Fazer o que é certo quase sempre é o mais difícil

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Cris­to e o Jovem Rico”, por Hein­ri­ch Hof­mann (1889)

Infe­liz­men­te, esta­mos acos­tu­ma­dos a con­vi­ver, no nos­so dia a dia, com uma prá­ti­ca um tan­to quan­to ques­ti­o­ná­vel: o cha­ma­do “jei­ti­nho bra­si­lei­ro”. Quan­do algo não sai exa­ta­men­te como o pre­vis­to, logo alguém dá um “jei­ti­nho” enge­nho­so, fazen­do uma gam­bi­ar­ra se for pre­ci­so, mas resol­ven­do o pro­ble­ma de uma manei­ra ou de outra, ain­da que essa outra manei­ra não seja tão cor­re­ta assim.

Geral­men­te, o jei­ti­nho bra­si­lei­ro é asso­ci­a­do a pes­so­as esper­tas, inte­li­gen­tes, capa­zes de resol­ver pro­ble­mas. Por isso, ain­da que, para se dar o tal jei­ti­nho, os mei­os não sejam tão hones­tos assim, logo sur­ge alguém para jus­ti­fi­car o autor ou jus­ti­fi­car-se a si mes­mo, dizen­do: “Ah, mas pelo menos resol­veu o pro­ble­ma!”. Empre­ga-se, assim, a famo­sa máxi­ma “os fins jus­ti­fi­cam os meios”.

Nada con­tra ser­mos cri­a­ti­vos, astu­tos e adap­tá­veis. A ques­tão é que, se para resol­ver­mos uma situ­a­ção pre­ci­sa­mos colo­car em jogo nos­sos prin­cí­pi­os e valo­res, esta­re­mos ferin­do nos­sa prá­ti­ca de fé e, nes­se caso, não temos espa­ço para nego­ci­ar: ou faze­mos o que é cer­to ou não faze­mos nada, ain­da que isso nos cau­se prejuízo.

Um exem­plo pode aju­dar a ilus­trar isso. Um dos prin­ci­pais argu­men­tos para a pira­ta­ria de audi­o­vi­su­ais é a ques­tão do cus­to. Quem con­so­me pro­du­tos pira­te­a­dos jus­ti­fi­ca essa prá­ti­ca dizen­do que os pro­du­tos ori­gi­nais são mui­to caros. Então, um dia alguém deu um jei­ti­nho, copi­ou o ori­gi­nal e ven­deu mais bara­to. Pro­ble­ma resol­vi­do. É cla­ro que pode­mos ques­ti­o­nar a indús­tria do entre­te­ni­men­to pelo cus­to abu­si­vo dos seus pro­du­tos, mas pro­du­zir, comer­ci­a­li­zar e con­su­mir pira­ta­ria em nenhu­ma cir­cuns­tân­cia será algo correto.

A raiz da cor­rup­ção é essa men­ta­li­da­de de que, se con­se­guir­mos bur­lar a lei, não sere­mos con­si­de­ra­dos cri­mi­no­sos, mas sim esper­tos. Quan­do a habi­li­da­de de enga­nar vira sinô­ni­mo de esper­te­za, algo mui­to erra­do está acon­te­cen­do. Nes­te mun­do tão detur­pa­do, nos­so desa­fio como cris­tãos é assu­mir uma pos­tu­ra pro­fé­ti­ca de dizer não para tudo que é erra­do e esco­lher sem­pre fazer o que é cer­to, ain­da que seja mais difí­cil ou custoso.

As pes­so­as cos­tu­mam dar um jei­ti­nho e não fazer o que é cer­to por­que o cami­nho das coi­sas cor­re­tas é qua­se sem­pre mais difí­cil: pas­sa pelo diá­lo­go, pela hones­ti­da­de, pela argu­men­ta­ção, pela nega­ção da vai­da­de, por abrir mão de que­rer agra­dar a todos o tem­po todo. Sim, é um cami­nho estreito.

Jesus se encon­trou com alguém que que­ria dar um jei­ti­nho para her­dar o Rei­no dos Céus. O cha­ma­do jovem rico quis saber se, ao cum­prir a lei cabal­men­te, esta­ria apto a ir para o céu. Con­tu­do, Jesus per­ce­beu a inten­ção do jovem. Embo­ra sua apa­rên­cia fos­se de quem esta­va pron­to para ir para o céu, seu cora­ção esta­va pre­so na ter­ra. O cer­to era ali­nhar sua apa­rên­cia com seu sen­ti­men­to, tor­nan­do-os coe­ren­tes. Para isso, Jesus o desa­fi­ou a fazer o que era cer­to, abrin­do mão de tudo que pos­suía. Foi quan­do o jovem se entris­te­ceu, pois per­ce­beu que com Jesus não tem “jei­ti­nho” nenhum.

Para nós pas­to­res, mui­tas vezes fazer o que é cer­to no dia a dia da igre­ja impli­ca arcar com um alto cus­to, que se rever­te em crí­ti­cas, cobran­ças e incom­pre­en­são. Mui­tas das nos­sas ati­tu­des asser­ti­vas estão base­a­das numa visão macro da comu­ni­da­de, que por vezes envol­ve infor­ma­ções con­fi­den­ci­ais. E, quan­do toma­mos uma deci­são acer­ca de temas polê­mi­cos, mui­tos, qua­se todos, ficam sem com­pre­en­der a razão. Mas, se par­tir­mos do prin­cí­pio de que o que deve­mos fazer é o cer­to, o tem­po pode­rá com­pro­var e até expli­car tais ati­tu­des. Enquan­to isso, às vezes temos de arcar cala­dos, con­tan­do ape­nas com a apro­va­ção do Senhor.

Seja na vida, seja na igre­ja, seja no céu, não exis­te espa­ço para jei­ti­nhos que nos cor­rom­pam. Nos­so alvo deve ser sem­pre agra­dar a Deus, e isso só será pos­sí­vel se fizer­mos o que é certo.

Do ami­go e pastor,

Pr Tiago Valentim

Rev. Tia­go Valentin

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