Socorro, os ídolos voltaram!

Ído­lo é toda repre­sen­ta­ção que exer­ce fas­cí­nio, que des­per­ta pai­xões inten­sas e é admi­ra­do e vis­to como dota­do de uma aura espe­ci­al. Pode assu­mir diver­sas for­mas, seja de um obje­to, um ani­mal, de uma pes­soa viva ou mor­ta, e ser mol­da­do em ges­so, madei­ra, pedra bru­ta e até ouro.

O homem sem­pre teve uma pre­dis­po­si­ção inte­ri­or para cri­ar “ído­los” e neles depo­si­tar suas angús­ti­as, ale­gri­as, espe­ran­ças e fan­ta­si­as. O povo hebreu, da mes­ma for­ma que os cris­tãos moder­nos, não esta­va livre de ter os seus. O Todo-Pode­ro­so teve tan­to tra­ba­lho de tirar aque­la gen­te do Egi­to, mas bas­tou Moi­sés virar as cos­tas para que des­sem a um boví­deo a hon­ra da libertação.

O Sal­mo 115 resu­me bem as carac­te­rís­ti­cas dos ído­los: “têm boca e não falam; têm olhos e não vêem; têm ouvi­dos e não ouvem; têm nariz e não chei­ram. Suas mãos não apal­pam; seus pés não andam; som nenhum lhes sai da garganta”.

Como tudo no cam­po da reli­gião evo­luiu, os ído­los tam­bém acom­pa­nha­ram esta evo­lu­ção e hoje já não são mais fixos, nem são cala­dos, mane­tas ou cegos, pelo con­trá­rio, enxer­gam mui­to bem o seu públi­co, se movi­men­tam, e o som lhes sai da boca com cen­te­nas de decibéis.

Nós, evan­gé­li­cos não temos do que recla­mar – antes havia os ído­los cató­li­cos, repre­sen­ta­dos pela ico­no­gra­fia medi­e­val de san­tos e san­tas. Hoje tam­bém temos os nossos!

O ído­lo de anti­ga­men­te espe­ra­va uma ofe­ren­da sim­ples na for­ma de uma moe­da, uma vela ace­sa ou uma pre­ce. Hoje, não, eles são mui­to mais exi­gen­tes e cobram altos cachês para serem vistos.

Ído­los são vai­do­sos – exi­gem sem­pre lugar de des­ta­que e uma mul­ti­dão de olhos. Tem um ído­lo, loi­ri­nho, e bas­tan­te jovem, que exi­ge em con­tra­to pelo menos 3 mil pes­so­as reu­ni­das para vê-lo. Senão ele não abre a boca.

Eles não podem se des­cul­par dizen­do que não que­rem ser ído­los, se agem como tal. Acei­tam essa con­di­ção sem recla­mar, posam para fotos de encar­tes auto­gra­fa­dos por eles, cobram pol­pu­dos cachês, iso­lam-se cer­ca­dos por asses­so­res, o que aumen­ta o gla­mour e o fas­cí­nio, fazem caras e tre­jei­tos à moda dos ído­los popu­la­res e só com­pa­re­cem em even­tos super­lo­ta­dos. Por­que gos­ta de ser vis­to, todo ído­lo é o cen­tro da aten­ção e tudo apon­ta para ele mes­mo. Os homens de Deus, seja pre­gan­do, seja lou­van­do, ou fazen­do qual­quer outra coi­sa, cor­rem sem­pre o ris­co de ter as luzes apon­ta­das para si, e não para Cris­to, pois é sobre eles que bri­lham os holofotes.

Para o ído­lo, todo altar é pal­co. Cer­ta­men­te, nem todo aque­le que ocu­pa um pal­co é um ído­lo, mas são pou­cos os que não se dei­xam levar. Para esses raros, o pal­co trans­for­ma-se num altar.

Que moti­va­ções há por trás de um “ído­lo” moder­no? As moti­va­ções explí­ci­tas são: “não faze­mos nada para nós”, e “tudo é para a gló­ria de Deus”. Infe­liz­men­te essas expli­ca­ções nem sem­pre resis­tem a uma ava­li­a­ção mais pro­fun­da, e pro­cu­ra-se escon­der com elas a per­da do alvo ini­ci­al. Um famo­so com­po­si­tor evan­gé­li­co con­fes­sou que quan­do ele esta­va no auge de sua vida artís­ti­ca e era admi­ra­do por todos, foi jus­ta­men­te ali que os seus olhos não esta­vam mais pos­tos em Cristo.

Quem tem dis­cer­ni­men­to e conhe­ce um pou­co da natu­re­za huma­na sabe que uma das for­ças mais arrai­ga­das no ser huma­no é a vai­da­de. Não é à toa que Salo­mão ter­mi­na sua vida dizen­do: “vai­da­de das vai­da­des, tudo é vai­da­de” (Ecl 1.2). Até entre os dis­cí­pu­los a vai­da­de se fazia pre­sen­te – e dois deles pedi­ram lugar de des­ta­que à Jesus, para que na gló­ria pudes­sem sen­tar-se um à direi­ta e outro à esquer­da. O moti­vo? Que­ri­am ser vis­tos pela pla­téia de redi­mi­dos no céu.

Não pode­mos jamais nos esque­cer que aque­le outro­ra anjo de gran­de bele­za e for­mo­su­ra,  per­deu a sua con­di­ção ori­gi­nal por con­ta da vai­da­de. Ele era que­ru­bim da guar­da ungi­do e per­fei­to no seu cami­nho, até que “ele­vou-se o teu cora­ção por cau­sa da tua for­mo­su­ra, cor­rom­pes­te a tua sabe­do­ria por cau­sa do teu res­plen­dor” (Ez 28.17). É fácil de per­ce­ber que tudo que é exces­si­va­men­te belo, pom­po­so, e que apon­ta demais para si, traz no seu bojo o gér­men da des­trui­ção do ver­da­dei­ro obje­ti­vo, que é Cristo.

Cons­ta­ta­mos com tris­te­za que a Igre­ja de Cris­to tem sido um pal­co para as mais diver­sas mani­fes­ta­ções da vai­da­de huma­na. Tal­vez seja por isso que o após­to­lo João, pro­fe­ti­zan­do esta situ­a­ção, ter­mi­na sua car­ta com uma reco­men­da­ção: “Filhi­nhos, guar­dai-vos dos ído­los” (1Jo 5.21). E eu com­ple­men­to: dos anti­gos e dos modernos.

Como Deus não divi­de a sua gló­ria com nin­guém, é a Ele, e somen­te a ele, toda a glória!

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

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