Talvez você, assim como eu, tenha estabelecido diálogos ou, quem sabe, discussões sobre política com diversas pessoas nos últimos dias em virtude das eleições municipais. Entre tantos desafios que temos, talvez um dos mais complexos seja mesmo definir em quem votar. A sensação que tenho é de que se trata de uma mistura de candidaturas pasteurizadas e polarizadas. Há muito do mesmo e muito dos extremos. Em quem acreditar? O sentimento é de impotência.
Compreendo a frustração, a decepção e o desencanto de muitas pessoas com os políticos, ou com o sistema político. É fato que estava e está difícil esperar avanços significativos. Contudo, para nós cristãos, não deveria ser tão difícil assim acreditar que as coisas podem melhorar e que podemos, sim, viver numa cidade e num país mais justos, igualitários e pacíficos.
Digo isso porque nós cristãos cremos num sistema ainda mais complexo e utópico, que é o Reino de Deus. Particularmente, acho muito raso para os cristãos ficarem discutindo se é a ideologia de esquerda ou a de direta que vai melhorar a cidade, ou se a solução está no capitalismo ou no socialismo. Até porque quem entra nessas discussões em geral nem sabe exatamente do que está falando; é gente que usa “fascismo” e “leninismo” como se fosse vírgula.
Com base nas promessas do único homem que não nos frustra, que é Jesus, nós cristãos somos desafiados a crer em algo que os analistas sociais e políticos classificariam como utopia. O Evangelho nos anuncia e nos proporciona uma salvação integral, transformadora e irreversível, e nos traz um sentimento, uma convicção, um modo de viver e encarar a vida que nos colocam no céu antes de irmos para lá. Nas palavras do apóstolo Paulo, um Reino de plena paz, justiça e alegria (Rm 14:17). Sim, uma utopia que nos impõe um requisito indispensável para crer que será possível: a fé.
Na minha concepção política e cidadã, não serão governantes evangélicos – e muito menos uma teocracia – que melhorarão o cenário. A resposta, na verdade, está no comprometimento de homens e mulheres em pregar e praticar os valores do Reino de Deus. Ao anunciarmos e vivenciarmos individualmente e comunitariamente esse padrão de relações pessoais e institucionais, provocaremos inevitavelmente mudanças no sistema e geraremos um ambiente de maior justiça, equidade e paz.
Pior do que a corrupção do sistema político é a omissão da Igreja. Devemos exercer nossa cidadania não apenas na hora do voto, mas diariamente. Na perspectiva do Evangelho, nós cristãos, antes de sermos cidadãos brasileiros, somos cidadãos do Reino de Deus. Se queremos contribuir efetivamente para mudar nossa cidade, não podemos depositar nossa total esperança no sistema político vigente nem projetar todas as nossas expectativas nas eleições de semana que vem. Precisamos, sim, começar a viver e praticar hoje o que Jesus nos ensinou. Por mais utópico que possa parecer, é nisso que nós acreditamos: num Reino de paz, justiça e alegria, sinalizado e consolidado dia a dia por nós cristãos.
Quero desafiá-lo(a) a orar pelos candidatos e por sua cidade. Informe-se responsavelmente sobre a trajetória pessoal e política dos candidatos à prefeitura e à Câmara Municipal. Baseie seus critérios para escolher seu candidato nos princípios e valores do Reino. Assim certamente sua chance de exercer sua cidadania visando abençoar nossa cidade aumentará, e muito.
Que Deus abençoe São Paulo, e o Brasil!
Do amigo e pastor,
Tiago Valentin