“O nascimento de Jesus Cristo foi assim: Maria, a sua mãe, estava prometida em casamento para José. Mas, antes que estivessem morando juntos, ela ficou grávida pelo Espírito Santo. José, seu noivo, era considerado um homem íntegro e por isso resolveu desmanchar o contrato de casamento discretamente, para não difamar Maria. Enquanto José pensava em como faria isso, um mensageiro de Deus apareceu a ele num sonho e disse:
— José, descendente de Davi, não tenha medo de receber Maria como sua esposa, pois ela está grávida pelo Espírito Santo. Ela dará à luz um menino, e você porá nele o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo de todos os pecados.
Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Javé tinha dito por meio do profeta: ‘A jovenzinha ficará grávida e terá um filho que receberá o nome de Emanuel’ (Emanuel quer dizer ‘Deus está conosco’.)
Quando José acordou, fez o que o mensageiro de Deus havia ordenado e se casou com Maria. Porém não teve relações com ela até que a criança nasceu. E José pôs no menino o nome de Jesus” (Mateus 1:18–25).
Para Mateus, cumpriu-se a profecia de Isaías 7, a promessa de que Deus enviaria um Salvador que habitaria no meio do povo – Emanuel.
Mateus vê no nascimento de uma criança, filho de uma jovenzinha que engravidara antes de estar casada formalmente, a ação salvadora do Espírito Santo. Reconhece na fragilidade da criança recém-nascida a presença do “Deus conosco”.
Mateus também não está isento dos condicionamentos sociais e culturais do seu tempo, mas, a despeito de tudo, seu relato não deixa de ser revolucionário, pois em grande parte supera enormes barreiras e preconceitos: o da mãe solteira, o do marido difamado, o da criança enjeitada, o pensamento de que Deus só age nas elites e só se manifesta aos poderosos…
O que é convencionalmente considerado pecado, pela sociedade preconceituosa e arrogante, é sinal de salvação para aqueles que têm olhos para ver Deus agindo no mundo.
E a ação de Deus, aqui, é protagonizada por um carpinteiro, artesão que ocupa a base mais inferior da pirâmide sociopolítico-econômica do seu tempo; por uma jovenzinha sem vez e sem voz, em meio a uma cultura patriarcal e machista; e, principalmente, por uma criança, um bebê recém-nascido, desprotegido, ameaçado de ser enxotado, forte candidato a ser jogado no lixão (a Geena).
E tudo isso se passa na periferia do planeta. Num lugarejo desimportante, esquecido pelo mundo no fundo do tempo, mas que está no centro geográfico do coração de Deus.
Emanuel é isso: Deus conosco, Deus entre nós, Deus em nosso meio, Deus dentro de nós, Deus nos lugares mais improváveis e desprezíveis. Jesus, aquele que salva o povo de todos os pecados, os pessoais, os sociais, os institucionais. Um bebê no colo da humanidade: cordeirinho de Deus que tira o pecado do mundo.
Por Luiz Carlos Ramos, pastor da Igreja Metodista em Pirassununga (SP)