Crescer dói

E Jesus cres­cia em esta­tu­ra, gra­ça e sabedoria…”

Há um livro inte­res­san­te que aca­bou viran­do fil­me, cha­ma­do “O Tam­bor”, do ale­mão Gün­ter Grass. É a his­tó­ria de um meni­no tei­mo­so que recu­sa­va-se a cres­cer. Quan­do que­ria algu­ma coi­sa pega­va seu tam­bor e fica­va baten­do com um cabo de vas­sou­ra sobre ele até que alguém o aten­des­se. E já com ida­de adul­ta tinha a apa­rên­cia e o cor­po de uma criança.

Às vezes pen­so que é menos peno­so con­ti­nu­ar sen­do o que sem­pre fomos. Para que arris­car? Para que sair do por­to segu­ro e sin­grar por rios peri­go­sos e trai­ço­ei­ros, que não conhe­ce­mos bem? Para que sair do acon­che­go dos pen­sa­men­tos que tra­zem sos­se­go à alma, e aven­tu­rar-se por abis­mos e mon­tes escar­pa­dos? O sen­so comum diz que viver na pla­ní­cie é mais segu­ro que esca­lar as altas montanhas.

Há cris­tãos que gos­tam de viver nas pla­ní­ci­es – as mon­ta­nhas lhes dão ver­ti­gens. Há cris­tãos que recu­sam-se a sair da segu­ran­ça encon­tra­da nos limi­tes do ter­re­no em que ele man­tém con­tro­le, e sair fora des­sa área demar­ca­da na alma é ini­ma­gi­ná­vel para ele.

É o medo de “per­der” a iden­ti­da­de, é o medo do novo, o medo do não conhe­ci­do, é o medo do não-ser.

Cres­cer é “aban­do­nar” posi­ções con­for­tá­veis, é dei­xar o que é segu­ro, é come­çar a subir em dire­ção ao ar rare­fei­to dos altos montes.

Cres­cer é recu­sar a per­ma­ne­cer no con­quis­ta­do, é rom­per com o pas­sa­do, uma rup­tu­ra que vai levar a uma des­con­ti­nui­da­de da rota até então vivi­da. Cres­cer dói por­que nos leva a dar um pas­so quan­do que­ría­mos ficar para­dos. Os fari­seus foram inca­pa­zes de enten­der o que Jesus dizia e fazia por­que reu­sa­ram-se a dar o segun­do pas­sa­do, a andar a segun­da milha…

Todos os seres ani­mais e vege­tais e até mes­mo os mine­rais têm em si o poten­ci­al de cres­ci­men­to. Uma semen­te de laran­ja car­re­ga em si a poten­ci­a­li­da­de de um pé fron­do­so car­re­ga­do de fru­tos. Um pires com água e sal dei­xa­do por alguns dias come­ça a pro­du­zir peque­nos cris­tais de sódio. Todas as plan­tas cres­cem em dire­ção ao sol.

Creio que o cris­tão traz em si a capa­ci­da­de de cres­ci­men­to que o Espí­ri­to nos dá. Se não temos cres­ci­do deve­mos olhar o que tem impe­di­do esse pro­ces­so. Mui­to pro­va­vel­men­te desen­sol­ve­mos ape­gos à nos­sa for­ma de ser.

Pau­lo diz que ele plan­tou, Apo­lo regou, mas Deus é quem deu o cres­ci­men­to. Todo pai quer ver seu filho cres­cen­do. É o pro­ces­so natu­ral. Mas quan­do vemos, nas regiões sub­nu­tri­das de nos­so país, pes­so­as que não cres­cem devi­do ao nanis­mo – doen­ça cau­sa­da por sub­nu­tri­ção – logo, fica­mos ima­gi­nan­do que pode estar haven­do um “nanis­mo espi­ri­tu­al”, pro­vo­ca­do pela pou­ca ali­men­ta­ção ou por um dese­jo pró­prio de per­ma­ne­cer no mes­mo estágio.

Todos os auto­res bíbli­cos exal­ta­ram a pro­fun­di­da­de do conhe­ci­men­to e das mara­vi­lhas de Deus. É qua­se uma afron­ta, dian­te do Rei, ficar na super­fí­cie, viver de modo fútil, bri­gar por boba­gens, con­ten­tar-se com a mediocridade…

Anões espi­ri­tu­ais” recu­sam-se a que­brar para­dig­mas, a ir além do que foi dado. Não há cora­gem para invo­car a Deus e pedir-lhe para reve­lar-nos coi­sas novas e ocul­tas que não sabe­mos (Jr 33.3).

Cres­cer dói, mas sem cres­cer não há como alcan­çar a esta­tu­ra que Deus dese­ja para nós.

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el

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