Não é uma experiência agradável encontrar uma pedra no caminho, principalmente quando está indo tudo muito bem em nossa vida. Pedra é sinônimo de obstáculo, de sofreguidão, de esforço. Normalmente lidamos mal com os obstáculos, nos desconcertamos, perdemos o ânimo, vacilamos.
É quase inaceitável para um cristão o surgimento de um obstáculo repentino no caminho. Talvez porque cobramos muitas facilidades de Deus para a nossa vida. E, se de repente, isso não acontece, nos questionamos se Deus não “falhou” ao permitir que tal infortúnio nos incomodasse.
Num mundo que vende facilidades e numa religião cristã buscada por muitos somente para solução de problemas, é constrangedor a interposição de um obstáculo entre nós e nossos objetivos. Só conseguimos viver bem num mundo espiritual de causa-e-efeito regido pela lógica do – “se fiz tudo certo, porque algo haveria de dar errado?”.
Topar com uma pedra no caminho é visto, espiritualmente, como um desgaste desnecessário, um “azar” que nada tem de produtivo. Não é fácil aceitar a existência dessa pedra. Ela paralisa, ela fascina, exerce poder sobre nós. Infelizmente, sempre há uma pedra no meio do caminho que não era esperada. A pedra da traição do cônjuge. O diagnóstico médico daquilo que mais temíamos. O acidente sofrido. O fim de um longo relacionamento amoroso.
Há os que reagem com fatalismo. A frase preferida desses é – “Tudo comigo é difícil!”. E suas preces: –“Oh Deus, nada dá certo para mim!”.
Outros reagem com raiva e a sentença inevitável será – “Desse jeito eu vou explodir!”. E suas orações: –“Oh Deus, eu não mereço tal coisa!”. No fundo sua oração é uma reprimenda contra Deus.
Há ainda quem veja na pedra o desvanecer de toda esperança, onde até mesmo a morte é vista como alívio: “Não vejo mais saída… não vejo retorno… não vejo remédio…”.
A pedra no meio do caminho tem o poder de revelar quem somos. Pois é justamente diante do abandono, diante da perda, diante do mais irremovível obstáculo que mostrarei quem eu sou, em que confio e como o meu verdadeiro ser reage diante de situações limites da vida.
Não seria essa pedra no meio do caminho uma oportunidade que Deus nos dá para nos conhecermos? Não é essa pedra que vai apontar para o mais profundo de nosso âmago e tirar das sombras aquele ser exposto em sua total fragilidade, desprotegido e ansioso para que possa ser curado?
É impressionante como nos deixamos fixar pelas pedras no caminho. Deus tem colocado flores ao longo da estrada, há riachos, há sol, há a paisagem, há a bênção divina sobre nós, há a graça, há as promessas, mas o que se imprime indelevelmente em nossos olhos cansados é a pedra.
Nossos olhos não se fixam no Cristo ressurrecto, mas na pedra do caminho, não olhamos para o Alto, mas para o chão.
Talvez não haja personagem do NT que mais tenha encontrado pedras no caminho que o apóstolo Paulo: naufrágios, açoites, prisão, fome, perigo, nudez, espada… Entretanto ele não se deixa amargurar, nem fascinar. Ele é capaz de reconhecer a presença companheira de Cristo, ao seu lado, é capaz de nos animar e dizer “alegrem-se, alegrem-se no Senhor, pois a mim não me desgosta”.
A pedra no meio do nosso caminho é um convite a olharmos para Deus. Não se fixe na pedra, fixe os seus olhos em Deus. Havia uma pedra também entre Jesus e Lázaro morto. Mas Jesus sabe que ela não pode impedir a ação de Deus, e ordena aos homens – “tirem a pedra”. Tirar a pedra é o ato humano que permite iniciar o milagre divino.
Pr. Daniel Rocha