“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve” (Mt 11:28–30)
Há pouco mais de um ano, nossa igreja promove o projeto Alimentando Vidas, com pessoas em situação de rua. Ele é realizado todas as segundas-feiras, a partir das 20h00, quando um grupo de irmãos e irmãs vai até uma praça perto de nossa comunidade para levar alimentos, roupas, abraços, cantar louvores e falar da Palavra de Deus para as pessoas que estão ali pelas mais diversas razões e, de alguma forma, tentar encaminhá-las a algum albergue, centro de reabilitação, ou fazer com que elas restabeleçam contato com suas famílias e empregos.
Dentre os frequentadores da praça, existe um senhor de uns 50 anos chamado Roberto, que, infelizmente, por ser viciado em álcool, abandonou sua família, seu emprego e a vida que havia construído.
Ele é inteligente, articulado, mas já perdeu coisas preciosas para sustentar seu vício. Assistentes sociais já tentaram reabilitá-lo para a sociedade diversas vezes, mas o pouco que conseguiram foi dar-lhe um banho de vez em quando e cortar suas unhas, cabelo e barba. Seu Roberto alega que o Brasil é um país livre, garantindo o seu direito de ir e vir, e que quem mora na rua é que é livre de verdade, pois é dono de sua própria vida e não faz parte do sistema.
Numa tarde ensolarada, resolvi passar pela praça para ver como estava o seu Roberto e as outras pessoas. Algo que realmente me incomodava nele eram as longas unhas sujas, a barba com resquícios de comida e o mau odor. Sem falar que ele estava sempre com a mesma calça social e recusava as roupas novas que levávamos para ele.
“Seu Roberto”, disse eu naquela tarde, “o que o senhor acha de fazermos uma boa limpeza nas suas mãos? Pelo menos para o senhor poder comer e não ficar doente.”
Comprei então um pacotão de lenços umedecidos e ali, na minha ingenuidade, achando que aquilo resolveria algo, quebrei minha cara.
“Seu Roberto, olha só. Comprei lenço umedecido para limpar suas unhas. Aí o senhor pode usar quando quiser, pois mata as bactérias e tem um cheirinho superbom!”
Ele pegou o pacote de lenços da minha mão e jogou no chão. Fiquei sem reação. Por que ele não queria se limpar? Estava tudo ali, à sua disposição, e ele se negava a usar, como se aquela sujeira fizesse parte dele… Mas fazia, e como fazia! Aquela crosta sobre seu corpo só refletia o vício, a depressão, a falta de amor-próprio. E era um sinal claro de que ele havia desistido da vida e de si mesmo.
De forma alguma considero sua atitude uma fraqueza. Na verdade, não consigo parar de pensar: que prisão emocional e espiritual é essa que torna sua vida uma constante busca por uma espécie de anestésico e o leva a negar qualquer tipo de ajuda ou cura?
Pior do que nadar, nadar e não chegar à praia é perder a vontade de nadar e deixar a maré te levar para qualquer lugar ou não chegar a lugar algum e morrer no meio do oceano.
O que acontece com o seu Roberto ocorre com todos nós, pelo menos em algum momento da nossa vida. É quando algo em nós está na sombra e não deixamos ninguém nos ajudar e muito menos Deus nos curar, talvez por medo, sofrimento, orgulho, altivez, autossuficiência… A questão é: onde Deus está querendo te dar um trato e você está mais escorregadio do que sabonete? Você até pede para Deus te curar, mas, aí, quando o caldo engrossa, você corre para qualquer válvula de escape, que te anestesia temporariamente, mas, a longo prazo, só te prende ainda mais.
Jesus está doidinho pra te dar uma lavagem completa, sem julgamentos e sem forçar, somente por amor. Vai haver umas boas esfregadas para arrancar bem a sujeira e um estranhamento de sua parte quando tudo estiver bem limpinho. Mas, sem dúvida, o resultado será incrível!
Pergunte ao Espírito Santo em que parte da sua vida você tem fugido da cura de Deus. Caso você já saiba qual é seu ponto crítico, corra agora mesmo para uma ducha divina, maravilhosa, e, assim, como um bebê, tire um soninho confiante e bem gostoso no colo do Pai, aliviado por estar limpinho!
Por Carla Stracke,
membro da Igr. Metodista em Itaberaba