Harley-Davidson é uma motocicleta que evoca sensação de liberdade e prazer aos seus possuidores. Não é incomum vê-los reunidos andando tranquilamente pelas estradas, apreciando a paisagem, parando para descansar, e retomando a viagem, sem pressa. Qual o destino? Não importa, desde que a jornada seja bem aproveitada. Talvez por isso, uma das frases publicitárias mais famosas cunhadas para a marca foi: “Não é o destino, é a jornada”.
Ao contrário dos motociclistas das Harley, o cristão tem um destino. Ele sabe para onde está indo, e um dia deseja lá chegar e reunir-se com todos os que estão a caminho, pois “não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir” (Hb 13.14).
Por que a existência de um destino é importante? Porque foi Deus quem pôs a eternidade no coração do homem (Ec 3.11). Na vida, é preciso saber o destino, para onde estou indo, qual é a minha “preocupação última”, pois é ela que determinará as minhas escolhas e minha forma de vida.
Entretanto, constato um problema em relação ao cristão: um “harleydavidiano” é um sem-destino que goza tremendamente da jornada, e um cristão é alguém que embora tenha um destino, frequentemente “despreza” a jornada.
Lembro-me da história da mulher que viajava num trem por um deserto árido, e regularmente pegava algumas sementes de um saco e jogava pela janela. Intrigado, um viajante perguntou-lhe o que ela estava fazendo. E ela respondeu: — “essa é uma viagem muito cansativa e a paisagem desoladora; estou jogando sementes de flores e girassóis para que outros, quando aqui passarem possam se alegrar com o a beleza das flores que nascerão”.
Seria muito bom se os cristãos associassem a importância que há em ter um destino, com uma vida que faça a diferença enquanto aqui estiver. Então, para ele, “não seria (somente) o destino, mas também a jornada”. Não é só em Quem eu creio que conta, mas o que eu estou fazendo de minha vida depois que cri.
Constato que muitos que têm como destino o céu se perderam na jornada. Tornaram-se figuras caricatas, entraram em disputas religiosas, perderam o humor, e embora digam que o seu tesouro esteja no céu, vivem para entesourar para “esta” vida. Não parece que estejam andando prazerosamente numa Harley, mas galopando um potro selvagem, tais são suas obsessões e desejos. Sempre absortos demais em si mesmos para prestar atenção em alguém. Preocupados demais com a chegada, tornaram-se egoístas. Exclusivistas, escolhem os companheiros de viagem, e recusam a companhia de quem não possui o mesmo “bilhete” que o seu.
Salvação não é um “bilhete” de chegada, mas é um ponto de partida. Salvação é a oportunidade que Deus me dá de recomeçar a minha existência em novas bases, rever meus conceitos e viver uma nova vida. É o início da renovação do meu ser, até que Cristo seja formado inteiramente em mim.
Francamente falando, nada sei sobre o céu, falo pouco sobre ele, mas a culpa não é minha. A única fonte confiável sobre o assunto é a Bíblia, e Aquele que poderia desvelar os segredos das habitações celestiais preferiu os temas relativos à Terra, como os pássaros, lírios, banquete, criança, amizade, trabalho, perdão, sementes, frutos…e sobre o céu, mesmo, Ele nos deixou apenas vislumbres.
O destino pode até ser um lugar geográfico, mas pensá-lo apenas como um “local” pode não ser a melhor definição. Esqueça a visão de um lugar onde você tocará harpas, andando em ruas de ouro e pulando de nuvem em nuvem… mas será a plenitude de Cristo preenchendo o nosso ser, onde Ele será tudo em todos, e o nosso corpo de humilhação será transformado, as lágrimas enxugadas, e o que se partiu, unido e restaurado. Mas não haverá ócio, pois continuaremos a servir a Deus (Ap 22.3).
Mas eu desconfio que quem não soube se portar na jornada vai se decepcionar na chegada.
Pr. Daniel Rocha