Metodismo nos Estados Unidos

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A pri­mei­ra “Soci­e­da­de” meto­dis­ta sur­giu em Lon­dres em fins de 1739; vin­te anos depois já se implan­ta­va no Novo Mun­do. Pois em 1760, Nata­na­el Gil­bert, con­ver­ti­do por João Wes­ley na Ingla­ter­ra, ao vol­tar para Anti­gua, no Cari­be, come­çou a com­par­ti­lhar as boas-novas com a popu­la­ção escra­va. O mes­mo impul­so de mis­são espon­tâ­nea fez o Meto­dis­mo em Vir­gí­nia e Mary­land, cons­truiu rudes cape­las de pau roli­ço, iti­ne­rou diver­sas das “Três Colô­ni­as”, e até des­per­tou voca­ções entre jovens norte-americanos!

Pou­co depois, numa outra famí­lia de meto­dis­tas imi­gran­tes da Irlan­da, a Sra. Bar­ba­ra Heck esta­ria pres­si­o­nan­do seu pri­mo e pre­ga­dor meto­dis­ta, Fili­pe Embury, a ini­ci­ar uma mis­são de pro­cla­ma­ção em New York. Bem mais para o nor­te, encon­tra­va-se um jovem imi­gran­te, Gui­lher­me Black, enga­ja­do na pre­ga­ção lei­ga na Ter­ra Nova, hoje par­te do Cana­dá. Sim, a con­clu­são é qua­se irre­sis­tí­vel de que uma das qua­li­da­des do Meto­dis­mo nos pri­mór­di­os era o seu impul­so mis­si­o­ná­rio, o qual o leva­ria, de modo pró­prio a mui­tas par­tes do mun­do e, com tem­po, faria do Meto­dis­mo um movi­men­to ver­da­dei­ra­men­te mun­di­al. Só alguns anos depois dos come­ços men­ci­o­na­dos é que, a pedi­do dos meto­dis­tas arre­ba­nha­dos do Novo Mun­do, João Wes­ley e os meto­dis­tas ingle­ses envi­a­ram obrei­ros à gui­sa de missionários.

O metodismo norte-americano se transforma em igreja: a Igreja Episcopal

João Wes­ley des­ta­cou alguns dos seus melho­res pre­ga­do­res como mis­si­o­ná­ri­os na Amé­ri­ca. Embo­ra tenha ele os man­da­do para todos os locais men­ci­o­na­dos aci­ma, vamos ficar ago­ra só com o ter­ri­tó­rio que pas­sa­ria a ser os Esta­dos Uni­dos. Quan­do Wes­ley come­çou a envi­ar obrei­ros para as colô­ni­as ingle­sas na Amé­ri­ca, já esta­va bem adi­an­ta­do o movi­men­to de inde­pen­dên­cia e, a par­tir de 1775, o movi­men­to já toma­va a foram de uma Guer­ra de Independência.

Nos oito anos de guer­ra, todos os mis­si­o­ná­ri­os que Wes­ley havia envi­a­do vol­ta­ram, menos um, Fran­cis Asbury. Asbury, que nun­ca mais vol­tou para sua Ingla­ter­ra nati­va, tor­nou-se um dos prin­ci­pais líde­res sur­gi­do duran­te os anos do con­fli­to. Um fato curi­o­so é que João Wes­ley, um inglês, não apoi­a­ra o movi­men­to de inde­pen­dên­cia, o que gera­va sus­pei­tas que os meto­dis­tas das colô­ni­as tam­bém não apoi­a­vam-no, o que não era ver­da­de. Ape­sar des­ta difi­cul­da­de e desas­sos­se­go cau­sa­do pela guer­ra, o núme­ro de meto­dis­tas aumen­ta­va rapi­da­men­te. Ao fim da guer­ra, já con­ta­vam com uns 15.000 e mais de 80 pregadores.

