Fé totalflex

Um dos mai­o­res avan­ços da enge­nha­ria auto­mo­bi­lís­ti­ca nos últi­mos anos foi a cri­a­ção dos moto­res fle­xí­veis, que supor­tam diver­sos tipos de com­bus­tí­vel. Um mes­mo motor é capaz de rodar com dife­ren­tes pro­pul­so­res. Um sen­sor detec­ta o com­bus­tí­vel e ajus­ta a inje­ção de acor­do com a mis­tu­ra. Esses moto­res fica­ram popu­lar­men­te conhe­ci­dos como “flex”.

Usan­do o motor como metá­fo­ra para a vida do cris­tão, noto que os valo­res des­te mun­do pós-moder­no, com seu for­mi­dá­vel avan­ço tec­no­ló­gi­co, aden­trou tam­bém na vida cristã.

É do conhe­ci­men­to de todos o for­te sin­cre­tis­mo reli­gi­o­so do povo bra­si­lei­ro. Sabe­mos da prá­ti­ca de mui­tos que, ao cen­so se auto­de­no­mi­nam cató­li­cos, mas às 6as fei­ras bus­cam uma mesa bran­ca para falar com o avô já fale­ci­do [den­tro da ver­são total­flex de fé estes são espi­ri­tó­li­cos]. É visí­vel tam­bém a infil­tra­ção em cul­tos evan­gé­li­cos da fé depo­si­ta­da em decre­tos – de bên­ção ou mal­di­ção – que ganham valor mági­co inde­pen­den­tes da von­ta­de de Deus e da cren­ça em obje­tos que pos­su­em pode­res em si mes­mos. Temos assim uma mis­tu­ra da fé cris­tã com a cren­ça ani­mis­ta e feti­chis­ta, que são coi­sas pró­pri­as do eso­te­ris­mo [a estes cha­mo de pentesotéricos].

Sem­pre foi abo­mi­ná­vel aos olhos do Eter­no esta fé híbri­da. Ele cons­ti­tuiu uma nação: “Eu sou o Senhor, teu Deus… não terás outros deu­ses dian­te de mim” (Ex 20.2), nem outras cren­ças, nem outro evan­ge­lho. Por todo o Anti­go Tes­ta­men­to há uma pre­o­cu­pa­ção de Deus com a pure­za da fé de seu povo.

Vemos toda a indig­na­ção do Eter­no com os sama­ri­ta­nos que “temi­am ao Senhor e ao mes­mo tem­po, ser­vi­am aos seus pró­pri­os deu­ses” que eles apren­de­ram a cul­tu­ar nas nações pelas quais pas­sa­ram (2Rs 17.33).

A der­ro­ca­da do rei Salo­mão deu-se por con­ta das inú­me­ras mulhe­res estran­gei­ras com as quais ele casou, e sen­do já velho, “suas mulhe­res lhe per­ver­te­ram o cora­ção para seguir outros deu­ses; e o seu cora­ção já não era de todo fiel para com o Senhor, seu Deus” (1Rs 11.4). Vemos, então, o velho rei escre­ven­do seus poe­mas a Deus, e ao mes­mo tem­po eri­gin­do alta­res a Asta­ro­te e a Molo­que. Uma autên­ti­ca fé flex de fazer inve­ja aos cris­tãos modernos.

Mui­ta gen­te é pra­ti­can­te hoje des­sa fé, vamos dizer assim, fle­xí­vel. Cul­tua a Deus no domin­go, mas não abre mão de suas cren­ças duran­te a semana.

No Novo Tes­ta­men­to temos a igre­ja de Pér­ga­mo que con­ser­va­va o nome de Cris­to, mas par­ti­ci­pa­va de ritu­ais sacri­fi­ca­dos a ído­los e sus­ten­ta­va uma dou­tri­na estra­nha na igre­ja, a dos nico­laí­tas (Ap 2.14–15). A igre­ja de Tia­ti­ra era mar­ca­da por boas obras, amor e fé, mas tole­ra­va os ensi­nos da pro­fe­ti­sa Jeza­bel, e a igre­ja de Esmir­na era con­gre­ga­da por fal­sos fiéis, o que fazia dela “sina­go­ga de Sata­nás” (Ap 2.9).

Ter uma fé flex hoje é per­mi­tir a dita­du­ra dos dese­jos, é fazer o que bem enten­de – e não se sen­tir cul­pa­do por isso. É viver um cris­ti­a­nis­mo de con­ve­ni­ên­ci­as, de cami­nhar fiel até onde não com­pro­me­te os seus inte­res­ses, ou dito de outra for­ma: segue a Deus, cul­tua, tem fé, mas está aber­to tam­bém a um “tra­ba­lhi­nho” espi­ri­tu­al, a uma aju­da na fé com um len­ci­nho ungi­do (afi­nal, qual o pro­ble­ma?), a uma fezi­nha na lote­ria, a uma sim­pa­tia que ensi­na­ram… a uma visi­ti­nha à viden­te… a uma per­mis­são que entrem em sua casa para um ritu­al de limpeza…

Ter pure­za é dese­jar uma coi­sa só. É beber da úni­ca fon­te que faz jor­rar rios de água viva. É bus­car Aque­le que não pode exis­tir vari­a­ção ou som­bra de mudan­ça. É con­ten­tar-se somen­te em Cris­to pois reco­nhe­ce que aque­le que tem a Jesus pos­sui toda a rique­za que neces­si­ta, e isso lhe bas­ta. Como bus­car algo fora Daque­le que é Senhor de tudo e rei­na aci­ma de todo prin­ci­pa­do e potes­ta­de? Por que depo­si­tar fé em homens e mulhe­res falí­veis se temos aque­le que é pode­ro­so para fazer infi­ni­ta­men­te mais do que tudo quan­to pedi­mos ou pen­sa­mos? Por que se pros­ti­tuir e for­ni­car com fal­sos deu­ses se foi Cris­to que amou a Igre­ja e a com­prou com seu pre­ci­o­so san­gue? Para que depo­si­tar fé em paus, pedras, argi­las, len­ços, óle­os, arru­das, espa­das, ges­tos, pala­vras, sacri­fí­ci­os, ofer­tas, se o úni­co que pode nos dar gra­ci­o­sa­men­te todas as cou­sas é o Senhor Jesus? Nun­ca les­tes na bíblia que “quan­to ao Senhor, seus olhos pas­sam por toda a ter­ra, para mos­trar-se for­te para com aque­les cujo cora­ção é total­men­te Dele” (2Cr 16.9)?

Uns con­fi­am em car­ros, outros em cava­los, nós, porém, nos glo­ri­a­re­mos em o nome do Senhor, nos­so Deus (Sl 20.7). Total­flex só no car­ro, mas na fé é só Jesus – e nada mais.

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

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