Credulidade é a mãe de todo engano, superstição e crendice: ela nada questiona, não confronta com a Palavra, nem põe à prova a motivação dos que exalam odores sagrados. Nenhum cristão pode seguir algo simplesmente porque “dá certo”, nem porque lhe é agradável aos ouvidos, nem porque atrai multidões. Se não encontra respaldo na Palavra, o conteúdo é duvidoso.
A Palavra de Deus tem para os cristãos espalhados pelo mundo um caráter normativo, ou seja, é ela quem estabelece normas e padrões de fé. Podemos e somos incitados pelo Eterno a questionar tudo o que contraria os princípios bíblicos e o espírito das Escrituras. O propósito desta reflexão não é julgar pessoas, mas mostrar o quão divorciado da Palavra está a prática da igreja contemporânea. Como não sou crédulo, duvido de muitas coisas que tenho visto e ouvido. Por exemplo…
Duvido que se Pedro vivesse hoje ele teria a coragem de fazer algum programa radiofônico que prometesse cura e emprego a todos que pagassem um carnê ou enviassem dinheiro para manter o programa no ar.
Duvido que alguma vez tenha passado na mente de Paulo a idéia de reunir o povo de Corinto ou Éfeso para fazer uma marcha reivindicando aqueles territórios e terminando com um grande encontro reunindo os cônsules e governadores romanos da região.
Duvido que o povo de Jerusalém que dia a dia se convertia ao Senhor Jesus, alguma vez tenha imaginado, crido ou suspeitado que as rochas daquele local, a água do rio Jordão e o azeite de suas oliveiras eram sagrados ou possuíam em si poderes miraculosos.
Duvido que Paulo achasse sensato subir até o Areópago para pregar aos filósofos que ali se reuniam, e declarar bem alto que a partir daquele dia a idólatra cidade de “Atenas é do Senhor Jesus”.
Duvido que hoje Jesus se agradasse de templos suntuosos repletos de multidões cuja primeira necessidade [confessada pelos próprios participantes] não é adorar a Deus, confessar seus pecados, apresentar louvores ou buscar a salvação de suas vidas, mas em resolver os negócios de suas empresas.
Duvido que na Igreja Primitiva os louvores ocupassem quase todo o tempo de culto, e quando todos estivessem bem cansados, a palavra era passada a um apóstolo para uma breve mensagem.
Duvido que os chamados apóstolos do presente aceitassem viver com os parcos recursos que os apóstolos do passado possuíam, a ponto de diante de um mendigo que lhes pedia uma simples moeda, dizerem: “não possuo nem ouro nem prata” (At 3.6).
Duvido que o centurião romano aceitasse a sugestão de algum pastor moderno para levar uma peça de roupa dos enfermos de sua casa. Com certeza ele confessaria que “Jesus é o Senhor de tudo, sabe todas as coisas e não precisa de pontos-de-contato para expulsar a doença do corpo de alguém”.
Também não creio que os discípulos de Cristo confundissem salvação com prosperidade material, substituíssem as Escrituras por decretos, e abandonassem o antigo e bom Evangelho por novas visões e unções.
Pr. Daniel Rocha