Se há uma data que traz incontáveis controvérsias no meio cristão é o Natal. É comum vermos grupos procurando demonstrar sua origem pagã, o problema da árvore, os símbolos controversos, seu desvirtuamento, a escolha de 25 de dezembro etc.
Respeito quem decida não comemorar o Natal, mas não é aceitável que vejam como anátema os cristãos que o fazem. Levantarei aqui alguns aparentes “problemas” e, de forma sucinta, darei as devidas explicações.
1º Problema: A comemoração do Natal tem “origem pagã”. Iniciou-se possivelmente em 354 d.C. Era originalmente uma festa dos povos pagãos, chamada Saturnália.
Resposta: Discordo dessa tese. Biblicamente falando, o Natal tem uma origem bem anterior, mais precisamente três séculos antes, quando, numa noite escura, um anjo do Senhor desceu onde pastores guardavam seu rebanho durante as vigílias da noite e lhes anunciou: “Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo o Senhor” (Lc 2:10–11).
Esse mensageiro dos céus avisou que ocorrera o maior acontecimento da História: nascia aquele que haveria de redimir as nações, aquele que veio trazer luz às trevas, aquele que haveria de mudar completamente nossas vidas. E, para mostrar a grandiosidade do acontecimento, surgiu no céu um coral das milícias celestiais, iluminando a noite escura e louvando a Deus dizendo: “Glória a Deus nas maiores alturas!” (Lc 2:14)
Sem dúvida alguma, esta foi a primeira cantata de Natal. Hoje, a igreja é uma comunidade de fé que continua celebrando a Cristo e tudo o que diz respeito ao Seu Reino.
A igreja é, por excelência, um centro de celebrações: enfeitamo-la para os casamentos e nela comemoramos a Páscoa, o Dia de Ação de Graças, o Dia do Pastor, o aniversário da igreja, as bodas de nossos casais… (Ironia: as igrejas que são contra o Natal costumam comemorar todas as festas judaicas do Antigo Testamento.) Creio que, por uma questão de coerência, os que defendem a não comemoração do Natal também deveriam deixar de celebrar essas outras datas. Esqueça o seu aniversário de casamento e os 15 anos da sua filha.
Ora, nossa vida é constituída daqueles acontecimentos que chamamos de cotidianos, mas também de eventos especiais e marcantes. Sem a lembrança das coisas passadas e dos eventos significativos, tornamo-nos duros, secos, e nos esquecemos dos feitos do Senhor. O salmista nos ensina: “Recordarei os feitos do Senhor; sim, me lembrarei das tuas maravilhas” (Sl 77:11).
O nascimento do Salvador fora profetizado e ansiosamente aguardado por todos os profetas. Esse dia foi tão sonhado que eles já o celebravam por antecipação. E por que, depois de ocorrido, não haveríamos de rememorar o cumprimento de tão grandiosa promessa?
Natal nada mais é do que recordar o maior presente que Deus concedeu à humanidade.
2º Problema: O mundo comemora de forma errada, com comidas, bebidas, gastanças, Papai Noel…
Resposta: Se o mundo se apropriou e desvirtuou aquilo que deveria ser essencialmente objeto da fé, não temos nada com isso. Ele fez o mesmo com a Páscoa, mas nem por isso vamos deixar de lembrar o sofrimento e a ressurreição de Cristo.
Agora, se este mundo comemora o Natal de forma errada, cabe a nós, Igreja, mostrar o verdadeiro sentido da comemoração, e não suprimi-la. Seria jogar fora a água suja com a criança dentro.
Para isso, façamos cantatas nas praças, encenações nas igrejas, cultos com mensagens temáticas, e convidemos o “mundo” a assistir.
3º Problema: O dia 25 de dezembro era dedicado ao “Deus-Sol”, o “Sol Invictus”.
Resposta: Não vejo impedimento para que uma data dedicada a uma comemoração pagã seja transformada numa celebração cristã. Eu não veria problemas se, após a conversão em massa de nosso país, transformássemos o Carnaval numa festa não mais da “carne”, mas da ação do Espírito em nossas vidas. Alguém se oporia a tão preciosa mudança?
Paulo, quando esteve em Atenas, não teve pudores em dizer que o “Deus Desconhecido” que os atenienses adoravam era precisamente o Cristo que ele estava anunciando! E, daquele altar pagão, podiam vislumbrar o Salvador de sua pregação.
Hoje, portanto, já não é mais o “Sol Invictus” que é lembrado nessa data, mas Jesus. Afinal, o Salvador também é retratado na Bíblia como sol: “Nascerá o sol da justiça, trazendo salvação” (Ml 4:2). Ele é o “sol nascente das alturas” que veio para “alumiar os que jazem nas trevas” (Lc 1:78–79).
4º Problema: Não sabemos realmente a data em que Jesus nasceu.
Resposta: O fato de não sabermos a data real não impede que comemoremos o nascimento de Jesus. Até hoje, há pessoas que não sabem a verdadeira data de seu nascimento e nem por isso a comemoração “convencionada” é menos verdadeira ou sem sentido.
Na verdade, o “dia” é o que menos importa. Poderíamos fazê-lo em julho, agosto ou outubro. O principal é reconhecer o “fato”, ou seja, a encarnação, a confissão de que Jesus veio ao mundo em carne. Mas adivinha quem não gosta de ser lembrado disso. Ele mesmo: o Diabo! “Todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus” (1 Jo 4:2). Entretanto, “muitos enganadores têm saído pelo mundo afora, os quais não confessam Jesus Cristo vindo em carne; assim é o enganador e o anticristo” (2 Jo 7).
5º Problema: A árvore de Natal é uma representação da antiga adoração a Asera (ou Astarote).
Resposta: Um mesmo objeto pode ter significados simbólicos diferentes, dependendo do contexto. O arco-íris, por exemplo, é hoje reconhecido como símbolo do movimento LGBT. Mas, se eu usá-lo na igreja, não significa apoio a tal movimento. Para mim, o arco-íris sempre será visto como o “sinal da aliança de Deus” firmada com Noé (Gn 9:13).
Se, num passado distante, a árvore era associada a Astarote, hoje nós a identificamos com o homem e a mulher que confiam em Deus e cuja esperança é o Senhor: “Porque ele é como a árvore plantada junto às águas (…) e a sua folha fica sempre verde; e, no ano de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto” (Jr 17:8).
Se, no passado, símbolos e enfeites apontavam para falsos deuses, hoje, entretanto, a estrela ou as velas do Advento apontam para um só: Cristo!
Os Jogos Olímpicos foram criados pelos gregos, ao lado de rituais de sacrifício, em honra a Zeus, cuja estátua ficava em Olímpia. Seriam hoje vetados aos cristãos por conta de sua origem pagã? Obviamente não, pois muitos cristãos têm testemunhado a sua fé por meio deles.
Bem, se até aqui você não se convenceu, não adianta continuar. Quanto a mim, é sempre no mesmo espírito de alegria e assombro dos magos e dos pastores que comemoro esse dia.
Um Feliz Natal a todos que se alegram no Senhor Jesus!
Por Daniel Rocha,
pastor da I.M. Central em Santo André (SP)