“Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar,e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra” ( 2Cr 7.14)
Antes de sarar a nação… é preciso que primeiramente Deus realize essa cura em nós mesmos. Se é verdade que a nossa nação está doente, também não há como negar que há uma doença instalada no seio do povo de Deus, que precisa ser reconhecida, tratada e curada.
Já no passado o Senhor perguntava ao seu festivo e inconseqüente povo: “quando vindes perante mim, quem vos requereu o só pisardes nos meus átrios?” (Is1.12). Em outras palavras Deus estava dizendo: “não quero que vocês apenas venham à igreja, e deixem que tantas coisas erradas continuem em suas vidas”. A outro profeta o Senhor pede para que cessem com a música: “afastem de mim o estrépito dos teus cânticos, pois não ouvirei as melodias das tuas liras” (Am 5.23). Ou seja, orem, jejuem, confessem seus erros, e depois cantem.
Não é de se admirar que tantas derrotas ocorreram àquele povo mesmo diante de nações muito mais frágeis que eles. Quem sabe Israel pensava: “Mas o que houve de errado? Deus está conosco! Nós somos nação santa! Somos “crentes” em Deus!”
Aquilo que se chama de evangélico é hoje um povo doente. O diagnóstico é claro e o prognóstico – se não houver profundo arrependimento – é de piora do estado. Vejamos:
1) Sofre de ufanismo: imagina que gritos de guerra, decretos, atos proféticos e palavras mágicas podem mudar a realidade do mundo.
2) Sofre de miopia: não consegue enxergar seus defeitos. Na época do terrível rei Manassés, o povo de Deus andou de uma forma tão errada que “fizeram pior do que as nações que o Senhor tinha destruído” de diante deles (2Rs 21.9). Alguém duvida que estamos vivendo tempos assim?
3) Sofre um processo de desumanização. Eu não tenho dúvida que uma verdadeira santidade nos leva a encontrarmo-nos a nós mesmos, como humanos, profundamente humanos. É uma santidade amiga, acolhedora, que confundiu até Felipe, pois diante da humanidade de Jesus ele pede para ver o Pai. Há pessoas que após se converterem, se desumanizaram, viraram entidades, e incorporaram uma espiritualidade mais artificial que uma nota de 3 reais.
4) Sofre de anorexia. Ninguém quer se alimentar com comida forte – que passa mal. Há uma recusa em ingerir comida consistente. É a época do fast-food espiritual, onde se come o que é agradável, não se olha a origem, nem se é bíblico.
5) Sofre de infantilismo crônico. Quando já deviam “ser mestres atendendo ao tempo decorrido” ainda continuam apegados às coisas próprias da infância espiritual, vivendo em meio a contendas sem fim.
5) Sofre de supersticionismo. Não se conhece hoje povo mais supersticioso que o evangélico: cheio de misticismo, crê em objetos com poderes (isso se chama animismo, e é próprio das religiões primitivas), ordens, atos, fórmulas, demarcação de territórios… É uma espécie de evangelho segundo Harry Porter.
6) Sofre de uma vaidade atávica e são poucos os que escapam de sua devastadora ação. Às vezes ela aparece de forma velada, às vezes explicitamente, mas sempre aparece. Justamente por isso, a Igreja de Cristo tem sido palco de inúmeras manifestações da vaidade humana. Até mesmo pequenos gestos ou palavras podem trazer escondidos intenções e desejos nem sempre confessáveis.
O sistema todo está infectado. Mas para iniciar um processo de cura é necessário primeiro saber-se doente. Creio que chegou a hora do povo chamado evangélico reconhecer essa doença, mudar de atitude e pensamento, e buscar uma espiritualidade centrada na simplicidade de Cristo.
O Senhor expressa sua tristeza dizendo que “o meu povo está sendo destruído porque lhe falta conhecimento” (Os 3.6 ). É uma dolorosa constatação. Espera-se de um advogado que ele conheça o Código Penal, de um médico a anatomia humana, e de um cristão que conheça a Jesus. Só que Jesus para muito crente é como o Pelé: é um mito, que todo mundo já ouviu falar, e sabe que é bom. Nada mais.
Que cada homem e mulher cristãos possam dizer: “Pai, não quero ser grande no Seu Reino, na verdade quero dizer como João Batista — que o Senhor cresça e eu diminua. Não vivo à busca de aplausos, mas da Tua aprovação”.
Só a maturidade que Cristo traz pode nos curar e nos livrar da dos relacionamentos doentios. Antes de dizermos para Cristo sarar a nação, humildemente peçamos:
- Sara, Senhor as nossa vidas, cura-nos das doenças escondidas em nossos corações feridos, liberta-nos do desejo de domínio e poder, e depois, Senhor, se Tu nos achar dignos e merecedores, envia-nos como embaixadores Teu a um mundo que precisa experimentar a mesma cura que nos destes. Amém.
Pr. Daniel Rocha