Creio que um dos assuntos mais discutidos atualmente é a aprovação da redução da maioridade penal de 18 para 16 anos no Brasil. E, antes que eu seja xingada por me manifestar contra isso, informo que moro em São Paulo, a cidade mais populosa do Brasil, e o que não falta aqui são menores infratores por todos os lados.
No Congresso Nacional, a bancada evangélica, que satisfaz a opinião e a sede de sangue dos milhares de “em-vão-gélicos” que engordaram o Censo 2010 sobre religião em nosso país, batendo o total de 22 milhões de indivíduos, cada dia se mostra mais perversa e mascarada, projetando decisões que supostamente defendem a moral e os bons costumes, tão falados e tão pouco praticados dentro e fora da igreja. É realmente triste e preocupante ver que o que gera mais audiência em sites “gospel” e em redes sociais evangélicas são escândalos e assuntos relativos à moral – um festival de juízes que se julgam melhores do que os outros para mascarar a própria lepra.
Reduzir a maioridade penal? Vocês só podem estar de brincadeira! E ainda uma PEC ferozmente defendida por ditos evangélicos, que refletem mais Herodes do que Jesus.
Alguém poderia me dizer: “Em que mundo você vive? Olhe a violência em nosso país! Trombadinhas trazem perigo para nós, cometem crimes de adultos e devem ser punidos como tais”.
Eu concordaria com esse discurso, se o sistema carcerário brasileiro não fosse um depósito de pessoas jogadas ali como bichos, em que poucos têm dignidade física, moral, psicológica… De todos os países que reduziram a maioridade penal, nenhum deles apresentou redução na violência, por mais que os EUA discursem que é melhor corrigir um jovem do que um adulto.
Um jovem infrator só é consequência de uma sociedade que marginaliza, explora, não oferece base como educação e qualidade de vida para que ele não precise roubar. Não estou falando de crimes atrozes; isso é outra história. Estou falando de um país que tem quase 10% de analfabetos e cerca de 75% de analfabetos funcionais – aqueles que, ao lerem ou terem qualquer recepção de informação, só conseguem absorver no máximo 50% do conteúdo apresentado. Assim fica fácil manipular o povo e emburrecê-lo cada vez mais, oferecendo wi-fi no busão, em vez de livros, papel e caneta.
Um país que paga milhões para jogadores de futebol e para todo o sistema corrupto que envolve o esporte, mas diz não ter dinheiro suficiente para investir em educação. Um Congresso que prefere punir o futuro do país jogando adolescentes como bichos em celas, em vez de restaurá-los.
Para mim, o que importa é seguir a Jesus, que pagou um alto preço pelo pecador, oferece a ele cura e restauração e lhe diz “Vá e não peque mais!”. Jesus não nos condena pelos nossos pecados, mas pede nosso arrependimento e nos oferece consolo ao enfrentarmos as consequências.
Triste fica meu coração com cristãos no alto escalão do governo que usam a religião e não o amor de Jesus para justificar seus atos e mazelas. Isso só prova que de doutrina eles podem entender muito, mas de amor e justiça para com o próximo não entendem nada.
Será que teremos de chegar ao fundo do poço para que um dia nossa nação se reerga? Que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos capacite a sentir a miséria do nosso próximo.
Por Carla Stracke,
membro da Igreja Metodista em Itaberaba