Os riscos causados pela baixa imunidade tornam o organismo humano suscetível a infecções virais, bacterianas e outras. Por conta da perda de eficiência do sistema imunológico em razão de algumas doenças, a imunidade baixa pode ser tão significativa que o paciente se torna vulnerável às infecções mais simples.
A pandemia que estamos vivendo nestes últimos dias se espalha rápida e assustadoramente porque estamos todos conectados, vinculados a redes familiares, profissionais, religiosas e sociais, em escala local, nacional e mundial. As notícias que tomam de assalto as telas de nossos aparelhos eletrônicos em tempo real nos informam o que ocorre em qualquer lugar do planeta a toda hora. Entretanto, muitas dessas informações apresentam um caráter nocivo. Multiplicam-se as notícias sobre crimes, comportamentos extremos e desequilíbrios das mais variadas formas. Sucedem-se, no rol das informações que nos chegam, corrupção por toda parte, hospitais de campanha que não saem da condição de barracas, mortes banalizadas pela repetição, crimes e atentados contra a população mais pobre, negros, velhos e crianças, e ainda a violência doméstica.
Sobra-nos então a sensação de que nada nem ninguém pode deter esse vírus, essa marcha incontrolável de uma sociedade que se desestrutura. À medida que perdemos a imunidade, parece-me que vamos também perdendo nossa humanidade. Assim, nestes dias em que tantas pessoas têm sua saúde comprometida, vamos também convivendo com uma nova onda, uma crise de doença da alma: “Nesse tempo, muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão. E surgirão muitos falsos profetas, e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará. Mas aquele que perseverar até ao fim, esse será salvo” (Mt 24:10–13).
Como reflexo dessa avalanche de más notícias que nos chega, que nos enche os olhos e os ouvidos, vamos nos acostumando com essas paisagens e com esses ruídos. Ficamos mais atentos ao “pódio” de quem tem mais ou menos casos. No início da pandemia, quando ela ainda estava na China, nós nos chocávamos. À medida que foi se espalhando pelo mundo, passamos a vê-la com grande indignação. Com o tempo, por se tornar comum, e pela ganância do mercado, passamos a observar a pandemia com um olhar de quase normalidade.
Vamos, talvez de forma dolorida, nos convencendo de que tudo é normal, que a vida é assim, que as pessoas são assim, mesmo que o “tudo normal” de normal não tenha nada. Nenhuma violência é normal, nenhum crime pode ser visto com leveza, nenhum desrespeito ao nosso próximo deve ganhar nossa aprovação. Tudo que desumaniza deve nos levar à indignação!
Esse sentimento de falsa normalidade que nos invade vai sutilmente roubando de nós aquilo que temos de mais precioso: o amor. Desse modo, perdemos a capacidade de nos indignarmos com o que é mau, de nos chocarmos com aquilo que não procede de Deus. Vai ficando tudo “junto e misturado”; o mal passa a ser confundido com o bem, o sagrado se mistura ao profano e a manhã da alegria não chega.
Aos poucos, sem nos darmos conta, vamos perdendo nossa humanidade, nossa sensibilidade, nossa solidariedade, nossa empatia com o próximo.
Será que de fato o amor está esfriando? Será que é verdadeiro e normal cantar “nem sempre os atos têm amor”?
Todos aqueles que agem mal e ganham as manchetes, tornando-se a notícia do dia, podem muitas vezes estar confundindo as pessoas e levando-as ao erro.
Não nos deixemos convencer de que a humanidade está perdida. Com Cristo podemos até perder a imunidade, mas no mesmo Cristo não perdemos a humanidade. Ele faz “novas todas as coisas”. Se acreditarmos nisso, a cada olhar amoroso, a cada gesto de empatia faremos toda a diferença. Quando lançarmos o nosso amor e cuidado sobre a miséria e a dor alheias, estaremos gradativamente aumentando nossa própria imunidade e, dessa forma, recuperaremos um pouco da nossa humanidade. Cada vez que deixarmos de julgar cruelmente o nosso próximo, quando fizermos com que nossos gestos possam ir além das nossas palavras e quando nossas ações transformarem o caos em manancial de vida, certamente estaremos anunciando o Cristo, o Senhor da vida!
Em tempos de tão baixa imunidade, não é negócio ter baixa humanidade. Quando se abate a esperança, o tempo é de se achegar ao Pai e clamar pelo nome de Jesus, pois, se alguns se permitem conduzir-se pelas suas fraquezas, e enriquecem ilegalmente, oprimem os mais fracos e desprezam a vida, são milhares os que honram o chamado que Jesus lhes fez para serem Suas testemunhas. “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5:20b).
Se alguns decidem trilhar pelas veredas do mal, cheios do vírus do ódio e da violência, são milhares os que vestem as máscaras do amor e vivem pacificamente, distribuindo gentilezas e apaziguando o meio onde vivem e testemunham sobre Jesus Cristo. “Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5:9).
Portanto, cultivemos nossa humanidade, pois é só por meio dela que compartilharemos o amor de Deus ao mundo. Quanto mais fortalecermos nossa vida, mais da beleza de Cristo vamos mostrar em nós e, por meio da nossa humanidade, será mais fácil amar ao próximo como a nós mesmos.
Em meio a tão baixa imunidade, deixemos em alta nossa humanidade. Lembre-se de que, na cruz, Deus Se esforçou muito para Se humanizar e Se fazer um de nós.
Que Deus nos faça homens e mulheres que amem o próximo e, em sua humanidade amorosa, busquem sarar a terra (2 Cr 7:14).
Por Dilson Júlio da Silva,
teólogo e membro da Igreja Metodista em Itaberaba