Há algum tempo, li um texto em que o teólogo brasileiro Leonardo Boff falava sobre um breve diálogo que teve com o Dalai Lama, líder espiritual do budismo tibetano, num encontro em Berlim. O teólogo relata o seguinte: “No intervalo de uma mesa-redonda sobre religião e paz entre os povos, de que participava com o Dalai Lama, eu, maliciosamente, mas também com interesse teológico, perguntei-lhe em meu inglês capenga: ‘Santidade, qual é a melhor religião?’. “Eu esperava que ele dissesse: ‘É o budismo tibetano’ ou ‘São as religiões orientais, muito mais antigas do que o cristianismo’. “O Dalai Lama fez uma pequena pausa, deu um sorriso, me olhou bem nos olhos – o que me desconcertou um pouco, porque eu sabia da malícia contida na pergunta – e afirmou: ‘A melhor religião é aquela que mais te aproxima de Deus, do Infinito. É aquela que te faz melhor’. “Para sair da perplexidade diante de tão sábia resposta, voltei a perguntar: ‘E o que me faz melhor?’. “O Dalai Lama respondeu: ‘É aquilo que te faz mais compassivo!’. “Aqui eu senti a ressonância tibetana, budista, taoísta de sua resposta. ‘É aquilo que te faz mais sensível, mais desapegado, mais amoroso, mais humanitário, mais responsável… mais ético… A religião que conseguir fazer isso de ti é a melhor religião’. “Calei-me, maravilhado, e até os dias de hoje estou ruminando sua resposta sábia e irrefutável.” Talvez você comente comigo: “Ainda não entendi qual é a verdadeira religião”. E eu te respondo: “A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo” (Tg 1:27). De acordo com o apóstolo Tiago, nossa religião imaculada é o amor com o qual cuidamos daqueles que precisam da nossa atenção, quer sejam órfãos, quer sejam viúvas, quer sejam samaritanos no meio do caminho. Sabemos que Jesus Cristo não veio instituir uma religião, e sim edificar uma igreja-família. Porém, os exemplos que Ele nos deixou fazem de nós cristãos! E hoje muitas pessoas querem o nosso Cristo, mas não querem o nosso cristianismo, pois muitos cristãos valorizam mais as instituições religiosas construídas por homens e mulheres, cheios de preconceitos e conceitos, do que os próprios exemplos de Jesus Cristo. Talvez você deva estar se perguntando: “Então não devo mais seguir a minha religião ou a ir à minha igreja?”. E eu te respondo: onde Cristo está, é ali que você deve estar também! Lembremos que Cristo não é apenas um ser humano da Palestina conhecido como Jesus de Nazaré. A verdade é que, hoje, Cristo é o coletivo de pessoas que possuem uma nova natureza e um espírito recriado à imagem do Senhor. “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18–20).
