Foi-me bom ter adoecido

Foi-me bom ter eu pas­sa­do pela afli­ção, para que apren­des­se os teus decre­tos (Sal­mo 119.71)

A vida é com­pos­ta de mui­tas coi­sas que são, à pri­mei­ra vis­ta, desa­gra­dá­veis e des­pro­po­si­ta­das. A doen­ça é uma delas. Tal­vez seja uma das ame­a­ças mais temi­das por todos. Expe­ri­men­tei isso na pele, e pas­sei uma sema­na onde a doen­ça domi­nou com­ple­ta­men­te minha von­ta­de, meus ossos, meus mús­cu­los e até os meus pen­sa­men­tos. Coi­sas sim­ples como comer ou dor­mir pare­ci­am-me negadas.

Mas há algo na doen­ça que pode tra­zer lá seus ensi­na­men­tos se esti­ver­mos com os ouvi­dos bem aten­tos e os olhos pos­tos em Deus. Como homem de fé que­ro apren­der a enxer­gar a mão de Deus tam­bém nas tem­pes­ta­des e na ausên­cia de sen­ti­do. Estou far­to de semi­deu­ses que pre­gam a saú­de total para a vida do cren­te, afir­man­do que toda doen­ça tem um cará­ter mera­men­te des­trui­dor e que, por­tan­to nenhum bene­fí­cio pode tra­zer à alma. Men­ti­ra. O sal­mis­ta dis­se que “foi bom” ele ter pas­sa­do por afli­ções, pois atra­vés delas apren­deu coi­sas de Deus que em outras cir­cuns­tân­ci­as ele não aprenderia.

Ficou mui­to cla­ro para mim nes­tes últi­mos dias que Deus me ensi­na­va enquan­to meu cor­po ruía e a men­te se trans­for­mou numa pas­ta. Fazen­do um bre­ve retros­pec­to pude per­ce­ber que…

Foi-me bom ter ado­e­ci­do, pois pude sen­tir Deus pre­sen­te atra­vés do amor da famí­lia, o cui­da­do da espo­sa, a pre­o­cu­pa­ção dos que­ri­dos. Comer um sim­ples pra­to de sopa bem quen­te pre­pa­ra­do com cari­nho, é de um valor inestimável.

Foi-me bom ter ado­e­ci­do e per­ce­ber que viver numa igre­ja não é ter ape­nas as pes­so­as ao lado nas fes­tas e come­mo­ra­ções, mas sen­tir a pre­sen­ça delas ao nos­so redor… Foram deze­nas e deze­nas de tele­fo­ne­mas e cor­res­pon­dên­ci­as, de pes­so­as sim­ples que dese­jam o bem da gen­te. Isso fortalece.

Foi-me bom ter ado­e­ci­do por­que pude apren­der um pou­co mais sobre a minha fra­gi­li­da­de, limi­ta­ção e fini­tu­de. Tudo aqui­lo que pode­mos rea­li­zar num dia, como sen­do tare­fa fácil, no outro dia tor­na-se abso­lu­ta­men­te impos­sí­vel fazê-lo: depen­de de Deus. Apren­di tam­bém que, bem ou mal, “se viram” sem a gente.

Foi-me bom ter ado­e­ci­do por­que assim me des­pi de todas as pre­ten­sões ufa­nis­tas de vitó­ri­as e con­quis­tas, e colo­quei-me ao mes­mo nível Daque­le que é “homem de dores e que sabe o que é pade­cer”. O mun­do pre­ci­sa mais de pes­so­as sen­sí­veis que pes­so­as que se sen­tem invencíveis.

Foi-me bom ter ado­e­ci­do por­que fica mais fácil com­pre­en­der os qua­se imper­cep­tí­veis sus­sur­ros do Espí­ri­to na alma. Quem está sau­dá­vel, for­te e dono da situ­a­ção, não irá pres­tar aten­ção a isso. O moti­vo? Sim­ples: quem tem saú­de e pode “deci­dir” sua vida não pre­ci­sa con­tar tan­to com Aque­le que habi­ta os céus.

Foi-me bom ter ado­e­ci­do por­que tive a opor­tu­ni­da­de de valo­ri­zar as coi­sas sim­ples e sin­ge­las, como sen­tar-me ao sol numa manhã fria e dei­xar seus rai­os aque­ce­rem meus ossos, enquan­to apren­dia a esque­cer o bur­bu­ri­nho e a agi­ta­ção do mundo.

Final­men­te, foi-me bom ter ado­e­ci­do para que ficas­se gra­va­do de for­ma ain­da mais inde­lé­vel, em minh’alma: que é o “O SENHOR é o que tira a vida e a dá; faz des­cer à sepul­tu­ra e faz subir” (1Sm 2.6).

Antes de você recla­mar mais uma vez de seus infor­tú­ni­os, veja se o Senhor não está lhe ensi­nan­do inú­me­ras coi­sas que você jamais sabe­ria se não esti­ves­se pas­san­do por eles.

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

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