Lá estava eu, numa quarta-feira à noite, dia de minha folga, pensando com meus botões o que poderia fazer para o lanche dos meus filhos para o dia seguinte. Não sou aquela mãe que não serve industrializados para seus pequenos, mas, de vez em quando, penso que posso fazer algo mais natural e com minhas próprias mãos. Além disso, uma de minhas linguagens de amor é o serviço. Gosto de agradar aqueles que amo com alguns quitutes que sei fazer. Enfim, voltando ao “lanchinho” dos pequenos, pensei: “Um bolo iria muito bem!”.
Sei de cabeça algumas receitas de bolo. Faça-os sempre em minha casa. Bolo formigueiro, bom-bocado cremoso, bolo de banana com aveia e aquele superbolo de cenoura com cobertura de chocolate que sempre agrada a todos. Decidi. Vou fazer o bolo de cenoura! É mais natural, é fofinho e as crianças pequenas e grandes (no caso do meu esposo) adoram.
A primeira coisa que faço é untar a fôrma. Coloco a farinha já polvilhada num outro recipiente e pego meu liquidificador. Cenouras picadinhas, açúcar, óleo e um pouquinho de água – tudo dentro do liquidificador, chacoalhando alguns minutinhos. Depois de verificar a homogeneidade do creme, lanço‑o com alegria junto à farinha já preparada. Não uso batedeira nesse processo. Gosto de usar meus muques. Lembro que, quando eu era criança, minha mãe tinha uma ajudante chamada Imaculada (aliás, ainda é ajudante de minha mãe e muito amada por nossa família). Ela sabe fazer um bolo de cenoura como ninguém! Lembro-me de observar seus braços e seus muques nesse processo. Uma bela academia ela fazia!
Enfim, repetindo o que aprendi desde criança e trazendo à minha memória essas lembranças tão gostosas, percebi, enquanto batia a massa do bolo, que a sua textura não estava ficando como de costume. Insisti um pouquinho mais, batendo e batendo, mas a massa continuava estranha. Refiz todo o processo do bolo mentalmente e percebi que havia esquecido algo fundamental: o ovo. Poxa vida, justo o ovo!
Pensei em jogar a massa fora, mas eu me lembrei de que um bolo pode ser feito de várias maneiras e que podemos tentar fazer aquilo que sempre fazemos de uma forma diferente.
Na receita que costumo fazer, o ovo é batido no liquidificador junto com os outros ingredientes. Mas eu me esqueci de colocá-lo. Então, decidi bater separadamente as claras e as gemas. Acrescentei primeiro as gemas na massa e bati mais um pouco. Opa! A massa começou a ficar como de costume. Acrescentei por último as claras em neve. Aí sim! Massa homogênea, lisa e linda, pronta para ser colocada na fôrma e ir ao forno, que já estava quentinho.
Enquanto finalizava esse processo, percebi um sussurro em meus ouvidos: “Melhor é o final das coisas que o começo!” Trata-se de um versículo de Eclesiastes que, na íntegra, diz assim: “Melhor é o fim das coisas do que o princípio delas; melhor é o paciente de espírito do que o altivo de espírito” (Ec 7:8). Pensei comigo: “Sempre há tempo para se colocar o ovo”. Ou seja, podemos mudar o jeito de fazer o que sempre fazemos; podemos acrescentar o que falta num outro momento; podemos não desistir de realizar algo que tanto queremos. Sempre é possível aproveitar o resultado final, ainda que os caminhos pelos quais passamos precisem ser revistos e ainda que algo seja acrescentado bem no finalzinho.
Na verdade, o bolo ficou lindo e saboroso. E eu aprendi uma lição: podemos perseverar de formas diferentes. Sempre há tempo para se colocar o ovo em nossa vida!
Com cheirinho de bolo de cenoura assado,
Pra. Laura Valentin