“Depois de tudo te amarei / como se fosse sempre antes / como se de tanto esperar / sem que te visse nem chegasses / estivesses eternamente / respirando perto de mim […] / Perto de ti é perto de mim / e longe de tudo é a tua ausência” (Pablo Neruda).
Para mim, parte desse poema de Pablo Neruda expressa bem o que é o tempo do Advento. Para todos os cristãos, é um tempo de preparação e alegria, de expectativa, em que lembramos a “espera” do nascimento da Vida, do Filho do Homem; tempo de espera de mais uma chegada do menino, do Rei, do Grande Eu Sou, Jesus.
Mas a poesia, assim como a arte, por si só expressa com leveza essa espera. É possível amar como antes? Deus nos ama assim! Ele ama o Seu projeto inicial; Ele nos ama desde antes da nossa concepção e eternamente esteve e está respirando sobre nós. Seu sopro nos deu “fôlego de vida” (Gn 2:7). Longe d’Ele realmente tudo é ausência, pois Ele mesmo é a essência, é o tudo em nós; é a vida, o gozo, a alegria, a esperança, o passado, o presente e o futuro em nós. Ele é a eternidade! Também pôs Deus a eternidade no coração do homem, sem que este possa descobrir as obras que Ele fez desde o princípio até o fim (Ec 3:11).
Deus é divertido! Colocou em nosso coração essa saudade do Eterno, saudade que nos atrai em busca de Sua presença. Todos nós, homens e mulheres, esperamos a volta do Amor. Ele já está, mas ainda não. Ele já Se revelou, mas continua Se revelando. Ele já nos amou e continua nos amando. Ele quer que O descubramos. Tem prazer em que O busquemos. Alegra-se em que O encontremos. Por isso, um Jardim! Lugar de delícias, de prazer, de estar com Ele, conosco mesmos e com toda a Sua criação. Advento é isso: saudades do Jardim; saudades da companhia do Pai, espera revelada e presente do Seu amor por nós!
Tenho pra mim que os poetas se encontram mais vezes com Deus. Tenho pra mim que Deus é o autor de toda poesia. Por isso, o tempo do Advento é um tempo de “suspirar” pelo Amado de nossas almas. É tempo de se apaixonar novamente pela vida. É tempo de renovar a nossa mente e a nossa fé. É tempo de confiar que, sim, existe um lugar melhor para habitar. Advento é tempo de re-esperançar! Tempo de lembrar que o Amor veio até nós em forma de gente, como um bebê, e esse Amor fincou Sua existência aqui na Terra, entre os homens, e nunca mais nos deixou. Ah! Que bom suspirar, esperando, experimentando e vivendo esse Amor ontem, hoje e amanhã!
Pastora Laura Valentin, no segundo domingo do Advento, quando continuamos a suspirar pelo Amor.