“Falou Moisés a Faraó: digna-te dizer-me quando é que hei de rogar por ti, pelos teus oficiais e pelo teu povo, para que as rãs sejam retiradas de ti e das tuas casas…
Ele respondeu: Amanhã.” (Ex 8.9–10)
F araó e seu povo já haviam sofrido a primeira praga, quando a água foi transformada em sangue, contaminando os rios com peixes mortos. Agora a situação era pior: uma enorme quantidade de rãs fervilhou dos rios e saltaram deles, invadindo casas, entrando nos quartos, subindo nos leitos, nos fornos e panelas. Era uma invasão asquerosa aos olhos dos egípcios, que já não podiam comer sem que um batráquio lhe saltasse sobre os pratos, já não podiam ter uma noite tranqüila sem que um réptil de pele fria se escondesse debaixo das cobertas.
O Faraó, acossado, finalmente cedeu e manda chamar Moisés: “Rogue ao seu Deus que afaste as rãs de mim e do meu povo”. – E quando eu devo fazer isto, perguntou Moisés? Ele respondeu: “Amanhã!”
Por que razão alguém que está sofrendo um mal, está incomodado, e poderia livrar-se imediatamente daquilo, jogaria a solução para o dia seguinte? Espantado com a resposta dele? Não deveria. Sentimos dificuldades em decidir sair das situações que nos fazem mal. Relutamos em quebrar os padrões mentais reprováveis. Nosso jogo preferido é o da procrastinação, ou seja, postergar indefinidamente aquilo que precisa ser feito.
Ao repetir por anos a fio vivências indesejáveis o cérebro entra num condicionamento chamado “fixação”. E quando a mente está “fixada” ela rejeita qualquer mudança. Quando se está preso àquilo que adoece, o efeito pode ser uma paralisia e a alma perde a motivação para desejar algo novo ou mudar as coisas. Hoje não, amanhã… ainda quero chafurdar-me um pouco mais.
Foi para “a liberdade que Cristo nos libertou”, mas muitos ainda permanecem presos a dogmas, a religiões que adoentam a alma e às doenças fabricadas no inconsciente. Não creio que são todos que desejam, de fato, livrar-se de suas “doenças”. Manter indefinidamente uma situação desconfortável pode ser uma desculpa para não enfrentar aquilo que realmente é essencial para a vida.
Ao invés de buscar a cura, é comum trocar-se um vício da alma por outro. Médicos e psicólogos notaram que pacientes que fizeram a cirurgia bariátrica (redução de estômago), depois de algum tempo “trocaram” o vício de comer por outro: alcoolismo, drogas, sexo ou tabagismo. A causa? Operou-se o estômago, mas não a cabeça.
No mercado da fé ocorre o mesmo fenômeno: os ídolos mudos de gesso foram trocados por ídolos vivos que cantam e falam muito bem. Os sacrifícios outrora oferecidos nas esquinas, agora se transformaram em sacrifícios financeiros. Em suma: mudou o local de culto, mas a cabeça continua a mesma.
Ser livre é a capacidade que a Graça nos concede para decidir, para permitir-se, para dizer “não”, para ser eu mesmo e não o que o vício me tornou. Talvez a maior necessidade que temos hoje de Cristo é que Ele nos liberte, não de demônios, mas dos vícios da alma – que se tornaram demônios para nós. Uma advertência, porém, se faz necessária: Deus não tira os meus vícios, mas pede que eu desista deles (Dallas Willard), pois se eu não quero abrir mão, Ele não vai tirá-lo para mim.
Não adie a retirada das rãs por mais uma noite: o tempo de Deus se chama Hoje.
Pr. Daniel Rocha