O pró­prio Wes­ley, que não apro­va­ra a revo­lu­ção, ago­ra deu ple­no apoio na nova situ­a­ção; na rea­li­da­de, ele pre­pa­rou uma litur­gia (base­a­do no Livro de Ora­ção Comum, o qual ele con­si­de­ra­va a melhor litur­gia do mun­do) e ain­da um livro canô­ni­co (a Dis­ci­pli­na) e orde­nou dois pre­ga­do­res como pres­bí­te­ros e o Dr. Tomás Coke como “supe­rin­ten­den­te” para os Meto­dis­tas na Amé­ri­ca. Isto é, tomou os pas­sos para que os Meto­dis­tas na Amé­ri­ca se tor­nas­sem Igre­ja. Ele tomou um outro pas­so nes­sa dire­ção, che­gan­do a nome­ar tam­bém Fran­cis Asbury como supe­rin­ten­den­te (ou seja, Bis­po). Asbury, porém, reco­nhe­ceu o espí­ri­to da inde­pen­dên­cia dos meto­dis­tas na Amé­ri­ca; daí ele só acei­tou a lide­ran­ça medi­an­te elei­ção pelos pre­ga­do­res, e não nome­a­ção por Wes­ley, dis­tan­te há tan­tos mil quilô­me­tros! Sim, por vol­ta de Natal, 1784, os pre­ga­do­res se reu­ni­ram e, sob a dire­ção de Coke, fun­da­ram a Igre­ja Meto­dis­ta Epis­co­pal (antes o meto­dis­mo era movi­men­to, não Igre­ja); ele­ge­ram Asbury, ain­da lei­go, Diá­co­no, Pres­bí­te­ro e Supe­rin­ten­den­te em três dias suces­si­vos; e, dos seus par­cos recur­sos huma­nos e finan­cei­ros, esta­be­le­ce­ram uma facul­da­de, Cokes­bury Col­le­ge (apro­vei­tan­do os nomes de Coke e Asbury, os dois “supe­rin­ten­den­tes” ou bis­pos) e man­da­ram mis­si­o­ná­ri­os para Anti­ga e Ter­ra Nova, ape­sar do fato de só exis­ti­rem pou­co mais de 80 pre­ga­do­res meto­dis­tas no país.

Assim nas­ceu a Igre­ja Meto­dis­ta Epis­co­pal, a menor deno­mi­na­ção no con­ti­nen­te nor­te-ame­ri­ca­no; meio sécu­lo depois era des­ti­na­da a ser a mai­or. Algu­mas das razões para isto se seguem:

A Igreja Metodista Episcopal descobre a “Fronteira”

Deve­mos lem­brar que os Esta­dos Uni­dos, em 1784, era, na rea­li­da­de, uma peque­na fai­xa de ter­ra des­de Geor­gia até Cana­dá no Nor­te, ao lon­go da cos­ta do Atlân­ti­co. Mas a popu­la­ção bran­ca esta­va emi­gran­do para o Oes­te em bus­ca de novas ter­ras. O Oes­te sem­pre se afas­ta­va mais e mais, pois a expan­são ter­ri­to­ri­al do país foi espan­to­sa. Por com­pra, con­quis­ta mili­tar e com­pra e diplo­ma­cia, os Esta­dos Uni­dos pas­sa­ram a ser um país de dimen­sões con­ti­nen­tais em ape­nas 70 anos! Cer­tos fato­res fize­ram com que os meto­dis­tas pudes­sem acom­pa­nhar a mar­cha para o Oes­te, ou seja, a fron­tei­ra, mais efi­ci­en­te­men­te que qual­quer outro gru­po. Uma des­tas razões, sem dúvi­da, é o seu vigor espi­ri­tu­al e um outro é a sua auto-imagem.
Já em 1784, os 80 e pou­cos pre­ga­do­res meto­dis­tas reu­ni­dos na Cape­la de Lovely Lane em Bal­ti­mo­re havi­am con­cluí­do que Deus os colo­cou na Amé­ri­ca para “refor­mar o con­ti­nen­te e espa­lhar a san­ti­da­de Bíbli­ca por toda a par­te”. Sim, esta­vam imbuí­dos de um pro­fun­do sen­so de mis­são, que os impulsionava.

Tam­bém o tipo do minis­té­rio meto­dis­ta era admi­ra­vel­men­te adap­ta­do à fron­tei­ra. O pre­ga­dor meto­dis­ta era cha­ma­do de cir­cui­to rider, ou seja, “cava­lei­ro de cir­cui­to”, sen­do que seu cir­cui­to (paró­quia) pode­ria Ter 30, 50 ou mais luga­res regu­la­res de pre­ga­ção. Assim, um pre­ga­dor orde­na­do, auxi­li­a­do por mui­tos lei­gos e lei­gas, aten­dia a uma gran­de área na fron­tei­ra, espar­sa­men­te povoada.
E, final­men­te, os meto­dis­tas apren­de­ram dos pres­bi­te­ri­a­nos um tipo de evan­ge­li­za­ção mui­to apro­pri­a­do à fron­tei­ra, a camp mee­ting (reu­nião de acam­pa­men­to), na qual famí­li­as vinham de con­si­de­rá­veis dis­tân­ci­as, de car­ro­ças, e acam­pa­vam duran­te uma sema­na ou mais, assis­ti­am pre­ga­ção pelo menos três vezes por dia e em que se rea­li­za­vam con­ver­sões em gran­de núme­ro. Havia, mui­tas vezes, mani­fes­ta­ções emo­ci­o­nais; estas espan­ta­ram os pres­bi­te­ri­a­nos, mas Bis­po Asbury via nos acam­pa­men­tos “o tem­po de safra” dos metodistas.

