“É isto uma parábola para a época presente; e, segundo esta, se oferecem tanto dons como sacrifícios, embora estes, no tocante à consciência, sejam ineficazes para aperfeiçoar aquele que presta culto, os quais não passam de ordenanças da carne, baseadas somente em comidas, e bebidas, e diversas abluções, impostas até ao tempo oportuno de reforma” (Hebreus 9:9–10).
Estamos no período natalino, o qual nós cristãos iniciamos com o que chamamos de Advento. Por meio deste texto, venho propor e refletir em breves linhas sobre uma reforma natalina.
O consagrado pastor e escritor estadunidense A. W. Tozer (1897–1963) disse certa vez: “Nestes últimos anos do século XX, nenhuma outra época do ano revela tanta religiosidade e tão pouca santidade como a época do Natal”.
Assim como eu, muitos concordam que o Natal como é comemorado hoje necessita muito de uma reforma radical. O que antes era uma expressão espontânea de um inocente prazer e celebração transformou-se num comércio excessivo e desordenado. Nos Estados Unidos, por exemplo, onde culturalmente as pessoas costumam competir entre si, há nessa época disputas sobre quem faz a árvore de Natal maior e mais vistosa, os mais belos jardins, adornados por renas e trenós, as casas mais enfeitadas e iluminadas, as roupas e acessórios mais chamativos. Não é muito diferente do que ocorre em nossa cultura brasileira, com a montagem dos mais diversos presépios ou nas nossas ruas, praças e parques, que neste período oferecem novas atrações e muitos enfeites e luzes. O Natal virou uma programa rentável do calendário.
Sobre isso, A. W. Tozer comentou: “Veja a que ponto chegamos na corrupção de nossos prazeres ao abandonar a reverência dos singelos pastores, do cântico dos anjos e da beleza do exército celestial! Hoje a estrela de Belém não poderia conduzir um sábio a Cristo; não seria distinguida entre os milhões de luzes artificiais penduradas no alto da rua principal da cidade pela Associação dos Comerciantes”.
Em nossos dias, não conseguiríamos escutar os anjos proclamando glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade, pois o som da canção natalina Noite Feliz, tocada a todo volume nos parques e nas lojas para atrair clientes, abafaria suas vozes.
No atual materialismo maluco, transformamos em cinzas a beleza das boas novas, corrompendo as emoções normais e mercantilizando o presente mais sagrado que o mundo já conheceu ou poderia conhecer. Cristo nasceu para nos trazer a Sua paz, e comemoramos a Sua vinda tornando a paz impossível durante seis semanas do ano. Não é a paz que domina a época do Natal, mas a tensão, a fadiga, a correria e a irritação.
Cristo veio nos livrar de uma dívida, e muitos reagem afundando-se em dívidas no Natal todos os anos, a fim de comprar coisas dispensáveis e muitas vezes oferecê-las a quem não os aprecia. Cristo veio para ajudar os pobres, e cobrimos de presentes os que não necessitam deles. O símbolo simples que nos foi dado por amor acabou substituído por presentes caros, porque chegamos a uma situação da qual não sabemos sair. Como dizia Tozer, no Natal, em nossos dias, “não é a beleza do Senhor, nosso Deus, que encontramos nessa situação, mas a feiura e a deformidade do pecado humano”.
Além disso, é preciso mencionar a maior valorização do Papai Noel como objeto de interesse popular em detrimento e até mesmo em substituição a Jesus Cristo, principalmente entre as crianças. Diante disso, o que faremos? Cultivaremos a humildade e a moderação. Proponho uma reforma do Natal que nos leve de volta à simplicidade e à suficiência de Cristo, eliminando de nossos corações e de nossas igrejas a ostentação e o paganismo emprestados de Roma e enfatizando a humildade da manjedoura.
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de benignidade, de humildade, de mansidão, de longanimidade” (Cl 3:12).
Texto inspirado no livro A Guerra do Espírito, de A. W. Tozer (Ed. Vida 1983)
Rev. Israel A. Rocha