O mal e a maldade

Não te dei­xes ven­cer do mal, mas ven­ce o mal com o bem” (Roma­nos 12:21).

Yin e yang: o bem não exis­te sem o mal.

Atri­bui-se a seguin­te fra­se ao filó­so­fo gre­go Epi­cu­ro: “Se Deus é bom e todo-pode­ro­so, por que não aca­ba com o mal? Ou é bom, mas não é todo-pode­ro­so, ou é todo-pode­ro­so, mas não é bom”.

O pas­tor Ari­o­val­do Ramos, líder da Comu­ni­da­de Cris­tã Reno­va­da, con­tes­ta a fra­se de Epi­cu­ro da seguin­te manei­ra: “O mal, como pro­pos­to nes­sa fra­se, não exis­te. O mal como ente só exis­ti­ria se um ser abso­lu­to o assu­mis­se como seu cará­ter. O mal que exis­te é a mal­da­de, que é um dese­jo, uma deci­são, um com­por­ta­men­to. Coi­sa de cri­a­tu­ra, não de cri­a­dor. Para Deus aca­bar com o mal, tem de aca­bar com os mal­do­sos. Para aca­bar com os mal­do­sos, Ele pode optar pela ani­qui­la­ção ou pela con­ver­são. Se optar pela con­ver­são, tem de ofe­re­cer o per­dão. Para ofe­re­cer o per­dão, tem de assu­mir o ônus cobra­do pela justiça”.

Sabe­mos que fomos cri­a­dos, todos nós, para lou­vor e gló­ria de Deus, mas, duran­te esse pro­ces­so de trans­for­ma­ção e de jus­ti­fi­ca­ção pela fé por meio de Cris­to, somos ten­ta­dos e incli­na­dos a todo tipo de ação malé­fi­ca que nos atrai em razão da nos­sa cobi­ça, do nos­so egoís­mo ou ego­cen­tris­mo e, por que não dizer, da nos­sa ganân­cia exacerbada.

Nenhum tipo de mal­da­de vem de Deus; nenhum mal vem d’Ele, pois nos­so Pai das Luzes é amor e não com­pac­tua com nenhu­ma ten­dên­cia ou incli­na­ção para o mal. Ou seja, não exis­te for­ma ou essên­cia do mal em Deus nem em Sua divindade.

Ago­ra, como seres huma­nos que somos, fra­cos e tolos, pode­mos optar por qual ati­tu­de (a do bem ou a do mal) deve­mos tomar a cada dia e a cada momen­to. Den­tro de nós se encon­tra a cha­ve da vida e está em nos­sas mãos a cha­ve do poder da deci­são, pois, como afir­mou Agos­ti­nho de Hipo­na, “o mal é a ausên­cia do bem, como o frio é a ausên­cia do calor e a men­ti­ra é a ausên­cia da verdade”.

Isso com­pro­va que não somos abso­lu­tos nem com­ple­tos. Deus, porém, em Sua ple­ni­tu­de, deci­diu dar-nos o livre-arbí­trio, isto é, o poder de deci­dir­mos por nós mes­mos como ven­cer o mal, ou melhor, como ven­cer a mal­da­de que está em cada um de nós e que pode ser pro­vo­ca­da. Como pode­mos obser­var, isso não tem nada a ver com yin e yang, as for­ças opos­tas con­si­de­ra­das por filo­so­fi­as ori­en­tais. Assim como o mal não apre­sen­ta sinal de bon­da­de, no Divi­no e Supre­mo não exis­te mal­da­de, e sim todo sinal de vida e de amor. Entre­tan­to, como seres infe­ri­o­res que somos, em pro­ces­so de evo­lu­ção (keno­sis) e de trans­cen­dên­cia, temos a mal­da­de à nos­sa vol­ta, mui­tas vezes sen­do cau­sa­da em nós e por meio de nós.

A fé cris­tã, porém, segue outra lógi­ca. Deus deci­de sobe­ra­na­men­te valo­ri­zar as pes­so­as como Suas coo­pe­ra­do­ras na cons­tru­ção da his­tó­ria. O mal, por­tan­to, é ine­ren­te à liber­da­de que Deus sobe­ra­na­men­te deci­diu con­ce­der aos huma­nos e exis­te simul­ta­ne­a­men­te ao bem.

No espa­ço da con­tin­gên­cia, o bem e o mal não são ape­nas pos­sí­veis, como podem ser poten­ci­a­li­za­dos e anu­la­dos pelo arbí­trio dos filhos e filhas de Deus.

Ama­do, não imi­tes o que é mau, senão o que é bom. Aque­le que pra­ti­ca o bem pro­ce­de de Deus; aque­le que pra­ti­ca o mal jamais viu a Deus” (3 Jo 1:11).

Pois quem quer amar a vida e ver dias feli­zes (…) apar­te-se do mal, pra­ti­que o que é bom, bus­que a paz e empe­nhe-se por alcan­çá-la” (1 Pe 3:10–11).

Pas­tor Isra­el Alcân­ta­ra da Rocha

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