O vício de comentar antes mesmo de completar a leitura.
Recentemente, postei em minha rede social o texto de uma colunista famosa por ter achado interessante e abrangente. Como gostei muito do que foi escrito, comentei: “Aplausos!”. Uma pessoa então respondeu: “Essa colunista é esquerdista, então cansa. Nem merece tantos aplausos assim”. Aquilo me encasquetou (rs). Li o texto porque o título me interessou e a fonte era confiável. Passei adiante porque houve uma empatia com o conteúdo.
Comentários são comentários e viva a diversidade de pensamentos. Mas a certeza de que a pessoa não leu na íntegra o conteúdo diminui a credibilidade do comentário. Isso me levou a refletir sobre o comportamento midiático pós-moderno e pontuar alguns fatores interessantes na mídia virtual que temos atualmente.
O vício de comentar antes mesmo de ler
A maioria das pessoas está tão viciada em comentar algo que, ao ler duas linhas de qualquer coisa, já dispara uma opinião pré-formada ou manipulada. Não se percebe isso tão latente no Twitter, Instagram ou WhatsApp, mas o Facebook parece já ter um clima palpiteiro e de discórdia, que gera brigas sem fim, na política, na religião etc. Qualquer comentário sobre amenidades pode tornar-se um verdadeiro embate pessoal.
A imprensa ri desse mundo virtual tão fácil de manipular, onde temos sido verdadeiras marionetes que absorvem e replicam informações duvidosas sem checar sua veracidade. Esse mundo virtual tem aceitado um jornalismo de qualidade cada vez pior e ofensivo à língua portuguesa e ao intelecto do leitor.
#FicaaDica 1. Perca o vício de comentar sobre tudo sem ler na íntegra. Se for comentar, leia todo o conteúdo para não pagar mico. Retenha o que é bom e jogue o resto fora. Verifique sempre a fonte da informação e evite sair por aí papagaiando notícias falsas.
A proximidade virtual e o “direito” que isso me dá de criticar o próximo
As redes sociais proporcionam uma suposta proximidade entre as pessoas, principalmente entre celebridades e reles mortais como eu e você, que infelizmente tem gerado situações constrangedoras.
Nos EUA, há um programa de entrevistas que seleciona algumas celebridades para lerem comentários cruéis sobre elas no Twitter (há vídeos no Youtube disponíveis e legendados para conferir). Quando você vê a pessoa alvo da ofensa lendo aquilo, percebe que quem escreveu não tinha noção de que ela leria e ficaria abalada. Há mesmo muita raiva sem motivo aparente propagada na internet.
Darei um exemplo prático sobre alguém com grande exposição na mídia. Não curto o estilo do Silas Malafaia. A forma como ele se expressa me faz repudiá-lo em vez de me atrair para a sua linha de pensamento. Mas isso não me dá o direito de sair por aí denegrindo sua imagem ou ofendendo‑o. Isso vale também para pessoas que gostam do estilo dele e não se identificam com pregadores com os quais eu tenho afinidade.
Eu mesma já fui ofendida por pessoas que não gostaram de um ou outro artigo que publiquei. Se eu fosse considerar esse tipo de opinião, eu sentaria, choraria e nunca mais usaria o dom que Deus me deu, que é o de escrever sobre o que observo ao meu redor. Prefiro ignorar as ofensas pessoais e estar sempre aberta a críticas construtivas e bem fundamentadas.
Criar um filtro antiofensa é essencial para prosseguir e saber que comentários não definem quem somos e que curtidas são tão superficiais quanto falsos cumprimentos no elevador.
#Ficaadica 2. Mais amor, por favor, e menos dedinhos vorazes em destilar veneno. A palavra mansa acalma a ira e comentários sensatos, equilibrados e críticos, com o intuito de edificar, e não de humilhar ou ofender, são sempre bem-vindos.
Que tipo de leitores somos?
Estatísticas revelam que o brasileiro lê em média apenas um livro completo por ano; quase 10% da nossa nação são analfabetos ou iletrados; cerca de 80% são considerados analfabetos funcionais –retêm no máximo 50% do que leem. Resumindo, sobram 10%, ou pouco mais de 20 milhões de brasileiros, que compreendem tudo o que lhes é exposto pela mídia, os quais, de acordo com sua formação educacional, social, religiosa, financeira e cultural, criam suas interpretações e influenciam os outros 90%.
A tecnologia nos auxilia a ser mais informados, porém menos exigentes e também cada vez mais impacientes. Tenho um canal no Youtube chamado “Juntos Mudando o Mundo”. Cada vídeo que faço dura cerca de 10 minutos. O próprio Youtube mostra quantas visualizações tem cada um, a origem delas, o perfil do público e o tempo médio da visualização, que é de 3 minutos e 40 segundos, menos de 50% da duração de cada vídeo. Isso me faz supor que alguns comentários sobre o que eu publico se baseiam mais no que a pessoa já pensava do que no que ela absorveu do vídeo.
#Ficaadica 3. Assistimos trilogias cinematográficas de longas horas, novelas e séries de pelo menos 30 minutos e queremos conteúdos informativos sobre a realidade mastigados e digeridos. Estamos cada vez mais dispersos e com uma retenção menor do que a de uma criança na segunda infância, que só consegue focar em algo por 15 a 30 minutos.
O apóstolo Paulo disse a Timóteo: “Pois vai chegar o tempo em que as pessoas não vão dar atenção ao verdadeiro ensinamento, mas seguirão os seus próprios desejos. E arranjarão para si mesmas uma porção de mestres, que vão dizer a elas o que elas querem ouvir. Essas pessoas deixarão de ouvir a verdade para dar atenção às lendas. Mas você, seja moderado em todas as situações. Suporte o sofrimento, faça o trabalho de um pregador do evangelho e cumpra bem o seu dever de servo de Deus” (2 Tm 4:3–5).
Podemos reverter esse quadro com hábitos como mais leitura, concentração, análise de texto, exercícios de leitura indutiva da palavra de Deus e oração. Podemos ler algo até rapidamente, mas concentrados no que está em nossas mãos, para não agirmos como porcos diante de pérolas. A palavra de Deus e sua expressão artística, cultural e espiritual são as maiores riquezas que temos e podemos usar para influenciar o mundo.
Por Carla Stracke,
membro da I.M. em Itaberaba