Vaidade, tudo é vaidade

Há uma vai­da­de arrai­ga­da den­tro de cada ser huma­no, e são pou­cos esca­pam de sua devas­ta­do­ra ação. Às vezes ela apa­re­ce de for­ma vela­da, às vezes expli­ci­ta­men­te, mas sem­pre aparece.

A Igre­ja de Cris­to tem sido pal­co de inú­me­ras mani­fes­ta­ções da vai­da­de huma­na. Até mes­mo peque­nos ges­tos ou pala­vras podem tra­zer escon­di­do em seu bojo uma pon­ti­nha de orgu­lho. Freqüen­te­men­te nos­sos pedi­dos de “mais poder” que faze­mos a Deus esca­mo­tei­am um dese­jo secre­to e não con­fes­so — o de ser mai­or. Tal­vez por isso seja tão raro pedir­mos em ora­ção: “Senhor, dá-me sim­pli­ci­da­de, dá-me man­si­dão, tor­na-me mais humilde”.

Nem mes­mo entre os dis­cí­pu­los essa vai­da­de este­ve ausen­te, e pelo menos em duas opor­tu­ni­da­des (Lc 9.46 e Lc 22.24), levan­tou-se uma gra­ve dis­cus­são entre eles: “qual seria o maior?”

Não é inte­res­san­te que o mode­lo espi­ri­tu­al que temos hoje enfa­ti­za sem­pre as mes­mas coi­sas: suces­so, poder, gran­di­o­si­da­de e abun­dân­cia? Não é inte­res­san­te que o cris­tão hoje tem de “pro­var” que é de fato aben­ço­a­do, mos­tran­do algo que Deus lhe con­ce­deu? Já nota­ram que a espi­ri­tu­a­li­da­de bus­ca­da hoje trans­for­ma a pes­soa num “bom reli­gi­o­so” mas nem sem­pre num ami­go com­pre­en­si­vo? Num fer­vo­ro­so ora­dor, mas que não con­se­gue ouvir ninguém?

Por que acon­te­ce isso? É que por um lado a fé está divor­ci­a­da da vida, e por outro lado, a vai­da­de mani­fes­ta­da no dese­jo de ser “mai­or” aca­bou des­truin­do a sim­pli­ci­da­de que todo cren­te deve ter. Jesus dei­xa cla­ro: “Entre vós não seja assim; pelo con­trá­rio, o mai­or entre vós seja como o menor” (Lc 22.26);

Só quem é sim­ples pode apren­der coi­sas novas. Quem é o mai­or não pre­ci­sa apren­der, ele já sabe. Só quem é sim­ples bus­ca des­co­brir na Pala­vra e na ora­ção a von­ta­de de Deus para sua vida. Quem é o mai­or não pre­ci­sa bus­car, Deus já lhe “reve­lou” tudo.

Creio que che­gou a hora do povo cha­ma­do evan­gé­li­co bus­car uma espi­ri­tu­a­li­da­de cen­tra­da na sim­pli­ci­da­de. Que cada homem e mulher cris­tãos pos­sam dizer: “Senhor, não que­ro ser gran­de no Seu Rei­no, na ver­da­de que­ro dizer como João Batis­ta: que o Senhor cres­ça e eu dimi­nua. Não que­ro títu­lo algum — nem pas­tor, nem bis­po, mui­to menos “após­to­lo” (que é hoje uma for­ma de dis­tin­ção ímpar); bas­ta-me ser cha­ma­do ser­vo. Tam­bém não que­ro me escon­der atrás de uma espi­ri­tu­a­li­da­de que não vem de Ti, achan­do-me supe­ri­or ou mais espi­ri­tu­al, por­que a ver­da­dei­ra espi­ri­tu­a­li­da­de é man­sa, é sim­ples, é ale­gre. Senhor, aju­da-me a não bus­car aplau­sos, mas a Tua apro­va­ção. Que­ro ser o menor dos teus ser­vos. Que­ro ser sim­ples. Que­ro brin­car e dar gar­ga­lha­das. Que­ro per­do­ar e esque­cer o que me fizeram.

Há um peque­no sal­mo na Bíblia que resu­me bem a espi­ri­tu­a­li­da­de de Davi: “Não ando à pro­cu­ra de gran­des coi­sas, nem de cou­sas mara­vi­lho­sas demais para mim, pelo con­trá­rio, fiz calar e sos­se­gar a minha alma” (Sl 131.1–2).

Matu­ri­da­de é aque­la fase da vida cris­tã de quem aban­do­nou toda a ambi­ção, dei­xou a vai­da­de e des­piu-se intei­ra­men­te de qual­quer ten­ta­ti­va de ser mai­or. Bas­ta-lhe a simplicidade.

Pr. Daniel Rocha

Pr. Dani­el Rocha

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