Espírito adivinhador

”Então, Pau­lo, já indig­na­do, vol­tan­do-se, dis­se ao espí­ri­to: Em nome de Jesus Cris­to, eu te man­do: reti­ra-te dela. E ele, na mes­ma hora, saiu” (Atos 16.18)

Não são pou­cas as pes­so­as do meio evan­gé­li­co que têm bus­ca­do em
encon­tros e reu­niões uma reve­la­ção espe­ci­al vin­da de Deus para as
suas vidas. Alguns, enfren­tan­do pro­ble­mas de saú­de, outros difi­cul­da­des fami­li­a­res, outros pre­ci­san­do tomar uma deci­são… enfim, tudo fica­ria mais fácil se Deus usas­se alguém para dizer o que fazer, que deci­são tomar, e se vai dar tudo cer­to, lá na frente.

Tal inte­res­se, às vezes, é carac­te­rís­ti­ca de uma fé fra­gi­li­za­da, que não encon­trou nas Escri­tu­ras a sufi­ci­en­te ori­en­ta­ção divi­na. Mos­tra tam­bém alguém inca­paz de bus­car na ora­ção o con­for­to que acal­ma o cora­ção, inca­paz de encon­trar na igre­ja o apoio neces­sá­rio para o momen­to difí­cil, inca­paz de ouvir na pre­ga­ção a voz de Deus dizen­do que Ele é Sobe­ra­no e pode­ro­so sufi­ci­en­te para des­can­sar­mos Nele.

Apro­vei­tan­do-se des­sa bre­cha, o ini­mi­go tem se uti­li­za­do de pes­so­as com um espí­ri­to adi­vi­nha­dor. Nor­mal­men­te tra­ta-se de uma pala­vra “adi­vi­nha­tó­ria” sobre um acon­te­ci­men­to pas­sa­do, ou é a men­ção de uma doen­ça de alguém da pla­téia, ou é uma pro­mes­sa de cura (se o doen­te for cura­do todos se lem­bra­rão, mas se não for, aque­la pala­vra cai­rá no esque­ci­men­to), ou o adi­vi­nha­dor fala algo gené­ri­co que ser­vi­rá para mui­tos. Jamais é uma pala­vra pro­fé­ti­ca, com o poder e auto­ri­da­de de um Isaías, que come­ça­va suas exor­ta­ções dizen­do — “assim diz o Senhor”. Tam­bém não é uma pala­vra pro­fé­ti­ca nos mol­des neo­tes­ta­men­tá­ri­os que tinha o pro­pó­si­to de “edi­fi­car, exor­tar e con­so­lar” (1Co 14.3).

Numa recen­te entre­vis­ta um can­tor evan­gé­li­co diz tex­tu­al­men­te que casou-se após ouvir uma pala­vra “pro­fé­ti­ca”, que “aque­la” era a moça de sua vida. Ago­ra, após a sepa­ra­ção do casal depois de anos de angús­tia, ele reco­nhe­ce que foi enga­na­do por Sata­nás. Lem­bro-me de uma noi­te após o cul­to em minha igre­ja, um visi­tan­te colo­cou sua mão em meus ombros e dis­se-me que Deus havia lhe mos­tra­do um gran­de minis­té­rio que eu desen­vol­ve­ria em ter­ras estran­gei­ras. Pen­sei comi­go: “Puxa, Senhor, pen­sei que meu cha­ma­do e voca­ção fos­se para essa ter­ra tupi­ni­quim, e ago­ra terei de apren­der uma nova lín­gua?”. Duas déca­das se pas­sa­ram e a pala­vra ain­da não se cumpriu.

Em Atos 16 havia uma jovem “pos­ses­sa de espí­ri­to adi­vi­nha­dor”, a qual, adi­vi­nhan­do, dava gran­de lucro aos seus senho­res. Aque­la jovem pas­sou a seguir os após­to­los por vári­os dias e dizia: “Estes homens são ser­vos do Deus altís­si­mo e vos anun­ci­am o cami­nho da sal­va­ção” (At 16.17). Bata­ta! Acer­tou! Era isso mes­mo o que eles eram e fazi­am! Fico até ima­gi­nan­do se essa moça vives­se em nos­sos dias, o quan­to ela seria pro­cu­ra­da.… Mas não foi assim com Pau­lo. Embo­ra ele sou­bes­se que ela esta­va falan­do uma ver­da­de, não se dei­xou impressionar.

Pau­lo per­ce­beu “quem” esta­va por trás daqui­lo. Então, indig­na­do, vol­tan­do-se, dis­se ao espí­ri­to: “Em nome de Jesus Cris­to, eu te man­do: reti­ra-te dela” (At 16.18). Deus não com­pac­tua com outros espí­ri­tos. Na Igre­ja de Cris­to o úni­co espí­ri­to que pode atu­ar é o Espí­ri­to Santo.

No AT há a his­tó­ria da mulher suna­mi­ta que per­deu o seu filhi­nho. Ela cor­reu ao mon­te Car­me­lo para avis­tar-se com o pro­fe­ta Eli­seu. Ele, ao avis­tá-la ao lon­ge, envi­ou a Gea­zi para encon­trá-la no cami­nho e per­gun­tar-lhe: “vai tudo bem con­ti­go, com teu mari­do, com o meni­no?” E a suna­mi­ta res­pon­deu a Gea­zi: “tudo bem”. Ele, um pro­fe­ta de Deus, Eli­seu, não sabia o que havia acon­te­ci­do. Che­gan­do ela, porém ao mon­te, abra­çou-lhe os pés e cho­rou. Gea­zi ten­tou tirá-la, mas o homem de Deus lhe dis­se: “Deixa‑a por­que a sua alma está em amar­gu­ra, e o Senhor mo enco­briu e não mo mani­fes­tou” (2Rs4.27).

Os ver­da­dei­ros pro­fe­tas de Deus não tra­zem pala­vras adi­vi­nha­tó­ri­as. Pro­fe­tas de Deus falam o que o Senhor lhes dis­se. Por isso come­çam suas falas com “Assim diz o Senhor”. E qua­se sem­pre são pala­vras exor­ta­ti­vas, de repre­en­são, de pedi­do de mudan­ça, de arre­pen­di­men­to, do rei, do povo, da nação.

Que a Igre­ja de Cris­to seja mais bere­a­na e con­fir­me nas Escri­tu­ras se é de fato assim aqui­lo que foi fala­do. Que a Igre­ja de Cris­to não se dei­xe impres­si­o­nar por fal­sos “pro­fe­tas”, pois Jesus já nos adver­tiu que eles viri­am mesmo.

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

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