Vivemos tempos nos quais a massificação das pessoas, das ideias e dos comportamentos estão em alta. Padrões são estabelecidos e difundidos, principalmente pela mídia, definindo como as pessoas devem agir, o que devem fazer, aonde devem ir etc. A massificação é um grande perigo, pois desvaloriza a personalidade e a individualidade de cada um. Um comportamento massificado parte, geralmente, de um único indivíduo ou de um pequeno grupo de pessoas e acaba se impondo sobre o todo.
Mas o que a Bíblia nos diz a esse respeito? Nos tempos do ministério terreno de Jesus, havia um modelo de massificação muito perigosa, de origem religiosa. Os fariseus, rigorosos e estritos cumpridores da Lei de Moisés, eram responsáveis por aplicar e fazer cumprir toda a Lei. Contudo, o legalismo farisaico tornou a religião um fardo opressor e massificador, na medida em que o indivíduo e suas necessidades e características particulares passaram a ser ignoradas. Além disso, a experiência pessoal dos fariseus tornou-se um padrão imposto e inquestionável sobre todo o povo.
A cura do homem da mão ressequida em pleno sábado (Lc 6: 6–11) é um típico exemplo de confronto a esse quadro. Jesus questionou o legalismo dos fariseus que estavam presos a um formato, a uma prática religiosa que colocava a Lei acima da vida. Ao olhar para o homem da mão ressequida, valorizando aquele indivíduo e sua necessidade específica, Jesus fez os fariseus repensarem sua postura. A experiência de vida dos fariseus era diferente da do homem que foi curado. E a conduta de Jesus nos sinaliza que Ele era contra a massificação, pois Seu trato com as pessoas era individualizado, a experiência de vida e as necessidades de cada um eram respeitadas, acolhidas e valorizadas. Diferentemente dos fariseus, Jesus não se impunha sobre aqueles(as) com quem Ele interagia ao longo do caminho.
A igreja em hipótese alguma pode ser um espaço de massificação de ideias ou de comportamentos. Cada experiência deve ser respeitada, sobretudo quando se trata de uma experiência de fé. Cada pessoa se relaciona com Deus e O experimenta de uma maneira específica e pessoal, pois é assim que Ele nos trata: chamando-nos pelo nome.
Também não podemos estabelecer padrões de comportamento a partir da experiência de determinada pessoa ou de poucas pessoas dentro da igreja. Aquilo que Deus faz na vida de um indivíduo em particular não pode ser estabelecido como padrão para o coletivo. Ou seja, aquilo que eu ou você vivemos com Deus não é regra para as outras pessoas. Cada um de nós tem uma realidade, vive em determinado contexto e se relaciona com Deus particularmente.
Ninguém pode dizer que Deus tem de agir na vida de outra pessoa desta ou daquela forma partindo exclusivamente da sua experiência pessoal. Deus age em Sua multiforme graça, pois é criativo e específico e não cabe dentro de padrões, experiências pessoais ou leis. Onde está o Espírito de Deus, ali há liberdade. O Senhor está em nosso meio e por isso somos livres para nos relacionarmos com Ele cada um à sua maneira.
Do amigo e pastor,
Rev. Tiago Valentin