Um dos sentimentos mais primitivos da humanidade é a vingança, como podemos constatar pela história de Caim e Abel. Cheio de ira e de inveja, Caim decidiu matar seu irmão simplesmente para se vingar. Ou seja, como Abel deixou Caim triste, este se achou no direito de revidar. É certo que seu revide foi absolutamente desproporcional, mas sua sede por vingança foi saciada.
Por incrível que pareça, séculos depois essa prática se transformou em lei, a fim de legitimar e conter a vingança desproporcional: a chamada Lei de Talião. Do latim lex talionis (lex: lei; e talis: tal, idêntico), a Lei de Talião significa a rigorosa reciprocidade entre o delito e a pena. Daí a máxima inspirada na lei: “olho por olho, dente por dente”. Essa lei tem sua origem no Código de Hamurábi, de 1790 a.C., instituído no Império Babilônico, mas foi difundida e amplamente aplicada no período do Império Romano.
Ao estabelecer as estacas doutrinárias do Seu ministério, no sermão do monte, Jesus aborda essa questão com Seus ouvintes, já acostumados com a barbárie, o sadismo e o rigor romano. Ele cita explicitamente a máxima que sintetizava a Lei de Talião (Mt 5:38), mas, como fez durante todo aquele sermão, identifica os valores e práticas correntes naquele tempo e apresenta o contraponto da proposta do Reino de Deus. Por isso, Ele diz na sequência: “Eu, porém, vos digo: não resistais ao perverso; mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra”. E acrescenta: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem” (Mt 5:39 e 44).
A proposta de Jesus para Seus ouvintes (e isso nos inclui) é de que devemos fazer exatamente o contrário do que as pessoas dizem que se deve fazer, ainda que isso seja uma lei, pois, se tal prática fere os princípios de Deus, deve ser desprezada e, mais do que isso, devemos agir com espírito contrário, fazendo o bem para os que nos odeiam. O apóstolo Paulo sintetizou esse princípio ao escrever para a igreja em Roma, dizendo: “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:21).
Às vezes, algumas pessoas me dizem que ficaram chateadas por não terem sido cumprimentadas por alguém nos corredores da igreja. O meu conselho, nesse caso, é sempre o mesmo: “Vá atrás dessa pessoa e a cumprimente você”. Frequentemente, caímos em certos melindres tão infantis que nos tornamos iguais ou piores do que aquela pessoa desapercebida ou malcriada.
A melhor forma de vencer uma oposição, uma intriga ou uma discórdia é, primeiramente, colocar essa situação diante de Deus, fazendo o maravilhoso exercício de pedir para que Ele abençoe a pessoa ou as pessoas envolvidas. Em segundo lugar, devemos agir com uma bondade desproporcional. Ainda que seja contra nossa natureza ou nossa vontade, o nosso espírito tem de vencer a nossa carne.
Não há nada mais constrangedor do que o amor. Por isso, se queremos a solução de um conflito, a melhor estratégia é tratar a pessoa bem, com cordialidade e respeito. Quando uma pessoa espera de nós vingança e agimos com bondade, não cedemos às armadilhas de Satanás, fortalecemos a nossa fé e caminhamos na direção da paz.
Do amigo e pastor,
Rev. Tiago Valentin