Conforme abordamos na edição passada do Boin (19/3), há quem tenha muito carisma, mas pouco ou nenhum caráter. Entretanto, há pessoas com caráter que também são muito carismáticas.
Na lógica do Reino de Deus, a essência é sempre mais importante do que a forma, diferentemente do que vivemos na sociedade contemporânea. Sobretudo com o advento das redes sociais, na última década, nós acompanhamos e alguns participam ativamente do apogeu da estética em detrimento da ética. Se, no Reino de Deus, as pessoas são definidas pelos valores e princípios que pregam e praticam, nas redes sociais o valor de cada um está na superexposição a que se submete, no filtro que usa em suas fotos e no volume patológico de autoendeusamento.
Longe de insinuar que quem faz uso das redes sociais não tem caráter, entendo que o grande perigo e o maior problema é quando o caráter das pessoas é medido pela forma como elas se expõem na rede. Caráter é algo que se percebe, se avalia e se conhece na caminhada juntos, no dia a dia, no convívio real e concreto, sem filtros.
Na vida religiosa, dizemos que uma pessoa ou uma igreja é carismática quando expressa, de forma visível e audível, os dons do Espírito Santo. Ao mesmo tempo, cremos que pessoas ou igrejas sem essas características não são carismáticas. Entretanto, de acordo com a Palavra de Deus, toda igreja que confessa Jesus Cristo como único Senhor e Salvador e O adora em espírito e em verdade é carismática.
Por que afirmamos isso? Porque “carisma”, palavra que vem do grego (charisma — χαρισματων — khar’-is-mah), significa “dom”, “um dom da graça”, “um dom gratuito”. Os “dons” ou “carismas” são derramados nas igrejas cristãs por Jesus Cristo, mediante o Espírito Santo. Logo, toda igreja que se reúne em Seu nome é resultado da “graça” ou do “carisma” que Deus concede.
Por isso, podemos afirmar, com toda certeza, que Jesus conseguia, ao mesmo tempo, ter caráter e ser carismático. Ele não tentava transmitir às pessoas uma imagem agradável e positiva almejando a aprovação delas. Ele simplesmente era quem de fato era: um homem com princípios, simples, sincero, íntegro, justo, forte e sensível. Já o carisma de Jesus não significava exata e exclusivamente que Ele era simpático, agradável, descontraído e atraente, ainda que muitas vezes apresentasse tais características. Seu carisma era fruto da ação graciosa do Pai em Sua vida e por meio dela.
O que nós precisamos, dentro e fora da igreja, é de indivíduos semelhantes a Jesus, ou seja, pessoas que tenham caráter, antes de qualquer coisa, que sejam íntegras, coerentes, constantes e, principalmente, que zelem pela verdade e a amem.
O caráter de Jesus se misturava com Seu carisma, pois ambos eram frutos da presença do Espírito Santo em Sua vida. Pessoas como Jesus, com caráter e carisma, são naturalmente agradáveis, felizes, atraentes, simpáticas e persuasivas. São indivíduos com os quais temos o prazer de conviver e nos quais conseguimos confiar e seguir. Ainda que tais pessoas não falem tão bem nem sejam tão convincentes e articuladas, sabemos que suas intenções são verdadeiras, pois, acima de sua aparência, há uma essência verdadeira.
Do amigo e pastor,
Rev. Tiago Valentin