Morto-vivo, vivo-morto

Assim tam­bém con­si­de­rai-vos como mor­tos para o peca­do, mas vivos para Deus, em Cris­to Jesus, nos­so Senhor” (Roma­nos 6:11).

Mor­to-vivo: brin­ca­dei­ra ilus­tra nos­sa con­di­ção dian­te de Deus

Inici­al­men­te, soli­ci­to a você que, ao ler esta bre­ve pas­to­ral, tenha em mãos sua boa e velha com­pa­nhei­ra, a Bíblia, e acom­pa­nhe a lei­tu­ra des­te tex­to len­do os ver­sí­cu­los nela cita­dos. Se neces­sá­rio, leia mais de uma vez. Apro­prie-se das rea­li­da­des espi­ri­tu­ais aqui mos­tra­das, pois esta pas­to­ral diz res­pei­to a você!

Que­ro com­par­ti­lhar com a igre­ja uma das coi­sas mais impor­tan­tes para nos­so enten­di­men­to sobre a cami­nha­da da vida cris­tã, algo que infe­liz­men­te demo­rei para apren­der e enten­der, mes­mo com qua­se 40 anos de cris­ti­a­nis­mo. Para isso, uti­li­za­rei ini­ci­al­men­te um exem­plo lúdi­co que, com cer­te­za, você que tem uma ida­de pró­xi­ma à minha, para mais ou para menos, vai se lem­brar. Entre o final da déca­da de 1980 e o iní­cio da de 1990, não havia tan­ta tec­no­lo­gia nem brin­que­dos ele­trô­ni­cos à dis­po­si­ção, e mui­to pro­va­vel­men­te você par­ti­ci­pa­va de uma brin­ca­dei­ra infan­til cha­ma­da mor­to-vivo, tam­bém conhe­ci­da como vivo-mor­to, sol-chu­va ou terra-mar.

Para quem não conhe­ce, nes­se jogo há um(a) che­fe escolhido(a) ante­ci­pa­da­men­te que vai coman­dar os movi­men­tos dos outros par­ti­ci­pan­tes, orde­nan­do ale­a­to­ri­a­men­te “Mor­to!” ou “Vivo!”. Ao coman­do de “Mor­to!”, as cri­an­ças devem se abai­xar, fican­do lite­ral­men­te de cóco­ras; se o coman­do for “Vivo!”, elas devem ficar em pé, ou seja, com o cor­po ere­to. O intui­to da brin­ca­dei­ra é que o(a) che­fe dei­xe os par­ti­ci­pan­tes con­fu­sos ao repe­tir a mes­ma ordem mais de uma vez segui­da, trocando‑a de repen­te e alter­nan­do a velo­ci­da­de com que dá as ordens. Quem erra sai do jogo, até que sobre um úni­co ven­ce­dor, que não errou nenhum dos movi­men­tos dita­dos e vai tor­nar-se chefe.

Eu me diver­tia mui­to com essa brin­ca­dei­ra, diga-se de pas­sa­gem. E me refi­ro a ela aqui por­que ilus­tra fiel­men­te nos­sa con­di­ção dian­te de Deus em Cris­to Jesus.

Antes de nos­sa vida per­ten­cer total­men­te a Jesus Cris­to como nos­so senhor e sal­va­dor, está­va­mos “mor­tos” em nos­sos deli­tos e peca­dos (Ef 2:1–5). E, uma vez que o peca­do do pri­mei­ro Adão atin­giu toda a huma­ni­da­de e a tor­nou mal­di­ta por esse peca­do – “por­que, no dia em que come­res des­te fru­to, cer­ta­men­te mor­re­rás” (Gn 2:17) –, essa é a puni­ção que rece­be­mos, pois o salá­rio do peca­do é a mor­te (Rm 6:23).

