Deixa Deus ser Deus em sua vida. Não o limite, não o subestime, não despreze Sua presença, não se aproxime Dele com pressa, não o trate como um comerciante do qual você se achega para pedir objetos de desejo.
Não limite o que Deus pode fazer, tendo por base sua própria finitude. Não leia os acontecimentos da vida só através de suas míopes retinas, nem permita que o sentimento de desesperança se transforme em fatalismo. Pára de se lamentar e deixa Deus ser Deus em sua vida.
Não permita que um pequeno problema se avolume de tal forma que ao acordar de madrugada ele já não caiba mais no seu quarto; pelo contrário, “em tudo sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica” (Fp 4.6–7), e deixa Deus ser Deus para você.
Não caia na tentação de ensimesmar-se, ou seja, voltar-se para dentro de si mesmo, escondendo-se numa névoa de fantasia para fugir da realidade. Muita coisa que está acontecendo neste mundo desagrada profundamente a Deus – e através da oração e da ação Ele espera que a gente transforme isso, numa parceria amiga. Ele já não nos chama servos, mas amigos que constroem juntos um mundo melhor. E deixa Deus ser Deus.
Não se apequene, sê inteiro em todas as coisas. Se estiver em casa, esteja inteiro para seus queridos. Se for à igreja, não se perca em pensamentos do cotidiano, mas se enleve na atmosfera de adoração; se viajou em descanso, não se lembre do trabalho que deixou para trás. Esteja sempre no lugar que você está.
Não despreze os pequenos sinais do amor divino. Uma borboleta voando à sua frente pode ser um deles, o carinho da pessoa amada também, a presença de um amigo idem. Lembre-se que Deus não grita, só sussurra. Ele não mostra a estrada inteira – só nos dá um vislumbre. O resto é pela fé. Vemos obscuramente mesmo, pois viver é o tempo todo aventura, um filme que não conhecemos antecipadamente o enredo, só o final.
Deixa Deus ser Deus, e pare de ficar pedindo a todo o momento provas de seu amor e cuidado. Ele pode dar sim, mas por vezes teremos de caminhar sozinhos, pela fé, e sem nenhuma certeza que estamos indo na direção certa (ah, as certezas – tem gente que precisa delas o tempo todo). Há períodos em nossa vida que Ele solta momentaneamente nossas mãos e diz – vai que Eu estou cuidando de ti.
Outras vezes Deus nos manda esperar. E esperar é muito mais difícil que andar. Se Deus nos mandar subir uma montanha carregando uma pedra, fazer um ritual, e deixar um sacrifício, faríamos sem pestanejar. Mas, esperar? Isso é horrível, precisamos sempre fazer algo! Deixar Deus ser Deus é também “não atrapalhar” a obra que Ele está fazendo. Quando Ele nos manda esperar a única coisa sensata a fazer é… esperar.
Deixar Deus ser Deus é também diferenciá-lo dos inúmeros “deuses” existentes no mundo. Você vai reconhecer simulacros de Deus naquelas mensagens eletrônicas que enchem nossas caixas de correio, repletas de imagens delicadas e frases do tipo: “pare por um momento…”, “respire fundo…”, “peça para o anjo…”, “escreva para 10 pessoas…”, “comece o seu dia fazendo…”. Trata-se de um “deus genérico” que serve todas as tribos, não pede obediência, não é um Deus pessoal, mas uma força cósmica, uma energia. É um deus “light” e bonzinho, ao contrário de IAVEH que não é bonzinho, mas bom, não é condescendente com o erro, mas justo, e abomina as preces de quem se recusa viver de acordo com a sua Palavra (Pv 28.9). O profeta Daniel viveu no berço esotérico da humanidade, a Babilônia, centro das artes mágicas, mas manteve sua fé no Único que era realmente Senhor sobre tudo.
Deixar Deus ser Deus é ir além da religião formal. Há mais, muito mais, para além dos cânticos, para além das performances tão valorizadas hoje nas igrejas.
Deus não é uma mercadoria exposta numa vitrine que todos vêem. Ao contrário, Deus é um Deus abscôndito (escondido) como nos revela o profeta Isaías. Mesmo Davi, que privava de intimidade com o Eterno, desabafou: “até quando ocultarás de mim o rosto?” (Sl 13.1). Afinal, “a glória de Deus é encobrir as coisas, mas a gloria dos reis é esquadrinhá-las” (Pv 25.2). Deus se agrada em “desaparecer” por alguns períodos e nos dizer: “por um breve momento te deixei…” (Is 54.7a), e aí vem o medo, a ansiedade, o vazio. Então, Ele olha para nós novamente e se compadece: “…mas com grandes misericórdias torno a acolher-te (Is 54.7b).
Faça um propósito hoje: deixa Deus ser Deus em sua vida… e não atrapalha.
Pr. Daniel Rocha