O metodismo Americano e a Escravidão

Hoje a con­de­na­ção da escra­vi­dão é uni­ver­sal; no Bra­sil veio sua eman­ci­pa­ção for­mal com a “Lei Áurea”, e ins­tau­ra-se ago­ra uma luta sem tré­gua con­tra o mal mais sutil do racis­mo. Mas outro­ra, pou­cas foram as vozes que se levan­ta­ram con­tra a ins­ti­tui­ção, pra­ti­ca­da no mun­do intei­ro. Os pri­mei­ros escra­vos negros foram intro­du­zi­dos em ter­ri­tó­ri­os que seri­am os EUA nos pri­mór­di­os da colo­ni­za­ção ingle­sa, a saber: 1619! Pas­sou a ser pon­to pací­fi­co que a agri­cul­tu­ra nas colô­ni­as depen­dia do escra­vo. O pró­prio Padre Antô­nio Viei­ra diria no mes­mo sécu­lo: “Sem Ango­la, não há Brasil”.

Os pri­mei­ros a ques­ti­o­na­rem o sis­te­ma foram os “Ami­gos”; João Wes­ley tam­bém con­de­na­va a escra­vi­dão como uma “vila­nia exe­crá­vel”. Ele não admi­tia, sob hipó­te­se algu­ma, que um ser huma­no fos­se dono de um outro; daí escre­veu con­tra a escra­vi­dão e enco­ra­ja­va Wil­ber­for­ce na sua luta no par­la­men­to inglês con­tra o mal. Mas nas colô­ni­as ame­ri­ca­nas, quem labo­ra­va nas fazen­das de arroz eram os negros e, ape­sar da Decla­ra­ção da Inde­pen­dên­cia (1776) afir­mar como uma “ver­da­de auto-evi­den­te” que todos foram dota­dos pelo Cri­a­dor do Direi­to da Liber­da­de, no novo país (EUA) a escra­vi­dão não foi abo­li­da na épo­ca! As pou­cas vozes de pro­tes­to ao sis­te­ma não foram sufi­ci­en­tes para levan­tar a cons­ci­ên­cia da Igre­ja de modo geral; e, com o tre­men­do aumen­to da pro­du­ção do algo­dão, para a qual pen­sa­va-se indis­pen­sá­vel o labor negro, cri­ou-se um argu­men­to tan­to filo­só­fi­co como a Bíblia que apre­sen­ta­va a escra­vi­dão não como um mal, senão como bem posi­ti­vo! Foi só de 1830 em dian­te que o movi­men­to de abo­li­ção come­çou a cres­cer; e nes­ta luta mui­tos meto­dis­tas par­ti­ci­pa­ram plenamente.

Mas a tra­gé­dia foi que a Igre­ja como um todo não ade­riu logo ao movi­men­to. As gran­des deno­mi­na­ções che­ga­ram até a se racha­rem, resul­ta­do em Igre­jas “do Nor­te” e “do Sul”. Isto atin­giu o Meto­dis­mo em 1844 e nas­ce a Igre­ja Meto­dis­ta Epis­co­pal, Sul.

No Nor­te do país, freqüen­te­men­te os abo­li­ci­o­nis­ta meto­dis­tas eram tam­bém seus melho­res evan­ge­lis­tas; no Sul, infe­liz­men­te, a defe­sa da escra­vi­dão foi como uma cunho, sepa­ran­do as coi­sas con­si­de­ra­das espi­ri­tu­ais das secu­la­res. Esta infe­liz dico­to­mia iria influ­en­ci­ar o pen­sa­men­to e a ação das mis­sões des­tas Igre­jas no Bra­sil (Meto­dis­tas, Pres­bi­te­ri­a­nas, Batis­tas). Aliás, par­te do desa­fio para o Meto­dis­mo hoje é rea­pro­pri­ar a visão e a prá­xis de Wesley.

