“Portanto, não vos entristeçais; porque a alegria do Senhor é a vossa força” (Neemias 8:10b).
No cristianismo, há duas relações diretas que afetam grandemente a nossa vida, caso tenhamos o devido conhecimento delas para as usarmos de forma correta e a nosso favor. Que relações são essas?
Estou falando das relações entre alegria e força e entre tristeza e fraqueza, tão presentes nestes dias. A quarentena pela pandemia exacerbou tais relações em nós, fazendo aflorar ainda mais nossos sentimentos e trazendo nossas emoções à flor da pele. Assim, podemos dizer que alegria é igual a força e tristeza é igual a fraqueza.
Alguns podem ter certa dificuldade em entender a necessidade vital que as pessoas têm de conviver em espaços terapêuticos e geradores de felicidade, e de proteger e multiplicar a alegria. Muitos constantemente questionam: “Como ficar alegre diante de tantas coisas ruins? Como posso me alegrar se as coisas não estão indo bem para mim?”.
A resposta nós a encontramos no texto de Neemias, quando ele nos fala de alegria. A alegria nos anima, tem o poder de modificar qualquer ambiente e é como uma energia que nos mobiliza e nos dá forças em tempos difíceis ou nos dias em que as coisas não estão boas. Em meio às muitas quarentenas impostas pela vida, quando as coisas fogem do nosso controle, precisamos despender muito mais energia para contornar, controlar e vencer as situações adversas.
Vivemos num mundo em que a energia é a fonte de todo movimento. Os corpos precisam de energia, as plantas precisam de energia, os aparelhos todos precisam de energia, os veículos precisam de energia, tudo, absolutamente tudo precisa de energia. Quando a energia começa a acabar, é preciso renová-la. Basta então uma nova conexão com alguma fonte de energia para que nosso corpo consiga desempenhar plenamente suas funções e os aparelhos que utilizamos possam cumprir os propósitos para os quais foram desenvolvidos. Essa fonte de energia é também conhecida como fonte de força. “O Senhor é a minha luz e a minha salvação; a quem temerei? O Senhor é o meu forte refúgio; de quem terei medo? Pois, no dia da adversidade, ele me guardará protegido em sua habitação; no seu tabernáculo, me esconderá e me porá em segurança sobre um rochedo” (Sl 27:1 e 5).
Sei que exercitar isso, ou seja, alegrar-se em momentos mais complicados, parece não ser uma coisa natural e por vezes pode até parecer loucura. Isso é uma verdade. Não é nada natural! Alegrar-se em momentos adversos é algo completamente espiritual e, por esse motivo, nossa mente natural não consegue compreender tal atitude. É como diz o apóstolo Paulo: “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14).
A alegria é algo gerado diretamente pelo Espírito de Deus no nosso espírito; por isso está escrito: “A alegria do Senhor é a vossa força” (Ne 8:10). Porque ela vem diretamente de Deus para nós. Um coração alegre é mais forte, mais preparado para enfrentar os desafios da vida. Mesmo que passemos momentos difíceis, podemos experimentar a alegria maravilhosa de Deus.
É impossível não sentir alegria quando olhamos para o grande e perfeito amor que Deus tem por nós. Ao pensarmos naquilo que Jesus conquistou na cruz por nós, uma alegria única nasce no nosso coração. A mais pura energia do amor vem de Deus! E a alegria é um fruto do espírito que nos faz permanecer firmes, mesmo em meio ao caos. A alegria é divina; é um sentimento que devemos ativar no espírito, e não nas circunstâncias; é um ato movido pela fé em Deus.
Se você ainda acha que a alegria é algo unicamente físico, mude esse conceito. A alegria é algo espiritual, é parte do fruto do Espírito: “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria…” (Gl 5:22). Então, se você deseja ter mais força para enfrentar as adversidades da vida, precisa exercitar o “mecanismo” de se alegrar, mesmo que aparentemente não existam motivos para isso. Na verdade, o maior motivo é o fato de que precisamos de força para vencer os desafios e obstáculos. “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, pois eu venci o mundo” (Jo 16:33).
Ter alegria gera bom ânimo, que é a nossa força, a nossa energia, que nos dá disposição para agir, traçar nossas metas, lutar pela realização dos nossos sonhos e o cumprimento da nossa missão, e também ajudar o próximo. Veja que tudo depende de disposição, de se posicionar diante de qualquer situação com fé e convicção na ação de Deus por meio de nós. Em Marcos 11:23, temos um exemplo do que Deus espera de nós em meio às quarentenas da vida. Jesus diz aos discípulos que falem ao monte, e esse é o primeiro movimento. Depois Ele lhes diz para não duvidarem no coração, e esse é o segundo movimento. O terceiro movimento é crer. Alegria também é posicionamento. Se deixarmos a alegria de lado, seremos como aqueles aparelhos que perderam a energia, ou seja, deixaremos de realizar aquilo para que Cristo nos projetou.
Sendo assim, um cristão nunca fica triste? Pelo contrário, na vida há momentos de tristeza e contemplação; há momentos em que pensamos em olhar para trás. Mas, como está escrito, “há tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar” (Ec 3:4). Transgredir esses momentos é sinal de tolice. Um cristão cheio do Espírito identifica esses tempos e os respeita. Geralmente, tempos de aflição acontecem por algo muito pontual e, na maior parte da vida de um cristão, a alegria está presente, mesmo com todas as batalhas.
Devemos compreender que a alegria é um fruto espiritual que possuímos e, como tal, deve ser protegido e multiplicado em nós mesmos e também nos que estiverem ao nosso redor. Quanto mais alegria desenvolvermos, mais energia, mais força, mais disposição e mais vitórias alcançaremos. O momento de se alegrar é em meio às adversidades. “Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30:5b).
Em meio a essa pandemia, quando você perceber que sua energia está acabando, quando as forças e a paciência estiverem se esgotando, lembre-se: “Alegrai-vos sempre no Senhor; outra vez vos digo, alegrai-vos” (Fp 4:4).
Por Dilson Júlio da Silva,
teólogo e membro da Igreja Metodista em Itaberaba