“Porém o Senhor não estava no vento; depois do vento, um terremoto, mas o Senhor não estava no terremoto; depois do terremoto, um fogo, mas o Senhor não estava no fogo; e, depois do fogo, um cicio tranquilo e suave” (1 Rs 19:11–12).
“Escutar significa receber alguém dentro de nós.”
Sempre que nos deparamos com questões tão profundas quanto as expressas neste título, estamos de alguma forma mexendo com o que chamamos de fé. Embora as pessoas, em sua grande maioria, digam que são cheias de fé, embora confessem que vivem pela fé, na maior parte das vezes vivem pela alma, pela emoção e pelas sensações e impressões, o que é desastroso no dia a dia. Elas fazem do seu cotidiano uma verdadeira montanha russa, vivendo altos e baixos no mesmo dia, sensações de crer e de não crer, de acordo com a direção dos ventos.
Viver pela fé é não viver pela visão, pela emoção, pela sensação, pelas circunstâncias, por impressões, por alegrias ou por sucesso. Viver pela fé nos remete necessariamente a viver pela graça, cuidado e amparo de Deus. Questionar se Deus é justo, se está calado ou escondido é negar a fé e a confiança n’Ele.
Viver pela fé é ver o invisível, apesar de todas as visibilidades negativas. É subjugar a alma ao espírito. É sentir as águas invisíveis de um dilúvio de emoções nos afogando e, mesmo assim, tratá-las como miragem ou como truques da subjetividade frágil e impressionável da alma. É, no pior dia, poder dizer: “Tu és fiel, Senhor!”. É ver na morte, qualquer morte, apenas um portal para a Vida. É saber que nada pode nos separar do amor de Cristo: nem a vida, nem a morte, nem o pecado, nem o diabo, nem qualquer criatura e nem qualquer poder ou ambiente de mal.
O problema é que a alma é retardada. Ela é tarda para crer, como disse Jesus – “Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os profetas disseram!” (Lc 24:25). Muitas vezes, o espírito já viu a vitória, mas a alma ainda chora lutos de defuntos que já ressuscitaram. É a alma, ela é que nos faz duvidar do amor e da graça de Deus.
O espírito está pronto, mas a “carne” (alma, emoções, impressões) é fraca e sempre atrasada. E a razão é simples: a alma se alimenta do passado. Nossa falta de fé num Deus que age hoje, independentemente do nosso querer, pode nos separar da alegria vigente do amor de Deus, posto que a alma é retardada.
A maior parte das angústias humanas nada tem a ver com o hoje, mas com o ontem. Portanto, para que se viva pela fé, tem-se que deixar de ser movido pelo ontem – e até pelo hoje circunstancial – e aprender a viver no tempo que se chama hoje, o qual, mesmo no pior hoje, alimenta-se da Promessa de Deus: “Nada pode nos separar do Seu amor”.
Quem crê nisso ganha ou perde e não se impressiona. Chora lutos, mas não se sepulta junto. Lamenta perdas, mas não se faz perdido. Constata a realidade, porém, pela fé, a transcende.
A resposta às perguntas, eu certamente não as tenho. Cabe a você buscar, pela fé, a resposta que seu coração precisa nesta hora. Dizem que, quando Deus quer falar, não precisa do barulho das palavras. Ele fala nos acontecimentos, no silêncio da natureza. Fala como quer e do jeito que quer. Mas será que, quando Ele quer falar, estamos dispostos a ouvi-Lo? Eis a questão. Parece que, nos dias atuais, nossos ouvidos estão sempre ocupados. Escolhemos o que queremos ouvir, colocamos o fone nos ouvidos e esquecemos o mundo à nossa volta. O que sei é que Deus se faz justo a cada instante. Ele fala e cabe a nós escutá-Lo. Ele se mostra na brisa e cabe a nós percebê-Lo.
Sem. Lucas Gomes