Tal­vez incons­ci­en­te­men­te, mui­tos fler­tam com o peca­do, pois acre­di­tam que essa mor­te é meta­fó­ri­ca ou ilu­só­ria. Mas a rea­li­da­de é que o pri­mei­ro Adão per­deu sua imor­ta­li­da­de, e Deus, quan­do pas­sa os olhos sobre toda a ter­ra, ao enxer­gar a huma­ni­da­de sem Jesus Cris­to nos vê como ini­mi­gos e como pes­so­as mor­tas na mor­te do pri­mei­ro Adão (Rm 5:12).

Por isso se fez neces­sá­rio que Deus envi­as­se o últi­mo Adão, a saber, Jesus Cris­to, pois, por meio do ditar de um, veio a mor­te e, por meio do ditar do outro, veio a vida (1 Co 15:45–49). Então, depois de Jesus Cris­to ter-se fei­to mal­di­ção e peca­do em nos­so lugar (Gl 3:13; 2 Co 5:21), assim como não fize­mos nada para mere­cer a mor­te do pri­mei­ro, nada fize­mos para mere­cer a vida do últi­mo. Naque­la cruz, Jesus Cris­to nos liber­tou da mal­di­ção do peca­do dan­do-nos Sua jus­ti­fi­ca­ção; livrou-nos da escra­vi­dão do peca­do dan­do-nos Sua san­ti­fi­ca­ção; e nos liber­ta­rá da pre­sen­ça do peca­do, o qual não mais exis­ti­rá, dan­do-nos Sua glorificação.

Assim, a Bíblia des­cre­ve três tipos de mor­te: a mor­te físi­ca, a mor­te espi­ri­tu­al e a mor­te eter­na. Mas a mor­te eter­na tem duas for­mas de des­do­bra­men­to: pode­mos mor­rer eter­na­men­te lon­ge de Jesus Cris­to, “no peca­do”, e pode­mos mor­rer eter­na­men­te com Jesus Cris­to, “para o pecado”.

Embo­ra mui­tos afir­mem que temos de nas­cer de novo todos os dias, não é isso que a Bíblia nos diz. O novo nas­ci­men­to acon­te­ce uma só vez, sen­do ele uma tro­ca de natu­re­za (2 Pe 1:4). Nes­sa mate­má­ti­ca, quem nas­ce duas vezes (da água e do Espí­ri­to, cf. Jo 3:5) mor­re­rá uma só vez, a saber, mor­re­rá eter­na­men­te para o peca­do. E quem nas­ce ape­nas uma vez enfren­ta­rá a mor­te diver­sas vezes. Como afir­ma o pas­tor con­gre­ga­ci­o­nal Jose­mar Bes­sa: “Nas­ci mor­to, mas vou mor­rer vivo! Então, se você nas­ceu duas vezes, não espe­re se encai­xar em um mun­do de pes­so­as nas­ci­das ape­nas uma vez”. Rea­fir­mo essas pala­vras dizen­do que cada um de nós não pre­ci­sa de fato nas­cer de novo todos os dias, mas sim estar mor­to para o peca­do todos os dias.

Um defun­to não tem von­ta­des, não tem dese­jos, não quer pra­ze­res, não cobi­ça, por­que está mor­to para si mes­mo. Então, este­ja vivo para Cris­to e cada vez mais mor­to para o peca­do, por­que um cris­tão ou cris­tã sal­vo por Jesus não é aque­le ou aque­la que parou total­men­te de pecar, mas quem parou de gos­tar de pecar! “E Ele mor­reu por todos para que os que vivem não vivam mais para si mes­mos, mas para Aque­le que por eles mor­reu e res­sus­ci­tou” (2 Co 5:15).

Que pos­sa­mos assu­mir que éra­mos mor­tos para Deus e hoje esta­mos vivos para Cris­to, mor­ren­do todos os dias para o peca­do: mor­to-vivo-vivo-mor­to! Só que des­ta vez não é uma mera brin­ca­dei­ra, mas sim uma rea­li­da­de: “Fui cru­ci­fi­ca­do com Cris­to. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cris­to vive em mim. A vida que ago­ra vivo no cor­po, vivo‑a pela fé no Filho de Deus, que me amou e Se entre­gou por mim” (Gl 2:20).

Pr. Isra­el Rocha

 

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