“E lhes enxugará dos olhos toda lágrima. E já não existirá mais morte, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que estava sentado no trono disse: ‘Eis que faço novas todas as coisas’. E acrescentou: ‘Escreva, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras’” (Apocalipse 21:4–5).
Estamos no último domingo e no último dia de 2023. Muitos de nós vivenciamos sonhos realizados e conquistas pessoais as mais diversas possíveis, mas para outros este foi um ano de prejuízos, despedidas, decepções e desesperança.
Quando lemos o livro de Apocalipse, nos deparamos com muitas imagens difíceis de compreender, promessas do fim e tantas outras informações que podemos até pensar que não existem mais motivos para prosseguir, que realmente tudo irá acabar e que não há razão para continuar a acreditar. No entanto, ao analisarmos as perspectivas dos escritos apocalípticos no Novo Testamento, constatamos que estão ligadas não ao fim do mundo, mas à esperança, pois oferecem uma visão de expectativa sobre o futuro e de redenção da criação.
Os textos apocalípticos muitas vezes destacam a importância da vigilância e da preparação para o evento escatológico. A escatologia se refere ao estudo das últimas coisas e pode ser entendida como as coisas que ocorrerão no final ou o propósito último para o qual tudo deve ser guiado. Em Apocalipse, é possível identificar diversas abordagens que influenciam a compreensão da esperança cristã, ou seja, a escatologia não estuda datas, fenômenos ou eventos para determinar o fim em si mesmo, mas busca trazer motivação diante de cenários de incertezas.
O movimento apocalíptico bíblico é cultural e religioso, pois retrata um contexto específico de uma comunidade oprimida em busca de esperança, utilizando símbolos e ideologias para codificar sua identidade e interpretação da realidade. Muitos textos apocalípticos oferecem uma visão que antevê a vitória final do bem sobre o mal, enfatizando a restauração cósmica, a justiça divina, a comunhão plena com Deus e a importância da preparação espiritual que transcende a mera expectativa do futuro, e não do final de tudo. Essas palavras devem nos proporcionar conforto e orientação quando destacam a promessa divina de redenção, proporcionando a renovação da nossa fé e da nossa esperança.
A esperança está vinculada à prontidão espiritual, encorajando os fiéis a viverem em consonância com os princípios éticos e morais diante de cenários desafiadores. Uma vez que essa esperança não é apenas um anseio vago, mas uma convicção fundamentada na promessa divina de salvação, redenção, justiça e renovação, esses textos oferecem conforto e orientação para os crentes diante das incertezas do seu tempo e de suas realidades.
O último sermão de John Wesley, que abordava tanto aspectos éticos quanto escatológicos, enfatizava a necessidade de uma espiritualidade prática que não se preocupasse tanto com especulações sobre o futuro, pois ele acreditava que o avivamento metodista era um sinal da concretização escatológica, e que os metodistas deveriam discernir os sinais e responder adequadamente a eles, opondo-se a visões escatológicas pessimistas que tentam adivinhar os detalhes do fim do mundo ou interpretar detalhes escatológicos.
Estamos diante do início de um novo tempo, e nossas conquistas, bem como nossas frustrações ou perdas, nos fazem pensar o que este ano que termina hoje significou para nós e tenta nos levar a projeções de um futuro melhor. Aqui está a beleza da esperança apocalíptica. No fim, percebemos que a presença de Deus e Seu cuidado durante todo este ano garantiram nossa chegada até aqui e, se chegamos com Ele até aqui, no próximo ano Ele também estará conosco e Seu cuidado também nos alcançará.
A promessa de Deus para nós é objetiva, e muito real: “E aquele que estava sentado no trono disse: ‘Eis que faço novas todas as coisas’. E acrescentou: ‘Escreva, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras’” (Ap. 21.5). Deus nos proporciona um novo ano, novas realidades, novas percepções e, principalmente, a renovação da nossa fé e da nossa esperança diante dos desafios que estão à nossa frente, sejam eles familiares, profissionais, ministeriais ou até mesmo relacionais. Deus nos oferece novas oportunidades pessoais, coletivas e comunitárias, a fim de que, permanecendo fieis às Suas palavras, possamos aguardar o tempo da Sua salvação, cuidado e justiça. Como metodistas, buscamos uma espiritualidade prática da nossa fé, procurando os sinais aos quais possamos responder e construindo nossa salvação pessoal, mas que não é individual, para transformação de muitas vidas.
Que neste novo ano, possamos permitir que Deus faça novas todas as coisas em nós e na nossa vida, para que venhamos a experimentar todas as novidades deste novo tempo. E que a nossa esperança seja renovada, a fim de que o cuidado de Deus conosco possa multiplicar o nosso cuidado para com aqueles que estão à nossa volta.
Um feliz Ano Novo, repleto de esperança!
Que Deus nos abençoe e nos fortaleça para Sua missão!
Seminarista Paulo Roberto L. Almeida Junior