Inicio esta breve reflexão fazendo um questionamento que considero importante: você fica tão feliz em ser abençoado quanto em ver outros serem abençoados? Do ponto de vista bíblico, isso é o que se espera de nós. Ao orientar nossos irmãos na igreja de Roma sobre o convívio comunitário, o apóstolo Paulo diz que devemos nos alegrar com aqueles que estão alegres (Rm 12:15).
Que orientação interessante! Na visão de Paulo, um bom convívio social passa pela capacidade de ficarmos felizes porque o outro está feliz; ou seja, não temos necessariamente de ter um motivo pessoal para nos alegrarmos; a satisfação do nosso irmão também pode ser nossa fonte de alegria.
Essa é uma lógica quase que incabível no mundo em que vivemos hoje, para o qual a máxima é: “Eu tenho o direito de ser feliz. Se é um direito, é porque foi conquistado e, se eu conquistei, eu posso usufruir desse direito”. Contudo, a lógica cristã nos diz que o simples fato de uma pessoa próxima a nós estar feliz serviria para nos fazer felizes também.
Creio que gradativamente estamos perdendo a capacidade de nos alegrarmos com o outro. Pior que isso, quando vemos alguém se alegrando por algum motivo, logo colocamos em dúvida aquela alegria ou a fonte dela. Por exemplo, se uma pessoa trocou de carro e isso a alegrou, rapidamente aparece alguém e diz: “Mas, também, financiando em 72 vezes qualquer um pode”. Se uma pessoa se casa e está feliz com isso, logo vem o comentário: “Nossa, mas eles são tão diferentes! Tomara que dure!”. Precisamos pedir a ajuda de Deus e lutar contra esses sentimentos de mesquinharia, inveja e egoísmo que contaminam nossas vidas e nossos relacionamentos.
Para Paulo, alegrar-se com quem está alegre é algo tão óbvio porque, se um membro está feliz e ele faz parte de um corpo, todos os outros membros são contagiados pela sua alegria. Portanto, a vitória e a conquista de alguém com quem convivemos devem sempre ser celebradas por nós. Quando algo de bom acontece com quem está à nossa volta e isso deixa a pessoa feliz, precisamos entender que estamos diante da manifestação da presença de Deus na vida daquela pessoa, pois nosso Pai tem prazer em abençoar Seus filhos e filhas. Logo, ao ver um irmão ou irmã feliz, estamos testemunhando o agir de Deus e por isso nós também somos privilegiados.
Em última análise, todos nós temos motivos para estar alegres, pois somos tremendamente abençoados por Deus de diversas maneiras. Há muitas razões para nos alegrarmos, mas também precisamos ter paciência e sabedoria caso estejamos necessitando de algo específico da parte de Deus. É da nossa natureza caída questionarmos por que aquela pessoa já recebeu sua graça e nós ainda não. Os motivos pelos quais Deus não faz o que queremos podem ou não ser esclarecidos por Ele. Podemos receber ou não receber de Deus o que queremos, mas essa é a nossa luta contra o nosso “eu”, contra a nossa vontade carnal e mimada.
A única forma de rompermos com nosso individualismo e egoísmo é celebrarmos com entusiasmo e sinceridade as conquistas, as vitórias e as bênçãos que deixam outras pessoas alegres. A única maneira de sermos o Corpo de Cristo é pararmos de olhar apenas para nós mesmos e aprendermos a dar valor para todos os membros desse corpo.
Forte abraço,
Tiago Valentin, pastor