Infelizmente, estamos acostumados a conviver, no nosso dia a dia, com uma prática um tanto quanto questionável: o chamado “jeitinho brasileiro”. Quando algo não sai exatamente como o previsto, logo alguém dá um “jeitinho” engenhoso, fazendo uma gambiarra se for preciso, mas resolvendo o problema de uma maneira ou de outra, ainda que essa outra maneira não seja tão correta assim.
Geralmente, o jeitinho brasileiro é associado a pessoas espertas, inteligentes, capazes de resolver problemas. Por isso, ainda que, para se dar o tal jeitinho, os meios não sejam tão honestos assim, logo surge alguém para justificar o autor ou justificar-se a si mesmo, dizendo: “Ah, mas pelo menos resolveu o problema!”. Emprega-se, assim, a famosa máxima “os fins justificam os meios”.
Nada contra sermos criativos, astutos e adaptáveis. A questão é que, se para resolvermos uma situação precisamos colocar em jogo nossos princípios e valores, estaremos ferindo nossa prática de fé e, nesse caso, não temos espaço para negociar: ou fazemos o que é certo ou não fazemos nada, ainda que isso nos cause prejuízo.
Um exemplo pode ajudar a ilustrar isso. Um dos principais argumentos para a pirataria de audiovisuais é a questão do custo. Quem consome produtos pirateados justifica essa prática dizendo que os produtos originais são muito caros. Então, um dia alguém deu um jeitinho, copiou o original e vendeu mais barato. Problema resolvido. É claro que podemos questionar a indústria do entretenimento pelo custo abusivo dos seus produtos, mas produzir, comercializar e consumir pirataria em nenhuma circunstância será algo correto.
A raiz da corrupção é essa mentalidade de que, se conseguirmos burlar a lei, não seremos considerados criminosos, mas sim espertos. Quando a habilidade de enganar vira sinônimo de esperteza, algo muito errado está acontecendo. Neste mundo tão deturpado, nosso desafio como cristãos é assumir uma postura profética de dizer não para tudo que é errado e escolher sempre fazer o que é certo, ainda que seja mais difícil ou custoso.
As pessoas costumam dar um jeitinho e não fazer o que é certo porque o caminho das coisas corretas é quase sempre mais difícil: passa pelo diálogo, pela honestidade, pela argumentação, pela negação da vaidade, por abrir mão de querer agradar a todos o tempo todo. Sim, é um caminho estreito.
Jesus se encontrou com alguém que queria dar um jeitinho para herdar o Reino dos Céus. O chamado jovem rico quis saber se, ao cumprir a lei cabalmente, estaria apto a ir para o céu. Contudo, Jesus percebeu a intenção do jovem. Embora sua aparência fosse de quem estava pronto para ir para o céu, seu coração estava preso na terra. O certo era alinhar sua aparência com seu sentimento, tornando-os coerentes. Para isso, Jesus o desafiou a fazer o que era certo, abrindo mão de tudo que possuía. Foi quando o jovem se entristeceu, pois percebeu que com Jesus não tem “jeitinho” nenhum.
Para nós pastores, muitas vezes fazer o que é certo no dia a dia da igreja implica arcar com um alto custo, que se reverte em críticas, cobranças e incompreensão. Muitas das nossas atitudes assertivas estão baseadas numa visão macro da comunidade, que por vezes envolve informações confidenciais. E, quando tomamos uma decisão acerca de temas polêmicos, muitos, quase todos, ficam sem compreender a razão. Mas, se partirmos do princípio de que o que devemos fazer é o certo, o tempo poderá comprovar e até explicar tais atitudes. Enquanto isso, às vezes temos de arcar calados, contando apenas com a aprovação do Senhor.
Seja na vida, seja na igreja, seja no céu, não existe espaço para jeitinhos que nos corrompam. Nosso alvo deve ser sempre agradar a Deus, e isso só será possível se fizermos o que é certo.
Do amigo e pastor,
Rev. Tiago Valentin