“Jesus dali, viu um homem chamado Levi sentado na coletoria e disse-lhe: Segue-me! Ele se levantou e o seguiu” (Mateus 9.9)
Sempre me fascinou o fato de Jesus ter chamado alguns homens para segui-Lo e eles de pronto abandonarem seus afazeres, sem nada perguntar. Aos pescadores disse-lhes: “vinde após mim”, e estes “deixaram imediatamente as redes e o seguiram” (Mt 4.20). Encontrou a Levi, o publicano, sentado na coletoria, e chamou‑o: “Segue-me!” e ele “se levantou e o seguiu” (Mt 9.9).
Cadê o programa? O contrato? Quais são os riscos? Onde estão as garantias? É bem provável que eles já tivessem ouvido falar do Messias, mas isso não diminui o valor do importante passo que deram.
O que Jesus deseja que eu faça não é decorar um conjunto de regras, do que “pode” e do que “não pode” fazer, nem repetir gestos, nem que pratiquemos compulsivamente determinados rituais, mas simplesmente segui-Lo. Talvez a palavra que melhor resume uma vida cristã saudável seja justamente esta: “Siga-me”.
De uma forma geral olhamos o que as pessoas estão fazendo de errado em suas vidas, e de pronto exclamamos para elas: “abandonem a bebida… parem de se prostituir… chega de mentir…”. É a tentativa de mudar comportamentos sem que se mude o indivíduo. Felizmente, o programa de vida que Jesus tem pra nós começa com uma só palavra: “Segue-me!”.
Se formos honestos haveremos de reconhecer que somos seres disfuncionais, que precisam de constantes ajustes. Jesus sabe disso e em nenhum momento Ele espera que eu apresente “melhoras” para acompanha-lo. Ao contrário, segui-lo é o tratamento que Ele tem para as minhas disfunções.
E nisso, estamos todos na mesma luta, qual seja, a de submeter o nosso ser a Cristo e vencer o pecado que deseja nos dominar. Levi, por exemplo, pertencia à classe dos publicanos, que não eram bem-vistos pelo povo. Talvez hoje fôssemos até ele e tentaríamos convence-lo de seus erros. Jesus, porém, vai ao seu encontro e simplesmente o convida a segui-lo – e nenhuma palavra sobre o seu estado!
Possivelmente muitos cristãos terão de conviver o resto de seus dias com alguns traços, mazelas ou doenças interiores que estão arraigadas na alma. No fundo sabem que, por amor a Cristo, haverão de trilhar uma vida de renúncia – diária, árdua, consciente, mas não amargurada. É como o alcoólatra que renunciou à bebida, mas cônscio que o mal continua vivo dentro dele, e dependerá da graça divina enquanto viver. O apóstolo Paulo teve um espinho na carne, e parece ter suportado isso por toda sua vida. A Bíblia revela que Elias era um homem semelhante a nós, sujeito às “mesmas paixões”, e mesmo assim Deus o trasladou ao céu. Até o rei Davi, em sua velhice, com o corpo entorpecido e senil, conservou até o fim o gosto de estar ao lado de uma moçoila, nem que fosse só para se aquecer (1Rs 1.1–4).
Claro que seguir a Cristo também envolve a mente e o racional. Mas o problema é quando as perguntas se tornam um impedimento para levantar e seguir. Não que a resposta irá ajudá-los a tomar uma decisão, porque tão logo se lhe respondam, já maquinam outra e outra dúvida. Qual o medo? Sabem no íntimo que se der por convencidos terão de “abandonar suas redes”.
Em Cristo não haverá respostas “a priori”. É preciso ter a coragem de se levantar e segui-Lo. A estes, Ele dará total atenção, revelará o que há em seus corações, contará segredos reservados aos que Lhe são íntimos e desvelará tesouros ocultos. São aos seus discípulos e seguidores que Ele se agrada em dizer coisas que jamais diria às multidões, e responderá para nós algumas questões – não todas – pois em nossa finitude seríamos incapazes de compreender.
Faça como Levi: levante-se e siga o Mestre sem fazer muitas perguntas. No momento certo ele te explicará.
Pr. Daniel Rocha