na cruz – “pelas Suas pisa­du­ras fomos sara­dos”. Como é impor­tan­te, em meio às mui­tas mani­fes­ta­ções de Deus, pon­de­rar, aqui­e­tar-se, com­pre­en­der o Seu desíg­nio e a Sua von­ta­de, acei­tar Sua reve­la­ção, rece­ber com amor e cres­cer em tudo, nas lutas e nas vitó­ri­as. Este é o úni­co tes­te­mu­nho que pode­mos dar. No mais, é falar da gra­ça de Deus, não de uma his­tó­ria par­ti­cu­lar. O Evan­ge­lho é uni­ver­sal, é expe­ri­ên­cia para todos, mas a for­ma como vamos apli­cá-lo em nos­sa vida é indi­vi­du­al. Ao mudar­mos e inver­ter­mos essa ordem, cri­a­mos um cír­cu­lo de tes­te­mu­nhos e de decla­ra­ções que geram expec­ta­ti­vas fal­sas, e não tes­te­mu­nhos da Pala­vra de Vida, que tan­to ser­vem para os que são cura­dos como tam­bém para aque­les que morrem.

Espe­ro que vocês con­si­gam enten­der o que estou dizen­do com amor e cui­da­do por cada um de vocês. Não estou acu­san­do nem con­de­nan­do os líde­res que se uti­li­zam des­se pro­ce­di­men­to. Ape­nas estou, como dis­se no iní­cio des­te tex­to, pro­pon­do uma lei­tu­ra cri­te­ri­o­sa e crí­ti­ca da Pala­vra. Apren­der e nos con­sa­grar­mos na Pala­vra nos aju­da­rá a expres­sar o sinal da gra­ça de Deus em nos­sa vida, como naque­la can­ção de Deig­ma Mar­ques: “Que Ele cres­ça e eu dimi­nua / Que Ele apa­re­ça e eu me cons­tran­ja / Com a Sua gló­ria e todo o Seu amor / Infi­ni­ta humil­da­de, ser­vo de todos os irmãos”. Ou, ain­da, como em João 3: 30–31: “É neces­sá­rio que Ele cres­ça e que eu dimi­nua. Quem vem das altu­ras está aci­ma de todos; aque­le que vem da ter­ra é ter­res­tre e fala da ter­ra; quem veio do céu está aci­ma de todos”.

Em tem­pos difí­ceis e de sequi­dão, é pre­ci­so viver da gra­ça. A ânco­ra do que temos a dizer e de como esta­mos está na gra­ça. Os tes­te­mu­nhos são mara­vi­lho­sos, mas são sem­pre “par­ti­cu­la­res” e, por­tan­to, não têm apli­ca­ção uni­ver­sal. Deus age em cada um da for­ma como lhe apraz. Mas a gra­ça de Deus é para todos, e para cada um ela tem uma face dife­ren­te, mui­tas vezes incom­pre­en­sí­vel. Por essa razão, quan­do a ben­ção não che­gar da for­ma como você espe­ra, creia, Deus se reve­la­rá par­ti­cu­lar­men­te em gra­ça sobre sua vida.

Até a volta!

Por Dil­son Júlio da Sil­va,
teó­lo­go e mem­bro da Ig. Meto­dis­ta em Itaberaba

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