Metodismo e a Educação

A Esco­la Domi­ni­cal nas­ce da edu­ca­ção popu­lar orga­ni­za­da por Rober­to Rai­kes, em 1780: Wes­ley apoi­ou enquan­to mui­tos ques­ti­o­na­vam o uso do Domin­go para ensi­nar cri­an­ças a ler e escre­ver! Fran­cis Asbury fun­dou uma das pri­mei­ras Esco­las Domi­ni­cais nos Esta­dos Uni­dos. Já vimos como na “Con­fe­rên­cia de Natal” a Igre­ja Meto­dis­ta Epis­co­pal fun­dou Cokes­bury Col­le­ge que, entan­to, foi de cur­ta duração.

A par­tir de 1820, quan­do o Con­cí­lio Geral per­mi­tiu a nome­a­ção de iti­ne­ran­tes meto­dis­tas como rei­to­res de ins­ti­tui­ções de ensi­no, o Meto­dis­mo come­çou a con­tri­buir sig­ni­fi­ca­ti­va­men­te para a edu­ca­ção supe­ri­or do país. Demo­ra­mos em orga­ni­zar semi­ná­ri­os teo­ló­gi­cos por cau­sa do nos­so con­cei­to de voca­ção e méto­dos de trei­na­men­to, a saber: o sis­te­ma de apren­diz, pelo qual um jovem pre­ga­dor apren­dia o ofí­cio acom­pa­nhan­do um mais expe­ri­en­te no seu tra­ba­lho, e abun­dan­tes leituras.

Bre­ve­men­te, porém, o Meto­dis­mo, ao lado de outras deno­mi­na­ções, povo­a­ria os EUA de esco­las de todos os níveis, inclu­si­ve o uni­ver­si­tá­rio. A esco­la pas­sa­ria a ser uma das mais evi­den­tes con­tri­bui­ções às mis­sões que fun­da­va em todos do continentes.

O metodismo e as Missões

A era de mis­sões pro­tes­tan­tes moder­nas foi inau­gu­ra­da por Wil­li­am Carey, batis­ta, no final do sécu­lo XVIII. Já vimos a ênfa­se mis­si­o­ná­ria no meto­dis­mo wes­leya­no. Ape­nas em esbo­ço, veja­mos como o meto­dis­mo na Amé­ri­ca do Nor­te seguiu esta tendência:
A evan­ge­li­za­ção da Fronteira;
A evan­ge­li­za­ção de indí­ge­nas, a par­tir de 1820;
A evan­ge­li­za­ção de escra­vos negros, des­de a mes­ma época;
Mis­sões no além-mar, a par­tir da mis­são em Libé­ria, fun­da­da em 1832.

Para Refletir

Os meto­dis­tas nos dias colo­ni­ais na Amé­ri­ca do Nor­te tive­ram mui­ta dis­po­si­ção para acom­pa­nhar o povo nas fron­tei­ras na sua mar­cha para o Oes­te. A ima­gem popu­lar do pre­ga­dor iti­ne­ran­te meto­dis­ta se refle­te nes­tas obser­va­ções atri­buí­das aos povos migran­do para o Oeste.
Os minis­tros pres­bi­te­ri­a­nos che­gam até nós somen­te depois do tér­mi­no da cons­tru­ção da estra­da de fer­ro e o esta­be­le­ci­men­to de horá­ri­os regu­la­res dos trens em nos­sas aldei­as. Os minis­tros da Igre­ja Epis­co­pal che­gam somen­te depois de ins­ta­la­do o ser­vi­ço de car­ro-lei­to nos trens. Os minis­tros iti­ne­ran­tes meto­dis­tas vêm jun­to com a gen­te a pé e a cava­lo. O que sig­ni­fi­ca isto para nós hoje? Con­ser­va­mos este mes­mo espí­ri­to evan­ge­lís­ti­co hoje? Acom­pa­nha­mos o povo nas suas migra­ções hoje? Minis­tra­mos aos diver­sos gru­pos nas suas “fron­tei­ras” hoje, tais como: nas fave­las, nas esco­las, nas uni­ver­si­da­des, nos sin­di­ca­tos, nos par­ques indus­tri­ais, nos pólos comer­ci­ais, nos con­jun­tos habi­ta­ci­o­nais, na zona rural, etc.? De que manei­ra que os Dons e Minis­té­ri­os podem aju­dar a igre­ja a recu­pe­rar o espí­ri­to evan­ge­lís­ti­co e o impul­so missionário?

Fon­te: Momen­tos Deci­si­vos do Meto­dis­mo, Prof. Dun­can Reily, Impren­sa Metodista