“Alegrai-vos com os que se alegram” (Romanos 12:15a).
O tema dos frutos e da frutificação tem sido presente nos textos que tenho dedicado ao Boin para nossa reflexão. Nesta oportunidade, eu inicio com um texto da carta de Paulo aos Romanos: “Alegrai-vos com os que se alegram”, na perspectiva desafiadora de compreendermos a alegria do outro e também permanecermos alegres. Assim, volto ao tema que tenho abordado, mas de forma intencional.
Quando falamos de frutos e de frutificação para a vida da igreja, não podemos deixar de mencionar os frutos do Espírito apresentados por Paulo em Gálatas: “Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. Contra essas coisas não há lei” (Gl 5:22–23). Nesta oportunidade, é evidente que vamos falar mais especificamente sobre o fruto da alegria.
Compreendendo que a alegria é um dom dado pelo Espírito, devemos também exercitar esse dom para a vida e missão da nossa comunidade de fé. Mas como exercitar a alegria? Como podemos estar alegres diante de tamanho caos em nossa sociedade? Como nos alegrarmos diante do luto e dos problemas que vivenciamos em diversas áreas de nossas vidas?
Falar de alegria no meio de uma pandemia que ainda não se encerrou nos parece impróprio; falar de alegria diante de uma situação de desemprego, de doença ou até mesmo de morte e despedida de alguém que amamos parece inapropriado, sem objetivo e sem qualquer fundamento. Contudo, o texto de Romanos citado na abertura desta pastoral nos impõe uma ordem na parte inicial do versículo – “Alegrai-vos com os que se alegram” – e segue na parte final: “E chorai com os que choram”. A vida humana é complexa. Temos momentos de alegria, como também de choro e de tristeza, e nos solidarizamos com o próximo que passa por situações angustiantes em sua vida. Entretanto, numa outra perspectiva, será que temos a mesma habilidade de nos alegrarmos com aqueles que estão alegres?
No Evangelho de Lucas 15:11–32, Jesus fala por meio de parábola sobre um filho pródigo, que gasta sua parte na herança e depois retorna na intenção de se tornar escravo de seu pai, em vez de ser humilhado na criação de porcos. O texto revela a alegria do pai que, ao avistar o filho ao longe, vai ao encontro dele e o abraça, beija‑o e o recebe com festa, joias e roupas dignas da posição de filho. Mas seu irmão mais velho, que permaneceu ao lado do pai durante a ausência do outro, retorna do trabalho e é surpreendido pelo barulho da festa e pela alegria que estava por toda a casa. Seu coração se enche de ira e ele deixa de entrar na casa e tem que ser atendido pelo pai, que precisa justificar a esse filho o porquê de sua alegria.
A ira que dominou o coração do filho mais velho na parábola que Jesus conta muitas vezes também se manifesta em nós, por meio da inveja, da incompreensão e da ausência de comunhão e de empatia com nosso irmão ou irmã. Nós nos deixamos dominar por inteiro de ressentimentos e justificativas para não participarmos de determinadas situações de alegria que outros estão vivenciando. Preferimos criar uma oportunidade para sabotar a alegria, em vez de cultivar em nós a habilidade de nos alegrarmos com aqueles que estão tendo a bênção da alegria em suas vidas.
O texto não relata se o pai acabou convencendo o irmão a entrar na casa e participar da festa; não há na narrativa bíblica informações de que aquele pai teve a oportunidade de se alegrar com seus dois filhos naquela festa. A ideia de que tudo ficou bem está em nosso imaginário, pois nos colocamos no lugar daquele irmão que recebeu a repreensão. Contudo, nem sempre uma repreensão é suficiente para nós hoje. Será que estamos dispostos a colocar de lado nosso orgulho, nosso ego, nossas motivações e, principalmente, as justificativas racionais que gritam mais alto em nós do que a simples resposta estampada no rosto de alegria daqueles que estão à nossa volta?.
A alegria é um fruto do Espírito e é necessário que esse dom divino seja exercitado em nossas vidas não apenas para nos alegrarmos com nossas próprias conquistas ou com nossas motivações pessoais. É necessário enxergarmos no outro a sua alegria e nos alegrarmos nas suas pequenas e grandes conquistas, deixando de lado nossa ira, nossa inveja, nosso ciúme e nossa mesquinhez. Ao darmos espaço ao nosso egocentrismo, não estamos perdendo apenas um momento festivo com nossos irmãos, mas a linda oportunidade de trazer a alegria do outro para as nossas vidas. Perdemos até mesmo a habilidade de nos alegrarmos enquanto comunidade de fé e de vivenciarmos a Santidade Integral que o Reino de Deus nos oferece.
É pelos frutos produzidos por nós que somos conhecidos. Produza alegria em sua vida e à sua volta!
“Este é o dia que fez o Senhor; regozijemo-nos, e alegremo-nos nele” (Sl 118:24).
Deus nos abençoe e nos fortaleça para Sua missão!
Seminarista Paulo Roberto L. Almeida Junior