Um dos episódios mais intrigantes do ministério terreno de Jesus é o seu silêncio diante dos sacerdotes quando Ele foi julgado pelo Sinédrio. Como todos sabemos, Jesus estava sendo julgado injustamente; aquela reunião não passava de uma armação arquitetada pelo sumo sacerdote e pelo poder romano. Sim, também sabemos que era necessário que a profecia se cumprisse, mas, olhando do ponto de vista histórico, o julgamento de Jesus jamais deveria ter acontecido.
Ao fazermos a leitura do texto bíblico, ficamos profundamente indignados e certamente pensamos: “Que injustiça, que grande mentira!”; “Jesus, fale alguma coisa! Reaja!”. Nosso desejo natural é de que a justiça seja feita e, se Jesus tivesse falado mais do que “tu o dizes”, talvez alguma coisa pudesse ter mudado.
Peço licença a vocês, leitor e leitora do Boin, para fazer um diálogo com o texto do Pr. Daniel Rocha, publicado na edição de domingo passado (5/2). Naquela reflexão, muito bem feita, como sempre, o Pr. Daniel nos propõe uma postura madura diante de fofocas. Segundo ele, a melhor atitude é simplesmente ignorar! De fato, assumir essa postura requer de nós maturidade, pois invariavelmente desejamos responder, queremos fazer justiça.
Mas o que o julgamento de Jesus nos ensina? De maneira bastante simplista, podemos dizer que Jesus também foi vítima de fofoca: “Ora, os principais sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam algum testemunho falso contra Jesus, a fim de o condenarem à morte” (Mt 26:59). Portanto, todos nós, vez ou outra, podemos ser vítimas dessa prática repugnante, covarde e maligna chamada fofoca.
Talvez alguém com o senso de justiça mais aguçado possa questionar: “Mas não fazer nada ou ignorar o que estão falando a meu respeito não é o mesmo que consentir com o que está sendo dito?”. Por isso, trago para nossa reflexão o provérbio que dá título a esta pastoral: “Contra fatos não há argumentos”. Apesar de usar expressões do universo jurídico, esse provérbio não se aplica a esse campo, pois, se há algo que um jurista deve saber fazer, e faz, é argumentar diante de fatos, ainda que estes sejam concretos.
O filósofo alemão Friedrich Nietzsche dizia que não há fatos eternos, assim como também não há verdades absolutas. Por isso, esse provérbio só se aplica para quem tem fé. Para os que acreditam que Jesus é o Filho de Deus, é um fato Jesus ser o Messias, é um fato Jesus ser Rei, é um fato Jesus ser capaz de mudar a história das pessoas. Talvez Jesus não tenha argumentado porque não havia o que argumentar diante de fatos. Tanto que a sentença contra Ele se deu em meio a tumulto, gritos, histeria e muitas mentiras. Nenhum argumento foi encontrado para contradizer o fato de que Jesus era o Cordeiro de Deus.
Talvez possamos ignorar completamente a atitude de pessoas presunçosas, estreitas de alma ou com baixa autoestima pelo simples motivo de que contra fatos não há argumentos. Jesus alerta Seus discípulos de que a árvore é conhecida pelos seus frutos – um limoeiro dá limões, isso é um fato. Nossos frutos devem falar mais do que argumentos.
Além disso, não há fato mais incontestável do que a opinião de Deus a nosso respeito. As pessoas podem falar o que quiserem, pois, no fim, o que mais importa, o que realmente tem valor é o que Deus fala sobre nós. Para quem tem fé, uma carroça vazia é, de fato, uma carroça vazia!
Do amigo e pastor,
Rev. Tiago Valentin