Um dos maiores perigos do mundo pós-moderno e globalizado em que vivemos é o ativismo. A tentação é fazer o maior número de coisas possíveis e o maior número de vezes possível. Quem nunca ouviu a piadinha: “Você diz que não tem tempo, mas o que você faz da meia-noite às 6 da manhã?”.
A grande maioria das pessoas tem uma vida muito corrida, muitas vezes tendo que desempenhar jornadas duplas e até triplas. Para nós que vivemos num contexto urbano, essa correria é quase uma imposição. Às vezes a coisa fica tão maluca que temos vergonha de dizer que tiramos um dia a mais de folga ou que fizemos um passeio no fim de semana. Há até quem se culpe por não ter feito mais alguma atividade no fim do dia.
O ativismo é um mal do nosso tempo. Muita gente se sente inútil quando não está desempenhando alguma atividade, ainda mais num mundo onde as pessoas não só falam, mas acreditam que “tempo é dinheiro” e que qualquer tempo “perdido” significa uma oportunidade a menos de ganhar, ganhar e ganhar.
Muitas vezes, nós nos deparamos com esse comportamento até mesmo na igreja. Alguns irmãos e irmãs querem reproduzir no dia a dia da comunidade a vida agitada e quase sem rumo que levam. Há quem se sente culpado por não ir à igreja em pelo menos cinco dos sete dias da semana. Há até mesmo quem ache normal passar todos os fins de semana enfurnado no templo.
Isso é algo muito perigoso. Essa fixação pela igreja pode, na verdade, ser reflexo de alguma frustração na vida: a pessoa não está vendo muito sentido para a sua existência, não está dando certo em nada e então decide projetar toda a sua ansiedade na realização de atividades da igreja.
É importantíssimo separarmos o que é fazer coisas para Deus e relacionar-se com Ele. O relacionamento deve sempre vir antes do serviço. Quando invertemos isso, deixamos de ser amigos de Deus para nos tornarmos Seus escravos.
Qual seria a saída da armadilha do ativismo? Uma coisa é fato: nossa vida é corrida mesmo. Mas o que faz toda a diferença é quando podemos optar. O que quero dizer é que, quando temos a chance de escolher entre assumir mais um compromisso ou, num período vago do dia, escolher trabalhar em detrimento de outra coisa, deveríamos na verdade optar por aquilo que realmente valha a pena.
Na minha experiência pessoal, tenho optado por estar com meus filhos sempre que tenho oportunidade. Às vezes, em casa, eu poderia adiantar alguma atividade da igreja ou só mandar um e‑mail rapidinho. Mas, se não estou em horário de expediente, tenho feito o exercício de optar por rolar no chão com as crianças.
Jesus não tinha nenhum remorso de ir a festas, sair para jantar com os amigos, visitar sua mãe, ir passear sozinho na praia… Ele fazia tudo isso e não ficava pensando: “Não seria melhor eu estar pregando em alguma praça esta manhã?”; “Não seria mais adequado eu estar curando enfermos esta noite?”. Ele simplesmente sabia fazer as escolhas certas nos momentos certos.
Meu convite a você não é para tornar-se um ermitão e ir morar no deserto, mas, quando sua agenda te der a chance de optar pelo que você quer fazer, escolha aquilo que vale a pena. Dedique um tempo à sua mãe, visite seus avós, passeie com sua esposa, reveja seus velhos amigos ou, melhor ainda, faça novas amizades. A vida é muito breve. Na melhor das hipóteses, viveremos até os 80 ou 90 anos. Por isso, faça valer a pena cada minuto!
Tiago Valentin, pastor