“Se esta obra é de homens, não triunfará. Mas se é de Deus, não a combatais, pois estareis combatendo o próprio Deus” (Atos 5:38–39).
Queridos e amados irmãos, como é bom poder ver a alegria e a misericórdia de Deus agindo em favor de Seus filhos! Como é bom continuar vendo Deus se manifestar no meio de Seu povo com poder! Ele continua sendo bom, Ele continua sendo Deus. Contudo, confesso que tenho me assustado bastante quando vejo em muitos altares declarações, profecias, determinações etc. Isso, ao meu modo de ler e compreender a Palavra de Deus, contraria a soberania e a vontade do Pai. São modismos, banalização e deturpação dessas palavras que se prestam muito mais para atender o nosso querer e as nossas expectativas. Mas, quando a benção não chega, há um sentimento de dor e frustração muito grande. E o mais assustador é que muitos líderes evangélicos, das mais diversas igrejas e denominações, estão aderindo a isso. Daí eu estar me reportando ao texto de Atos dos Apóstolos para esta proposta de reflexão.
Nossas maiores angústias estão, especialmente, em querermos ser o que não somos. Trazemos ao longo de nossa existência marcas que muitas vezes nos machucam e nos fazem sofrer. O grande desafio parece ser transformar a dor em criação e não perpetuar o sofrimento, pois transformar nossa dor em mágoa petrificada é mortífero; entretanto, quando aceitamos que muitos dos nossos sofrimentos não serão extirpados, e sim transformados, alcançamos cura para a alma e paz para o espírito!
Muitas pessoas podem declarar o que quiserem, mas a resposta certa vem dos lábios de Deus. Vejamos: havia muitas viúvas em Israel nos dias do profeta Elias, mas somente uma delas, a de Sarepta, recebeu a benção de Deus (1 Rs 17). A ênfase desse texto é: “A viúva de Sarepta creu e obedeceu”! Observem que essa experiência era somente dela; dentre tantas viúvas, ela foi a escolhida.
Assim como neste caso, muitas experiências são individuais. É apenas nossa a experiência da provação ou do milagre, da dor ou da cura. É como no ditado popular: “Aquilo que eu tiver que passar somente eu passarei”. Não podemos fazer da benção que nos alcançou uma lei universal. Muitos são curados no corpo, outros precisam morrer no corpo para ser curados no espírito. Portanto, glorificar a misericórdia de Deus sobre nossa preciosa vida é reconhecer a graça de Deus em nós.
Mas não faça desta história a única a ser contada. Deus tem desígnios diferentes para cada um. Eu me angustio pelo fato de muita coisa ruim acontecer em razão da massificação de testemunhos, declarações e profecias, sempre repetidos. Depois de um tempo, a massificação dessas declarações as torna secas, acontecem no automático, sem alma, pura emoção.
Muitas vezes a vontade que tenho é de ficar bem quietinho, dar graças, aprender e experimentar a palavra, testemunhar o amor de Deus, que está expresso na cruz – “pelas Suas pisaduras fomos sarados”. Como é importante, em meio às muitas manifestações de Deus, ponderar, aquietar-se, compreender o Seu desígnio e a Sua vontade, aceitar Sua revelação, receber com amor e crescer em tudo, nas lutas e nas vitórias. Este é o único testemunho que podemos dar. No mais, é falar da graça de Deus, não de uma história particular. O Evangelho é universal, é experiência para todos, mas a forma como vamos aplicá-lo em nossa vida é individual. Ao mudarmos e invertermos essa ordem, criamos um círculo de testemunhos e de declarações que geram expectativas falsas, e não testemunhos da Palavra de Vida, que tanto servem para os que são curados como também para aqueles que morrem.
Espero que vocês consigam entender o que estou dizendo com amor e cuidado por cada um de vocês. Não estou acusando nem condenando os líderes que se utilizam desse procedimento. Apenas estou, como disse no início deste texto, propondo uma leitura criteriosa e crítica da Palavra. Aprender e nos consagrarmos na Palavra nos ajudará a expressar o sinal da graça de Deus em nossa vida, como naquela canção de Deigma Marques: “Que Ele cresça e eu diminua / Que Ele apareça e eu me constranja / Com a Sua glória e todo o Seu amor / Infinita humildade, servo de todos os irmãos”. Ou, ainda, como em João 3: 30–31: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua. Quem vem das alturas está acima de todos; aquele que vem da terra é terrestre e fala da terra; quem veio do céu está acima de todos”.
Em tempos difíceis e de sequidão, é preciso viver da graça. A âncora do que temos a dizer e de como estamos está na graça. Os testemunhos são maravilhosos, mas são sempre “particulares” e, portanto, não têm aplicação universal. Deus age em cada um da forma como lhe apraz. Mas a graça de Deus é para todos, e para cada um ela tem uma face diferente, muitas vezes incompreensível. Por essa razão, quando a benção não chegar da forma como você espera, creia, Deus se revelará particularmente em graça sobre sua vida.
Até a volta!
Por Dilson Júlio da Silva,
teólogo e membro da Ig. Metodista em Itaberaba